segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Oraçao de Santa Gema


Eis-me aqui prostrada aos vossos Pés Santíssimos, oh meu querido Jesus, para manifestar-vos em cada instante meu reconhecimento e gratidão por tantos e tão contínuos favores que me tendes dado e que ainda quereis me conceder. Quantas vezes Vos tenho invocado, Oh Jesus! Tu tens me deixado sempre contente, recorri muitas vezes a Vós e sempre me tens consolado. Como poderei expressar meus sentimentos a Vós oh amado Jesus?
Eu te agradeço, mas outra graça quero de Vós oh, meu Deus! Se é de Vossa vontade…
(manifesta-se a graça que se deseja alcançar)
Se não fosseis Todo poderoso não faria essa súplica.
Oh Jesus tende piedade de mim. Faça-se contudo a Vossa Santíssima Vontade.
Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.
Amém.”
(Com licença eclesiástica)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.
Queridos irmãos e irmãs!

O sacerdócio do Novo Testamento está intimamente ligado à Eucaristia. Hoje, Solenidade de Corpus Christi e próximos do fim do Ano Sacerdotal, somos convidados a meditar sobre a relação entre a Eucaristia e o sacerdócio de Cristo. … Ela é a alegria da comunidade, a alegria de toda a Igreja, que, contemplando e adorando o Santíssimo Sacramento, reconhece a presença real e permanente de Jesus, o eterno Sumo Sacerdote.



A primeira coisa que deve sempre ser tida em mente é que Jesus não foi um sacerdote conforme a tradição judaica. Sua família não era sacerdotal. Ele não pertencia aos descendentes de Aarão, mas de Judá, e, portanto, estava excluído do sacerdócio. A pessoa e a atividade de Jesus de Nazaré não se encontram no modo dos antigos sacerdotes, mas sim no dos profetas – e nesta linha, distanciou-se de uma concepção ritual de religião, criticando a abordagem que dava mais valor aos preceitos humanos ligados à pureza ritual do que à observância dos mandamentos de Deus, isto é, àquele amor a Deus e ao próximo que “vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios” (Marcos 12:33).

Mesmo dentro do Templo de Jerusalém, lugar sagrado por excelência, Jesus cumpriu um gesto puramente profético quando expulsa os cambistas e vendedores de animais, coisas que eram usadas para os tradicionais oferecimentos de sacrifícios. Portanto, Jesus não é reconhecido como um Messias sacerdotal, mas profético e real. Mesmo sua morte, que os cristãos corretamente chamam “sacrifício”, não tem nada dos antigos sacrifícios. Na realidade, foi o oposto: uma morte das mais infamantes, por crucifixão, que ocorreu fora dos muros de Jerusalém.

Em que sentido, então, Jesus é um sacerdote? A Eucaristia nos dá a resposta precisa. Podemos começar, novamente, daquelas palavras simples que descrevem Melquisedec: “Ele ofereceu pão e vinho” (Gênesis 14:18). É o que fez Jesus na última ceia: ofereceu pão e vinho, e neste gesto resumiu a Si mesmo e toda sua missão. Naquele ato, na oração que o precede e nas palavras que o acompanham, está todo o sentido do mistério de Cristo, como a Epístola aos Hebreus expressa em um passo decisivo que deve ser mencionado: “Nos dias de Sua vida terrena,” escreve o autor referindo-se a Jesus, “Ele ofereceu orações e súplicas, com fortes gritos e lágrimas a Deus que poderia salvá-Lo da morte, e, por causa de seu completo abandono a Deus, Suas orações foram ouvidas e respondidas. Embora ele fosse filho, aprendeu a obediência daquilo que sofreu e foi designado por Deus para ser sacerdote da ordem de Melquisedec”(5.8 to 10). Neste texto, que claramente alude à agonia espiritual do Getsemani, a paixão de Cristo é apresentada como uma oração e uma oferta. Jesus encara Sua “hora”, que leva à morte em uma cruz, imerso em profunda oração, que consiste na união de Sua própria vontade com o Pai. Esta vontade dupla e única é uma vontade de amor. Vivida nesta oração, a trágica prova que Jesus enfrenta é transformada em oferta, um sacrifício vivo.

A Carta aos Hebreus diz que Jesus “foi ouvido”. Em que sentido? No sentido que Deus Pai O libertou da morte e O ressuscitou. Foi ouvido precisamente por causa de Seu completo abandono à vontade do Pai: o plano de amor de Deus pôde perfeitamente ser cumprido em Jesus, que, tendo obedecido mesmo até a morte numa cruz, tornou-se “causa de salvação” a todos aqueles que Lhe obedecem. Ele se torna o Sumo Sacerdote, tendo tomado sobre Si todos os pecados do mundo, como o “Cordeiro de Deus”. É o Pai que dá este sacerdócio a Ele no próprio momento em que Jesus atravessa a passagem de sua morte e ressurreição. Não é um sacerdócio segundo a ordem da Lei Mosaica (cf. Lev. 8-9), mas “segundo a ordem de Melquisedec” – segundo uma ordem profética, dependente apenas de seu relacionamento singular com Deus.

Retornemos à expressão da Carta aos Hebreus que diz: “Sendo filho, aprendeu a obediência daquilo que sofreu”. O sacerdócio de Cristo envolve sofrimento. Jesus realmente sofreu, e assim o fez por nós. Ele era o Filho e não precisava aprender a obediência a Deus, mas nós precisamos: nós sempre precisamos e sempre precisaremos.

Por esta razão, o Filho assumiu nossa humanidade e Se permitiu ser “educado” na prova do sofrimento, permitiu-Se ser transformado por ele, como o grão trigo que, a fim de dar frutos, deve morrer no solo. Através deste processo, Jesus foi “feito perfeito”, em grego teleiotheis. Devemos nos deter sobre este termo porque ele é muito significante. Ele mostra a culminação de uma jornada, que é precisamente o caminho de educação e transformação do Filho de Deus mediante o sofrimento, mediante uma dolorosa paixão. É graças a esta transformação que Jesus Cristo tornou-Se “sumo sacerdote” e pôde salvar a todos que Nele confiarem. O termo teleiotheis, corretamente traduzido como “feito perfeito”, pertence a uma raiz verbal que, na versão grega do Pentateuco, i.e., os cinco primeiros livros da Bíblia, é sempre usada para indicar a consagração dos sacerdotes antigos. Esta descoberta é muito importante porque ela nos conta que a paixão foi para Jesus como que uma consagração sacerdotal. Ele não era um sacerdote segundo a Lei, mas tornou-Se um sacerdote existencialmente em Sua páscoa de paixão, morte e ressurreição: oferecendo-Se em expiação – e o Pai, exaltando-O sobre todas as criaturas, constituindo-O Mediador universal da salvação.


Retornamos agora, em nossa meditação, à Eucaristia, que logo estará no centro de nossa assembléia litúrgica e posterior procissão solene. Nela, Jesus antecipou seu sacrifício, não um sacrifício ritual, mas um sacrifício pessoal. Jesus, na Última Ceia, age movido por seu “espírito eterno” com o qual Ele depois oferecerá a Si mesmo na Cruz (cf. Heb. 9:14). Dando graças e louvando, Jesus transforma o pão e vinho. É o amor Divino que transforma: o amor com o qual Jesus aceita em antecipação o ato de dar-Se inteiramente a nós. Este amor não mais do que o Espírito Santo, que Espírito do Pai e do Filho, que consagra o pão e o vinho e muda sua substância no Corpo e Sangue do Senhor, tornando presente no Sacramento o mesmo sacrifício que ocorre cruelmente na Cruz.

Podemos, portanto, concluir que Cristo é o sacerdote verdadeiro e eficaz, porque é cheio da força do Espírito Santo, cheio da plenitude do amor de Deus, e isso, precisamente “na noite em que foi traído”, precisamente na “hora da escuridão” (cf. Lc 22:53). É esse poder divino, o mesmo poder que realizou a Encarnação do Verbo, que transforma a violência extrema e a injustiça extrema em um supremo ato de amor e justiça.

Este é o trabalho do sacerdócio de Cristo, que a Igreja herdou e carregou através da história, na forma dupla do sacerdócio comum dos batizados e aquele dos ministros ordenados, a fim de transformar o mundo com o amor de Deus. Todos, padres e igualmente leigos, são alimentados pela mesma Eucaristia, nós todos nos prostramos em adoração, pois na Eucaristia está presente nosso Mestre e Senhor, o verdadeiro Corpo de Cristo, Sacerdote e Vítima, a Salvação do mundo.

Vinde, exultemos com hinos de alegria! Vinde, adoremos a Ele! Amém.

Bento XVI

Homilia da Missa de Corpus Christi

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Secularização e secularismo


Fonte: http://www.cantalamessa.org/pt/predicheView.php?id=389

“A VIDA ETERNA QUE A VÓS ANUNCIAMOS” (1 Jo 1,2)

1. Secularização e secularismo

Nesta meditação, veremos o segundo obstáculo que a evangelização no mundo ocidental moderno encontra: a secularização. No Motu Proprio com o qual o Papa criou o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, é dito que este “está a serviço das Igrejas particulares, especialmente naqueles territórios de antiga tradição cristã onde se manifesta mais claramente o fenômeno da secularização”.

A secularização é um fenômeno complexo e ambivalente. Pode significar a autonomia das realidades terrenas e a separação entre o reino de Deus e o reino de César e, neste sentido, não só não é contra o Evangelho, mas encontra nele uma de suas raízes profundas. Pode, no entanto, indicar também todo um conjunto de atitudes contrárias à religião e à fé, pelo qual é preferível usar o termo secularismo. O secularismo está para secularização assim como o cientificismo para a ciência e o racionalismo à racionalidade.

Cuidando dos obstáculos ou desafios que a fé encontra no mundo moderno, referimo-nos exclusivamente a este sentido negativo da secularização. Mesmo assim delimitada, no entanto, a secularização tem muitas faces, dependendo dos campos em que se manifesta: a teologia, ciência, ética, a hermenêutica bíblica, a cultura em geral, a vida cotidiana. Nesta meditação, tomo o termo em seu primordial. A secularização, como o secularismo, na verdade, derivam da palavra saeculum, que no uso comum termina por indicar o tempo presente (aeon atual, segundo a Bíblia), por oposição à eternidade (aeon futuro, “séculos dos séculos”, da Bíblia. NT: um período de tempo extremamente longo e indefinido). Nesse sentido, o secularismo é sinônimo de temporalidade, de redução do real somente à dimensão terrena.

A queda do horizonte da eternidade ou da vida eterna tem, sobre a fé cristã, o mesmo efeito que a areia jogada sobre uma chama: a sufoca, a apaga. A crença na vida eterna é uma das condições de possibilidade da evangelização. “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão”. (1 Coríntios 15,19).

2. A ascensão e a queda da idéia de eternidade

Recordemos brevemente a história da crença na vida após a morte, vai nos ajudar a medir a novidade trazida pelo Evangelho neste campo. Na religião hebraica do Antigo Testamento, essa crença se afirma tardiamente. Somente depois do exílio, diante do fracasso das expectativas temporais, nasce a ideia da ressurreição da carne e de uma recompensa após a morte para os justos, e ainda assim não todos a adotam (os saduceus, como sabemos, não partilham tal crença).

Isso desmente clamorosamente a tese daqueles (Feuerbach, Marx, Freud) que explicam a crença em Deus com o desejo de uma recompensa eterna, como projeção no além de expectativas temporais frustradas. Israel acreditou em Deus, muitos séculos antes do que em uma recompensa eterna no além! Não é, portanto, o desejo de uma recompensa eterna que produziu a fé em Deus, mas é a fé que produziu a crença em uma recompensa pós morte.

No mundo bíblico, temos a plena revelação da vida eterna com a vinda de Cristo. Jesus não estabelece a certeza da vida eterna sobre a natureza do homem, a imortalidade da alma, mas sobre “o poder de Deus”, que é um “Deus não de mortos, mas de vivos” (Lc 20, 38). Depois da Páscoa, a este fundamento teológico, os apóstolos acrescentarão o cristológico: a ressurreição de Cristo dentre os mortos. Nela, o Apóstolo fundou a fé na ressurreição da carne e na vida eterna: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1 Cor 15, 12.20).

Também no mundo greco-romano assiste-se a uma evolução na concepção de vida após a morte. A mais antiga ideia é a de que a verdadeira vida termina com a morte; depois dessa existe somente um simulacro de vida, num mundo de sombras. Uma novidade se registra com o aparecimento religião órfico-pitagórica. De acordo com ela, o verdadeiro eu do homem é a alma, que, libertada da prisão (sema) do corpo (soma), pode finalmente viver sua verdadeira vida. Platão dará uma dignidade filosófica a esta descoberta, baseando-a na natureza espiritual e, portanto, imortal, da alma [1].

Essa crença permanecerá, no entanto, sendo minoritária, reservada aos iniciados nos mistérios e aos seguidores de escolas filosóficas especiais. Para a massa, persistirá a antiga crença de que a vida real termina com a morte. São conhecidas as palavras que o imperador Adriano dirigi a si próprio próximo de morrer:

“Pequena alma, alma terna e inconstante,
companheira do meu corpo, de que foste hóspede,
vais descer àqueles lugares pálidos,
duros e nus, onde deverás renunciar aos jogos de outrora.
Por um momento, contemplemos juntos ainda os lugares familiares,
os objetos que certamente nunca mais veremos…” [2].

Entende-se neste contexto o impacto que devia ter a mensagem cristã de vida após a morte infinitamente mais plena e mais alegre do que a da terra; também podemos entender por que a ideia e os símbolos da vida eterna são tão comuns nas sepultura cristãs das catacumbas romanas.

Mas o que aconteceu à ideia cristã de uma vida eterna para a alma e para o corpo depois de ter triunfado sobre a ideia pagã de “escuridão além da morte”? Ao contrário do momento atual, no qual o ateísmo é primariamente expresso na negação da existência de um Criador, no século XIX, ele se expressava na negação da vida após a morte. Acolhendo a afirmação de Hegel, segundo a qual “os cristãos desperdiçam no céu a energia destinada à terra”, Feuerbach e principalmente Marx combateram a crença na vida após a morte, sob o pretexto de que aliena o compromisso terreno. À ideia de uma sobrevivência pessoal em Deus, se substitui uma ideia de sobrevivência na espécie e na sociedade do futuro.

Pouco a pouco, recaiu sobre a palavra eternidade a suspeita e o silêncio. O materialismo e o consumismo completaram a obra nas sociedades opulentas, fazendo parecer inconveniente que se fale ainda de eternidade entre pessoas cultas e em sintonia com os tempos. Tudo isso provocou claramente um retrocesso na fé dos crentes que, com o tempo, fez-se tímida e reticente sobre este ponto. Quando ouvimos o último sermão sobre a vida eterna? Continuamos a rezar o Credo: “Et expecto resurrectionem mortuorum et vitam venturi saeculi” (“E Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”), mas sem dar muito peso a estas palavras. Kierkegaard tinha razão quando escreveu: “A vida após a morte tornou-se uma piada, uma necessidade tão incerta que não só ninguém respeita, mas nem mesmo se cogita que exista, ao ponto que se divertem com o pensamento de que houve um tempo em que esta ideia transformava a toda a existência” [3].

Qual é o efeito prático desse eclipse da ideia de eternidade? São Paulo refere-se à intenção daqueles que não acreditam na ressurreição dos mortos: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (1 Cor. 15,32). O desejo natural de viver sempre, distorcido, torna-se um desejo ou frenesi de viver bem, ou seja, agradavelmente, mesmo que às custas dos outros, se necessário. Toda a terra se torna o que Dante disse da Itália da sua época: “o canteiro que tão nos faz ferozes”. Perdido o horizonte da eternidade, o sofrimento humano parece dupla e irremediavelmente absurdo.

3. A eternidade: uma esperança e uma presença

Ainda a propósito do secularismo, como para o cientificismo, a resposta mais eficaz não é combater o erro contrário, mas fazer brilhar novamente diante dos homens a certeza da vida eterna, confiando na força intrínseca que possui a verdade quando é acompanhada pelo testemunho de vida. “Sempre se poderá negar uma ideia com outra – escreve um antigo Padre – e uma opinião pode ser oposta à outra; mas o que poderá se opor a uma vida?”

Devemos também aproveitar a correspondência de tal verdade ao desejo mais profundo, ainda que reprimido, do coração humano. A um amigo que o repreendeu, quase como se seu desejo de eternidade fosse uma forma de orgulho e arrogância, Miguel de Unamuno, que não era um apologista da fé, disse em uma carta:

“Eu não estou dizendo que merecemos uma vida depois da morte, nem que a lógica nos mostre isso; estou dizendo que a necessito, mereça ou não, e nada mais. Estou dizendo que o que é passageiro não me satisfaz, que tenho sede de eternidade, e que, sem ela, tudo dá no mesmo para mim. Eu necessito disso, necessito! E, sem isso, nem a alegria de viver quer dizer coisa alguma. É muito cômodo dizer ‘temos de viver, temos de estar contentes com a vida!’ E os que não nos contentamos com ela?” [4].

Não é que desejasse a eternidade - acrescentava na mesma ocasião - desprezando o mundo e a vida aqui embaixo: “Eu amo tanto a vida que, perdê-la, parece-me o pior dos males. Não amam realmente a vida aqueles que vivem o dia a dia, sem preocupar-se por saber se vão perdê-la totalmente ou não”. Santo Agostinho dizia a mesma coisa: Cui non datur semper vivere, quid prodest bene vivere?, “De que serve viver bem, se não nos é dado viver para sempre?” [5]. “Tudo, exceto o eterno, é vão ao mundo”, cantou um dos nossos poetas [6].

Aos homens do nosso tempo, que cultivam no fundo do coração esta necessidade de eternidade, sem talvez ter a coragem de confessar a outros e nem para si mesmo, podemos repetir o que Paulo disse aos atenienses: “Pois bem, aquilo que adorais sem conhecer, eu vos anuncio” (cf. At 17,23).

A resposta cristã ao secularismo, no sentido que entendemos aqui, não se baseia, como para Platão, em uma ideia filosófica - imortalidade da alma - mas em um evento. O Iluminismo tinha colocado a famosa pergunta de como é possível atingir a eternidade, enquanto você estiver no tempo, e como dar um ponto de partida histórico para uma consciência eterna [7]. Em outras palavras: como se pode justificar a alegação da fé cristã de prometer uma vida eterna e de ameaçar com uma pena igualmente eterna por atos realizados no tempo.

A única resposta válida para este problema é aquela baseada na fé na encarnação de Deus. Em Cristo, o eterno entrou no tempo, manifestado na carne; diante dele é possível tomar uma decisão para a eternidade. É assim que o evangelista João fala da vida eterna: “Vida eterna que a vós anunciamos, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós” (1 Jo 1, 2).

Para o crente, a eternidade não é, como se vê, somente uma esperança, é também uma presença. Realizamos a experiência cada vez que fazemos um verdadeiro ato de fé em Cristo, porque todo aquele que nele crê “já possui a vida eterna” (cf. 1 Jo 5,13), e toda vez que recebemos a comunhão, onde nos é dado “o penhor da glória futura” (futurae gloriae nobis pignus datur); toda vez que escutamos as palavras do Evangelho são “palavras de vida eterna “(Jo 6,68). São Tomás de Aquino também afirma que “a graça é o início da glória” [8].

Esta presença da eternidade no tempo é chamada Espírito Santo. Ele é descrito como “garantia da nossa herança” (Ef 1,14; 2 Coríntios 5,5), e foi dada a nós porque, tendo recebido as primícias, nós ansiamos pela plenitude. “Cristo - escreve Santo Agostinho - nos deu o penhor do Espírito Santo com o qual ele, que não poderia enganar-nos, quis ter certeza do cumprimento de sua promessa. O que ele prometeu? Ele prometeu a vida eterna, cuja garantia é o Espírito Santo que nos foi dado ” [9].

4. Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?

Entre a vida de fé no tempo e a vida eterna no tempo há uma relação semelhante à que existe entre a vida do embrião no seio materno e a do bebê, uma vez nascido. Cabasilas escreve:

“Este mundo traz, em gestação, o homem interior, novo, criado segundo Deus, para que ele, formado, moldado e tornado perfeito, não seja gerado àquele mundo perfeito que não envelhece. Como o embrião que, enquanto está na existência escura e líquida, a natureza prepara à vida na luz, é assim com os santos [...]. Para o embrião, no entanto, a vida futura é absolutamente futura: não chega a ele nenhum raio de luz, nada do que é desta vida. Não é assim para nós, do momento que o século futuro foi como derramado e misturado ao presente [...] Então, agora já é concedido aos santos não só dispor-se e preparar-se à vida, mas viver e atuar” [10].

Há uma história que ilustra essa comparação. Havia dois gêmeos, um menino e uma menina, tão inteligentes e precoces que, mesmo no útero materno, já conversavam entre si. A menina perguntava ao irmão: “Pra você, haverá vida após o nascimento?”. Ele respondia: “Não seja ridícula. O que faz você pensar que exista algo fora desse espaço estreito e escuro em que nos encontramos? A menina, criando coragem, insistia: “Talvez haja uma mãe, alguém que nos colocou aqui e que vai cuidar de nós.” Ele disse: “Você vê alguma mãe em algum lugar? O que você vê é tudo que existe”. Ela de novo: “Mas você não sente, às vezes, uma pressão no peito que aumenta dia a dia e nos impele para frente?”. “Pensando bem, ele respondeu, é verdade, sinto isso o tempo todo”. “Veja, concluiu, triunfante, a irmã mais nova, essa dor não pode ser para nada. Eu acho que está nos preparando para algo maior do que este pequeno espaço”.

Podemos usar esta simpática história quando tivermos de anunciar a vida eterna para as pessoas que perderam a fé nela, mas conservaram a nostalgia e talvez esperam que a Igreja, como aquela menina, as ajude a acreditar.

Há perguntas que os homens não deixam de fazer desde que o mundo é mundo e os homens de hoje não são exceção: “Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos”. Na sua “História Eclesiástica do Povo Inglês”, Beda, o Venerável, relata como a fé cristã entrou no norte da Inglaterra. Quando os missionários, vindos de Roma, chegaram a Northumberland, o rei Edwin convocou um conselho de notáveis para decidir se permitiam a eles ou não, pelo menos, divulgar a nova mensagem. Um deles se levantou e disse:

“Suponha, ó rei, esta cena. Você se senta para jantar com seus ministros e líderes: é inverno, o fogo arde no meio e aquece a sala, enquanto lá fora, a tempestade grita e a neve cai. Um passarinho entra pela abertura de uma parede e sai imediatamente do outro lado. Enquanto está dentro, está protegido da tempestade de inverno mas, depois de desfrutar o calor rapidamente, apenas desaparece de vista, perdendo-se no inverno escuro de onde veio. Assim parece ser a vida do homem na terra: ignoramos tudo o que a segue e que a precedeu. Se esta nova doutrina nos traz algo mais seguro sobre isso, acho que deve ser acolhida” [11].

Quem sabe se a fé cristã não pode voltar à Inglaterra e ao continente europeu pela mesma razão pela que fez sua entrada: como a única que tem uma resposta definitiva a dar às grandes interrogações da vida terrena. A melhor oportunidade de transmitir esta mensagem são os funerais. Neles, as pessoas estão menos distraídas que nos outros ritos de passagem (Batismo, Casamento); eles questionam o seu próprio destino. Quando se chora por um ente querido, se chora também por si mesmo.

Certa vez ouvi um interessante programa da BBC inglesa sobre os chamados “funerais seculares”, com a gravação ao vivo de um deles. Em certo momento o mestre de cerimônias dizia aos presentes: “Nós não devemos ficar tristes. Viver uma vida boa, satisfatória, por 70 anos (a idade da falecida), é algo pelo qual se deveria ser grato”. “Grato a quem?, me perguntava. Tais funerais não fazem mais que deixar evidente a derrota total do homem frente à morte.

Os sociólogos e estudiosos da cultura, chamado a explicar o fenômeno dos funerais seculares ou “humanistas”, viam a causa da propagação desta prática em alguns países do norte da Europa no fato de que estes funerais religiosos envolvem os presentes numa fé que não se sentem à vontade para compartilhar. A proposta sugerida era: a Igreja, nos funerais, deveria evitar qualquer menção a Deus, à vida eterna, a Jesus Cristo morto e ressuscitado, e limitar seu papel ao de “organizadora natural e experiente dos ritos de passagem”! Em outras palavras, resignar-se à secularização inclusive da morte!

5. Vamos à casa do Senhor!

Não precisamos de uma fé renovada na eternidade somente para evangelizar, isto é, para o anúncio aos outros, precisamos dela, mesmo antes, para dar um novo impulso à nossa caminhada rumo à santidade. O enfraquecimento da ideia de eternidade atinge também os crentes, diminuindo neles a capacidade de enfrentar com coragem o sofrimento e as provas da vida.

Pensemos em um homem com uma balança na mão: uma daquelas balanças se equilibram com uma mão e tem de um lado um prato onde se colocam as coisas para pesar e do outro uma barra que marca o peso ou a medida. Se cai no chão ou perde a medida, tudo o que e colocado no prato levanta a barra e inclina a balança. Até um punhado de penas.

Assim somos nós quando perdemos o peso, a medida de tudo que é a eternidade: as coisas e os sofrimentos terrenos levam facilmente nossa alma ao chão. Tudo parece muito pesado, excessivo. Jesus dizia: “Se tua mão ou teu pé te leva à queda, corta e joga fora. É melhor entrares na vida tendo só uma das mãos ou dos pés do que, com duas mãos ou dois pés, seres lançado ao fogo eterno. Se teu olho te leva à queda, arranca-o e joga fora. É melhor entrares na vida tendo um olho só do que, com os dois, seres lançado ao fogo do inferno”. (cf. Mt 18,8-9). Mas nós, tendo perdido de vista a eternidade, achamos já excessivo que se nos peça fechar os olhos a um espetáculo imoral.

São Paulo se atreve a escrever: “Com efeito, a insignificância de uma tribulação momentânea acarreta para nós um volume incomensurável e eterno de glória. Isto acontece porque miramos às coisas invisíveis e não às visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (2 Cor 4,17-18). O peso da tribulação é “leve, porque provisório, o da glória é enorme exatamente por ser eterno”. Por esta razão, o mesmo Apóstolo pode dizer: “Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós.” (Rm 8:18).

O cardeal Newman, que foi escolhido como mestre especial neste Advento, obriga-nos a adicionar uma verdade que falta na reflexão realizada até agora sobre a eternidade. Ele faz isso com o poema “O Sonho de Gerôncio”, com música do grande compositor inglês Edgar Elgar. Uma verdadeira obra-prima pela profundidade de pensamento, pela inspiração e dramaticidade lírica.

Descreve o sonho de um ancião (o que significa o nome Gerontius-Gerôncio) que se sente perto do fim. A seus pensamentos sobre o sentido da vida, a morte, o abismo do nada no qual se precipita, se sobrepõem os comentários dos espectadores, a voz orante da Igreja: “Parte desse mundo, alma cristã” (proficiscere, alma christiana ), as vozes de contestação de anjos e demônios que pesam sua vida e reclamam sua alma. É particularmente bela e profunda a descrição do momento da morte e do despertar no outro mundo:

“Fui dormir, e agora estou renovado.
Um refresco estranho: por que eu sinto em mim
Uma leveza indescritível, e um sentido
De liberdade, como se eu finalmente fosse
E nunca tinha sido antes. Que paz!
Já não ouço mais que a incessante batida do tempo,
Não, nem me falta a minha respiração, ou o pulso;
Não é um momento diferente do outro” [12].

As últimas palavras que a alma pronuncia no poema são aquelas com as quais chega serena e até ansiosa ao Purgatório:

Lá cantarei o meu Senhor e amor ausente:
Leve-me embora,
Que, mais cedo eu possa subir, e ir acima,
E vê-Lo na verdade do dia eterno.” [13].

Para o imperador Adriano, a morte era a passagem da realidade às sombras, para o cristão John Newman ela é a passagem das sombras à realidade ex umbris et imaginibusin veritatem como quis que fosse escrito sobre seu túmulo.

Qual é, então, a verdade que Newman nos obriga a não manter em silêncio? Que a passagem do tempo à eternidade não é retilínea e igual para todos. Há um juízo para enfrentar, um juízo que pode ter dois resultados muito diferentes, o inferno ou o paraíso. A espiritualidade de Newman é austera, inclusive rigorosa, como a do Dies irae, mas que salutar nessa época inclinada a tomar tudo como brincadeira, como dizia Kierkegaard, com o pensamento da eternidade!

Elevemos o nosso pensamento à eternidade com renovado ímpeto. Repitamos a nós mesmos as palavras do poeta: “Tudo, exceto o eterno, o mundo é em vão.” No saltério hebraico há um grupo de salmos, chamados de “salmos de ascensão” ou “cânticos de Sião”. Eram os salmos que os peregrinos israelitas cantavam quando saíam em peregrinação à cidade santa, Jerusalém. Um deles começa assim: “Fiquei alegre, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!”. Estes salmos de ascensão tornaram-se os salmos de quem, na Igreja, segue a caminho da Jerusalém celeste; são os nossos salmos. Comentando sobre as palavras iniciais do salmo, Santo Agostinho dizia a seus seguidores:

“Corremos porque vamos para a casa do Senhor, corremos porque uma corrida como essa não cansa; porque chegaremos a uma meta onde não existe cansaço. Corramos à casa do Senhor e nossa alma se alegra por aqueles que repetem essas palavras. Estes viram primeiro que nós a pátria, os apóstolos a viram e nos disseram: “Corram, apressem-se, venham atrás! Vamos para a casa do Senhor!” [14].

Temos diante de nós, nesta capela, uma esplêndida representação em mosaico da Jerusalém celeste, com Maria, os apóstolos e uma longa procissão de santos orientais e ocidentais. Eles repetem silenciosamente este convite. Aceitemo-lo e levemo-lo conosco nesta jornada e ao longo da vida.

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Notas

[1] Cf. M. Pohlenz, L’uomo greco, Florença 1967, p. 173ss.
[2] Animula vagula, blandula, In ‘Memórias de Adriano’, p. 251, Editora Circulo do Livro, 1974
[3] S. Kierkegaard, Postilla conclusiva, 4, in Opere, a cura di C. Fabro, Firenze 1972, p. 458.
[4] Miguel de Unamuno, “Cartas inéditas de Miguel de Unamuno e Pedro Jiménez Ilundain,” ed. Hernán Benítez, Revista de la Universidad de Buenos Aires, vol. 3, no. 9 (Gennaio-Marzo 1949), pp. 135. 150.
[5] S. Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 45, 2 (PL, 35, 1720).
[6] Antonio Fogazzaro, “A Sera,” in Le poesie, Milano, Mondadori, 1935, pp. 194–197.
[7] G.E. Lessing, Über den Beweis des Geistes und der Kraft, ed. Lachmann, X, p.36.
[8] S. Tomás deAquino, Somma teologica, II-IIae, q. 24, art.3, ad 2.
[9] S. Agostinho, Sermo 378,1 (PL, 39, 1673).
[10] N. Cabasilas, Vida em Cristo, I,1-2, UTET, 1971, pp.65-67.,
[11] Beda, o Venerável, Historia ecclesiastica Anglorum, II, 13.
[12] O sonho de Gerôncio, in Newman Poeta, a cura di L. Obertello, Jaka Book, Milano 2010, p.124
[13] O sonho de Gerôncio, in Newman Poeta, a cura di L. Obertello, Jaka Book, Milano 2010, p.124
[14] S. Agostino, Enarrationes in Psalmos 121,2 (CCL, 40, p. 1802)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ave Maria, Concebida sem Pecado




Romanos 3,23 diz “com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus”. 1 João 1,8 acrescenta “se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós”. Estes textos não poderiam ser mais claros para milhões de protestantes: “Como poderia alguém acreditar que Maria estava livre de todo pecado à luz dessas passagens da Escritura?”. Além do mais, Maria mesma disse 'Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador' em Lucas 1,47. Ela claramente se viu como uma pecadora se admite precisar de um salvador.”







A Resposta Católica



Não poucos protestantes estão surpresos por descobrir que a Igreja Católica na verdade concorda que Maria foi “salva”. De fato, Maria precisou de um salvador! No entanto, Maria foi salva do pecado de uma maneira muito sublime. Foi-lhe dada a graça de ser “salva” completamente do pecado de tal modo que nunca cometeu nem mesmo uma leve transgressão. Os protestantes tendem a enfatizar a “salvação” de Deus quase exclusivamente com o perdão dos pecados realmente cometidos. Porém a Sagrada Escritura indica que a salvação também possa se referir ao homem sendo protegido do pecado antes do fato:



Àquele, que é poderoso para nos preservar de toda queda e nos apresentar diante de sua glória, imaculados e cheios de alegria, ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam dadas glória, magnificência, império e poder desde antes de todos os tempos, agora e para sempre. Amém. (Judas 1,24-25)



Seiscentos anos atrás, o grande teólogo franciscano Duns Scotus explicou que a queda no pecado poderia ser comparada ao homem se aproximando despercebidamente de um buraco profundo. Se ele cai no buraco, precisa de alguém para baixar uma corda e salvá-lo. Mas se alguém o avisasse do perigo à frente, prevenindo-o de cair no buraco, ele seria salvo de cair no lugar. Da mesma forma, Maria foi salva do pecado por receber a graça de ser preservada dele. Mas ela ainda foi salva.



Todos Pecaram Exceto...



Mas e quanto ao “todos pecaram” (Rm 3,23) e “se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1,8)? “Todos” e “qualquer homem” não incluiriam Maria? Superficialmente, soa razoável. Mas esta maneira de pensar levaria à conclusão lógica de listar Jesus Cristo em companhia dos pecadores. Nenhum cristão de fé concordaria em dizer isso. Entretanto nenhum cristão pode negar os textos claros da Escritura declarando Cristo cheio de humanidade também. Desta maneira, tomar 1 João 1,8 em um sentido estrito, literal seria aplicar “qualquer homem” a Jesus também.

A verdade é que Jesus Cristo foi uma exceção a Romanos 3,23 e 1 João 1,8. E a Bíblia nos conta que ele estava em Hebreus 4,15: “Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado.” A questão agora é: há outras exceções a esta regra? Sim – milhões delas.

Tanto Romanos 3,23 quanto 1 João 1,9 tratam mais de pecados pessoais do que original (Romanos 5 trata de pecado original). E há também duas exceções àquela norma bíblica geral. Mas por ora simplesmente trataremos de Romanos 3,23 e 1 João 1,8. Primeiro, João 1,8 obviamente se refere a pecado pessoal porque no próximo verso, João nos diz “se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade.” Nós não confessamos o pecado original, mas sim pecados pessoais.

O contexto de Romanos 3,23 esclarece que também se refere a pecado pessoal:

“Não há nenhum justo, não há sequer um. Não há um só que tenha inteligência, um só que busque a Deus. Extraviaram-se todos e todos se perverteram. Não há quem faça o bem, não há sequer um (Sl 13,lss). A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas enganam; veneno de áspide está debaixo dos seus lábios (Sl 5,10; 139,4). A sua boca está cheia de maldição e amargar (Sl 9,28).” (Rm 3,10-14)
O pecado original não é algo que façamos; é algo que herdamos. O terceiro capítulo de Romanos trata de pecados pessoais porque fala de pecados cometidos pelo pecador. Com isto em mente, considere: um bebê no útero ou uma criança de dois anos já cometeram um pecado pessoal? Não. Para pecar, uma pessoa precisa saber que o ato que está para realizar é pecaminoso enquanto livremente empenhando sua vontade para realizá-lo. Sem as devidas faculdades para possibilitá-las a pecar, as crianças antes da idade de responsabilidade e qualquer um que não tenha o uso de seu intelecto e vontade não podem pecar. Então, há e houve milhões de exceções a Romanos 3,23 e 1 João 1,8.

Ainda assim, como sabemos que Maria é uma exceção à norma do “todos pecaram”? E mais especificamente, há suporte bíblico para esta alegação? Sim, há muito suporte bíblico.



O Nome Diz Tudo



Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. (Lucas 1,28-30).



Muitos protestantes insistirão que este texto é pouco mais do que uma saudação comum do Arcanjo Gabriel a Maria. “O que isto tem a ver com Maria ser sem pecado?”. Entretanto, a verdade é que, de acordo com a própria Maria, esta não foi uma saudação comum. O texto revela Maria ter-se perturbado “com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação” (Lucas 1,29, ênfase atribuída). O que havia nesta saudação de tão incomum para Maria reagir desta maneira? Podemos considerar pelo menos dois aspectos importantes.



Primeiro, de acordo com os estudiosos bíblicos (bem como com o Papa João Paulo II), o anjo fez mais que uma simples saudação a Maria. O anjo na realidade comunicou um novo nome ou título a ela. (cf. Redemptoris Mater, 8, 9). Em grego, a saudação foi kaire, kekaritomene, ou “Ave, cheia de graça”. De modo geral, quando um saudava o outro com kaire, um nome ou título seria encontrado no contexto imediato. “Salve, rei dos judeus” em João 19,3 e “Cláudio Lísias ao excelentíssimo governador Félix, saúde!” (Atos 23,26) são dois exemplos bíblicos disto. O fato de que o anjo troca o nome de Maria na saudação por “cheia de graça” não era incomum. Isto me seria análogo falando com alguém dos colegas técnicos da Catholic Answers e dizer “Olá, ele que conserta computadores.” Na cultura hebraica, nomes e mudanças de nomes nos dizem algo permanente sobre o caráter e o chamamento do nomeado. Apenas retome as mudanças de nome de Abrão para Abraão (de “pai” para “pai das multidões”) em Gênesis 17,5, Sarai para Sara (“minha princesa” para “princesa”), em Gênesis 17,15 e Jacó para Israel (“suplantador” para “ele que prevalece com Deus”) em Gênesis 32,28.



Em cada caso, os nomes revelam algo permanente sobre o nomeado. A transição de Abraão e Sara de ser um “pai” e uma “princesa” de uma família para ser “pai” e “princesa” ou “mãe” de um povo inteiro de Deus (veja Rm 4,1-18; Is 51,1-2). Eles se tornam patriarca e matriarca do povo de Deus para sempre. Jacó/Israel se torna patriarca cujo nome, “ele que prevalece com Deus”, continua para sempre na Igreja, que se chama “Israel de Deus” (Gl 6,16). O Povo de Deus “prevalecerá com Deus” para sempre na imagem do patriarca Jacó.



O que está em um nome? Segundo a Escritura, muito.



São Lucas usa o particípio perfeito passivo, kekaritomene, como seu “nome” para Maria. Esta palavra literalmente significa “ela que foi agraciada” em um sentido completo. Este adjetivo verbal, “agraciada”, não está apenas descrevendo uma simples ação do passado. O grego tem um outro tempo para isso. O tempo perfeito é usado para indicar que uma ação se completou no passado resultando num estado de ser presente. “Cheia de graça” é o nome de Maria. Então o que isso nos diz sobre Maria? Bem, a média cristã não está completa em graça e em um sentido permanente (ver Fl 3,8-12). Mas de acordo com o anjo, Maria está. Você e eu pecamos, não por causa da graça, mas por causa de uma falta de graça, ou uma falta de nossa cooperação com a graça em nossas vidas. Esta saudação do anjo é uma dica para o caráter único e chamativo da Mãe de Deus. Somente a Maria é dado o nome “cheia de graça” e no tempo perfeito, indicando que este estado permanente de Maria foi completo.



Arca da (Nova) Aliança



A Arca da Aliança no Antigo Testamento foi um verdadeiro ícone do sagrado. Porque continha a presença de Deus simbolizada pelos três tipos de Messias vindouros – o maná, os Dez Mandamentos, a vara de Araão – devia ser pura e intocada por homem pecador (ver 2 Sm 6,1-9 e Ex 25,10; Nm 4,15).



No Novo Testamento, a nova Arca não é um objeto inanimado, mas uma pessoa: a Mãe Abençoada. Quanto mais pura seria a nova Arca quando consideramos a velha arca como uma mera “sombra” em relação a ela (ver Hb 10,1)? Esta imagem de Maria como a Arca da Aliança é um indicador de que Maria estaria convenientemente livre de todo contágio de pecado para ser um meio digno de levar Deus no ventre. E mais importante: assim como a Antiga Arca da Aliança era perfeitamente boa do momento que foi construída com instruções divinas explícitas em Êxodo 25, também Maria seria pura do momento de sua concepção.



1. A Arca da Aliança continha três tipos de Jesus dentro: maná, vara de Araão e os Dez Mandamentos. Em hebraico, mandamento (dabar) pode ser traduzido por “palavra”. Compare: Maria carregou a realização de todos esses tipos em seu corpo. Jesus é o “verdadeiro ‘maná’ do céu” (João 6,32), o verdadeiro “Sumo Sacerdote” (Hebreus 3,1) e “a palavra se fez homem” (João 1,14).



2. A nuvem de glória (hebraico, Anan) foi representativa do Espírito Santo e “ensombrou” a Arca quando Moisés a consagrou em Ex 40,32-33. A palavra grega para “ensombrar” encontrada na Septuaginta é uma forma de episkiasei. Compare: “O Espírito Santo virá sobre Ti e o poder do Altíssimo Te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de Ti será chamado Filho de Deus” (Lucas 1,35). A palavra grega para “ensombrar” é episkiasei.



3. David “pulou e dançou” perante a Arca quando estava sendo carregada a Jerusalém em procissão em 2 Samuel 6,14-16. Compare: Assim que Isabel ouviu o som da saudação de Maria, João Batista “pulou de alegria” em seu ventre (cf. Lucas 1,41-44).



4. Depois de uma manifestação do poder de Deus trabalhando através da Arca, David exclama “Como pode a Arca do Senhor vir até mim?”. Compare: Depois da revelação a Isabel do verdadeiro chamado de Maria, que estava carregando Deus em seu ventre, Isabel exclama “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lucas 1,43)



5. A Arca do Senhor “permaneceu na casa de Obed-Edom... três meses” em 2 Samuel 6,11. Compare: Maria permaneceu com “Isabel” por aproximadamente três meses”. (Lucas 1,56)



A Nova Eva



É-nos importante recordar que as realizações da Nova Aliança são sempre mais gloriosas e mais perfeitas do que seus tipos do Antigo Testamento, que são “apenas uma sombra dos bens futuros” na Nova Aliança (Hb 10,1). Com isso em mente, consideremos a revelação de Maria como a Nova Eva. Depois da queda de Adão e Eva em Gênesis 3, Deus prometeu o advento de uma outra “mulher” em Gênesis 3,15, ou uma “Nova Eva” que iria se opor a Lúcifer, e cuja “descendência” esmagaria sua cabeça. Esta “mulher” e “sua descendência” reverteriam o curso, por assim dizer, que o “homem” e a “mulher” originais trouxeram sobre a humanidade por sua desobediência.



É muito significante notar aqui que “Adão” e “Eva” são revelados simplesmente como “o homem” e “a mulher” antes de que o nome da mulher fosse mudado para “Eva” (hebraico, “mãe dos viventes”) depois da queda (ver Gn 2,21). Quando então olhamos para a Nova Aliança, Jesus é explicitamente referido como o “último Adão” ou o “Novo Adão” em 1 Cor 15,45. E Jesus mesmo indica que Maria é a “mulher” ou “Nova Eva” profética do Gênesis 3,15 quando ele se refere à sua mãe como “mulher” em João 2,4 e 19,26. Além do mais, São João se refere a Maria como “mulher” oito vezes no Apocalipse 12. Assim como a primeira Eva trouxe a morte a todos seus filhos pela desobediência e prestando atenção às palavras da antiga serpente, o diabo, a “Nova Eva” do Apocalipse 12 traz vida e salvação a todos seus filhos por sua obediência. A mesma “serpente” que enganou a mulher original do Gênesis é mostrada, no Apocalipse 12, falhando em sua tentativa de dominar esta nova mulher. A Nova Eva vence a serpente e como um resultado “cheio de raiva por causa da Mulher, o Dragão começou então a atacar o resto dos seus filhos, os que obedecem aos mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus”. (Ap 12,17)



Se Maria é a Nova Eva e as realizações do Novo Testamento são sempre mais gloriosas do que as antecedentes no Antigo Testamento, seria impensável Maria ser concebida em pecado. Se ela fosse, seria inferior a Eva, que foi criada em um perfeito estado, livre de todo pecado.



Fonte: http://www.catholic.com/thisrock/2007/0709btb.asp

Missa católica ou culto protestante?


Missa católica ou culto protestante?

Que culto os cristãos devem prestar a Deus, é uma questão presente em algumas discussões religiosas promovidas por círculos cristãos diversos. Com o crescimento das seitas no Brasil, desde o fim da década passada podemos verificar a soberba de muitos não-catolicos em afirmar que o culto ou liturgia que eles prestam a Deus são verdadeiros e solidamente legítimos, pois identificam-se com o culto que os primeiros cristãos tributavam a Deus, sendo seu culto bíblico; seria verdadeiro este argumento? Acusam que a Missa católica é invenção humana e não se trata de um culto a Deus, mais uma simples reunião social, cujo Deus não ouve ou aceita, sem base bíblica mais um sacrifício paganizado; verdade estas afirmações?

Vamos analisar a historicidade litúrgica do culto oferecido pela Igreja, que tipo de culto e ritos os cristãos prestavam a Deus na antiguidade, sabemos que os primeiros cristãos seguiram a doutrina ensinada pelos apóstolos e mais tarde guarnecida pelos Padres da Igreja, o próprio mandamento do Senhor diz como lembra Paulo: "Fazei isto em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a minha morte, e confessareis a minha ressurreição" (1 Cor 11,26) . Lembra também Jesus no Evangelho de João “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” Jo 6, 53.

Os cristãos primitivos então viviam:

Na comunhão do pão e na oração perseveravam os primeiros cristãos convertidos após a Ressurreição de Cristo, como atestado na Igreja primitiva (At 2, 42), celebrando os santos mistérios sacramentais, e no inicio do II séc. usando a disciplina do Arcano¹, onde os mistérios cristãos eram celebrados secretamente para que não se paganizassem e se mantivessem no seio da Igreja, vivos, os gentios não participavam, os que podiam gozar de tais mistérios os “sacramentos” eram os já catequizados e batizados e não os catecúmenos. No serviço litúrgico (At 13, 2); reunidos na casa de membros da comunidade ou em lugares ocultos (como catacumbas), devido à perseguição, nos tempos primitivos muitos apóstolos ministraram a “liturgia”, ou seja, o oficio ou serviço de adoração a Deus, em suas casas edificações que ficaram conhecidas como Domus Eclesiae que mais tarde virá a se tornar Domus Dei edifícios só para o culto cristão.

Celebravam no primeiro dia depois do sábado (o Domingo, segundo São João, Ap. 1, 10), quando S. Paulo diz para partir o pão (At. 20,7), os cristãos cultuavam a Deus mais frequentemente. Faziam à leitura dos profetas, das epístolas dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas. Estas leituras eram explicadas, conforme S. João, que, conduzido a Éfeso, limitou-se a esta exortação: "Meus filhos, amai-vos uns aos outros". Desta prática de explicar o que era lido no Texto Sagrado, deriva a realização das homilias e sermões.

Vejamos os primeiros registros sobre a liturgia o que dizem os Pais Apostólicos da Igreja

S. Justino Mártir, (103-167) filósofo pagão que se convertera , tornando-se sacerdote e mártir, contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor Jesus Cristo), de S. Inácio, de Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu, discípulos de Policarpo em sua obra Apologia 2, escreve: "No chamado dia do Sol todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo" e sobre a reunião dos primeiros cristãos para culto ele descreve.

"Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos". "Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão, vinho e água".

"O sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem!". "Distribui-se os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta comunhão aos ausentes".

"Os que possuem bens e riquezas dão uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas as necessidades".

"Celebramos nossas reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos".

Outro atestado é de;

S. Inácio de Antioquia, (†110) terceiro bispo de Antioquia, sucessor de S. Pedro e de Evódio, contemporâneo dos apóstolos quando muito jovem, que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado; Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas as igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna. E nesta aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.

“Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou.” (Epístola aos Esmirnenses: Cap. VII; Santo Inácio de Antioquia).

S. Ireneu de Lião, (130-202) eminente teólogo ocidental, confirma-nos o sacrifício que era prestado pelos primeiros cristãos figurado no sacrifício de Cristo, em outra obra ele ressalta a importância e a transubstanciação na Eucaristia.

“(Nosso Senhor) nos ensinou também que há um novo sacrifício da Nova Aliança, sacrifício que a Igreja recebeu dos Apóstolos, e que se oferece em todos os lugares da terra ao Deus que se nos dá em alimento como primícia dos favores que Ele nos concede no Novo Testamento. Já o havia prefigurado Malaquias ao dizer: Porque desde o nascer do sol, (...) (Malaquias, I, 11). O que equivale dizer com toda clareza que o povo primeiramente eleito (os judeus) não havia mais de oferecer sacrifícios, senão que em todo lugar se ofereceria um sacrifício puro e que seu nome seria glorificado entre as nações." (Adversus haereses, São Ireneu de Lion).

Outro Registro é o:

Didaqué um catecismo cristão que fora escrito por volta do ano 120 d.C. um dos mais antigos registros do cristianismo, fala nos do culto cristão e da celebração dos primeiros crentes após transcrever regras a respeito da celebração da eucaristia; diz:

“Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não dêem as coisas santas aos cães". (Didaqué, Cap. IX, Nº 5)

Também diz sobre a reunião dos crentes;

“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro” (Didaqué, Cap. XIV, nº 1)

O que tem em comum estes testemunhos do fim do I séc. e inicio do II século, comprovam a liturgia católica como herdeira, da liturgia dos primeiros cristãos oferecidas em suas reuniões, mais tarde no séc. III conhecidas pelo termo Missa, que Procede do latim “mitere”, que quer dizer "enviar, mandar, despedir". Missa é o particípio que adquira o sentido de substantivo; "missão, despedida, dispensa,” é, pois a despedida na partida. Podemos observar que eles perseveravam na comunhão e na celebração eucarística então onde ficam os cultos protestantes? Os gritos, os longos sermões, e as musicas e estilos exagerados e sentimentais, além dos pseudo-exorcismos e das tidas manifestações do “Espírito”? Se não tem embasamento histórico, bíblico ou nas reuniões dos primeiros cristãos? Trata-se de invenções humanas posteriores a antiguidade cristã.

Notas:
Disciplina do Arcano¹: Disciplina do Segredo, ou Lei do Arcano, é o termo teológico para expressar o costume que prevaleceu na Igreja primitiva, na qual o conhecimento dos mistérios da religião cristã era, por medida de prudência, cuidadosamente mantido oculto aos gentios, aos não-iniciados e até mesmo aos que se submetiam à instrução na fé, para evitar que aprendessem algo que pudessem fazer mau uso, o costume pendurou-se até o séc. VI.

A veneração dos santos



omeçamos em Hebreus 11, versiculo 1: "A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem. Foi por ela que os antigos deram o seu testemunho. Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram organizados por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem a sua origem em coisas manifestas."

Aí São Paulo começa a citar um por um dos grandes santos da família de Deus do Antigo Testamento começando com o primeiro mártir, Abel, que tinha oferecido um sacrifício aceito por Deus. E depois Henoc e Noé e Abraão, Isac, Jacó e Sara. Depois continua a falar de Abraão, Isac e Jacó, e todo o sofrimento que eles passaram por que a esperança deles não estava na Jerusalém terrena, mas na Jerusalém celeste; não na terra prometida terrena, mas na celeste.

Então no versículo 23 ele fala sobre Moises e tudo o que ele renunciou para ganhar esta herança gloriosa no céu; e da mesma forma, Israel. E depois Raab, a prostituta de Jericó: até mesmo a fé dela é exaltada. Depois Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas que pela fé conquistaram reinos, receberam promessas, deteram as bocas de leões e acabaram com fogueiras devastadoras, escaparam da espada, tiraram fortaleza da fraqueza, tornaram-se poderosos na guerra, fizeram os exércitos inimigos fugir. Todos os grandes feitos são relembrados não só para passar pela história mas principalmente, como você verá, para inspirar uma fé, esperança e amor maiores em nós.

No versiculo 36: "Outros ainda sofreram a provação dos escárnios, experimentaram o açoite, as correntes e as prisões. Foram lapidados, foram serrados e morreram assassinados com golpes de espada. Levaram vida errante, vestidos com peles de carneiro ou pêlos de cabras; oprimidos e maltratados, sofreram privações. Eles, de quem o mundo não era digno, erravam pelos desertos e pelas montanhas, pelas grutas e cavernas da terra. E não obstante, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa. Pois Deus previa para nós algo de melhor, para que sem nós não chegassem à plena realização."

Assim, de certa maneira, o advento de Cristo e da economia da Nova Aliança trouxeram uma benção e glória para estes santos do Antigo Testamento maior do que a que eles receberam quando morreram. Algo novo foi inaugurado quando Cristo ressuscitou, quando ele subiu aos céus e quando subiu ao trono. Ele abriu um novo panorama, uma nova porta, a porta de entrada para o céu, para que seus irmãos viessem pra casa. Nós veremos mais adiante como foi colacado neste reino glorioso no céu tronos e neles estão sentados este grandes santos, bem como os santos da Nova Aliança. E eles são sacerdotes, eles testemunham para servir a Cristo e para rezar em nosso favor.

Mas observe que o autor de Hebreus relembra tudo isto para nos inspirar a seguir o exemplo deles. Isto vai ser uma consideração fundamental para entender a base lógica bíblica para a veneração dos santos. Exemplos heróicos inspiram virtudes heróicas. Vejamos Hebreus 12: "Portanto" (um dos mais básicos princípios interpretativos de estudos biblicos, sempre que aparecer a palavra, "portanto", pergunte a si mesmo o que vem a seguir pois basicamente há um resumo de tudo o que foi dito anteriormente e encerra com uma conclusão prática, especialmente na carta aos Hebreus.) "Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus, que, em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tal contradição por parte dos pecadores, para não vos deixardes fatigar pelo desanimo. Vós ainda não resististes até o sangue em vosso combate contra o pecado. Vós esquecestes a exortação que vos foi dirigida como a filhos?"

E ele continua a falar sobre a disciplina de Nosso Senhor e a castidade e sofrimento que é próprio aos filhos de Deus para amadurecer e crescer. Então no versículo 12: "Por isso, reerguei as mãos enfraquecidas e os joelhos tropegos; endireitai os caminhos para os vossos pés, a fim de que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado."

Todo o quadro em Hebreus 12 é uma grande corrida e quem está na multidão? Todos os santos. E o que eles compõem? Versiculo 1, "uma nuvem de testemunhas". O que se quer dizer com nuvem? Bem, se você fizer um pouquinho de estudo de fundo biblico, esta nuvem é a mesma nuvem que se pode rastrear de volta ao Antigo Testamento. É a a nuvem de glória em que Moisés subiu no Monte Sinai. É a mesma nuvem que cobriu Jesus quando ele ascendeu aos céus diante dos olhos dos discípulos. Esta nuvem de uma certa forma é uma manifestação portátil daquilo que é como estar "movido pelo Espírito" como João no livro do Apocalipse: "No dia do Senhor fui movido pelo Espírito", e esta nuvem de glória agora está repleta de nossos irmãos e irmãs mais velhos. E eles constituem uma nuvem de testemunhas, não é apenas uma nuvem que vai e vem conforme sopra o vento. É uma nuvem que é uma multidão com o objetivo de nos animar.

Quando o time1 joga em casa, as chances são maiores dele ganhar o jogo. Por quê? Porque os seus torcedores estão lá. Você pode dizer que é porque eles conhecem melhor o campo. Pode ser. Mas existe sempre um limite psicológico incrível especialmente em jogos de campeonato.

Sempre se tem uma chance a mais quando se joga em casa. E aqui nós jogamos em casa e tem uma enorme nuvem de testemunhas, todos os nossos familiares mais velhos estão torcendo por nós, nos animando. Você pode ver nas mãos e nos pés destas pessoas que levantam as mãos, que nos animam e nos olham, feridas e cicatrizes, em seus rostos e em suas costas. Você sabe que eles participaram do jogo e estão nos chamando para fazer o mesmo.

E o maior e mais barulhento animador de todos é o próprio Jesus, o pioneiro e o aperfeiçoador de nossa fé, o primogênito entre muitos irmãos e irmãs, conforme nos conta Romanos 8. Todo um estádio está repleto com nossa família. E inspira ardor e coragem, vigor e sacrificio. E sabe o que mais? O autor de Hebreus jamais considera por um segundo sequer argumentar isto. Ele crê e ele pensa que devemos crer também, mas que devemos meditar a respeito e nos inspirarmos.

Agora se os santos não sabem o que nós estamos fazendo, e nós não temos idéia do que eles estão fazendo, ou seja, se não temos nenhum contato, nenhuma comunicação, este tipo de descrição é apenas uma metáfora simplesmente fraca e estranha. Mas não é este o caso. Esta é a realidade espiritual compreendida com os olhos da fé, os olhos que estão abertos para as verdades espirituais desta grande declaração do Credo: "Creio na comunhão dos Santos".

Agora não é só porque todos nós acreditamos na mesma coisa que temos este sentimento bom e real mas sobrenatural de que todos estamos unidos por este laço de confissão doutrinária e culto litúrgico. É muito mais do que isso. É mais do que somente ser um companheirismo de pessoas que pensam da mesma forma. Nós dizemos, "Eu creio no Espirito Santo", e é por isso que cremos na santa Igreja Católica, porque sem o Espirito Santo, nós só seríamos mais uma organização humana. Mas o Espirito Santo - ensina a Igreja - é a alma da Igreja. O Corpo Mistico de Cristo é animado e obtém vida sobrenatural do Espírito Santo. Assim dizemos, "Eu creio no Espirito Santo, na santa Igreja Católica - e o quê mais? - na comunhão dos Santos".

Agora como é que se pode ter comunhão com pessoas com as quais não se tem nenhuma comunicação? Como se pode possivelmente estar em comunhão com pessoas com as quais não partilhamos nada em comum juntos em termos de experiência diária? Eu não estou dizenho que Nosso Senhor nos tenha dito para termos conversações diárias. Certo, algumas pessoas são dotadas de revelações místicas. Mas sempre que alguém disser: "Bem, você está se comunicando com os mortos e isto é pecado julgado pelo Antigo e pelo Novo Testamento porque isto é divinização, isto é feitiçaria ou sei lá o quê", você responde: "Eles não estão mortos. Eles estão mais vivos do que nós. Benditos aqueles que morreram no Senhor". Por quê? Porque suas obras os acompanham ao céu. Os santos do Antigo Testamento tiveram que esperar pelo Messias, mas esta espera já passou. Aqueles santos martirizados estão com Nosso Senhor e com uma multidão, e eles torcem por nós. Nós não precisamos só olhar com fé, mas ouvir com fé.



A veneração dos santos não transgride a situação de Cristo nosso único mediador

Quero dizer mais uma coisa antes de continuar: eu quero que vocês saibam que os santos não são uma rota alternativa para se chegar até Deus. Se você pensa que sim, então pare de rezar para os santos até que você tenha sua vida espiritual reajustada de volta ao curso normal, porque você não é um bom católico. O fato é que existe um único mediador entre Deus e o homem, que é o homem Jesus Cristo. Paulo não poderia ter deixado isto mais claro em Timoteo. Ele diz: "Há um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus".

Vejamos o que diz Timoteo. 1 Tim 2, 5: "Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos". Agora que conclusões podemos tirar disto? Podemos concluir falsamente que porque nós temos um mediador, logo estamos enfraquecendo o trabalho de Cristo ao pedirmos para os santos intercederem a nosso favor? Não, claro que não. Esqueça o fato de que os santos são cristãos que estão no céu, nós temos ciência do fato de que os cristãos da terra são constantemente chamados de santos no Novo Testamento. Isto é o que nós somos. Isto é o que nós devemos nos tornar, e se continuarmos em frente e nos mantermos firmes na fé, isto é o que seremos por toda eternidade. Mas somos santos se estivermos em Cristo.

Agora, católicos ou não, se alguém vos pedir para rezar por eles, para interceder por eles à Deus, vocês sairão por aí dizendo: "Como se atreve a debilitar a única mediação de Jesus Cristo, o único Sumo Sacerdote?". Claro que não. Por quê? Porque o que diz Paulo nos primeiros quatro versiculos anteriores a 1Tim 2, 5?: "Eu recomendo, pois antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens". Só através de Jesus? Claro que não. Por nós, "pelos reis e todos os que detêm a autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda piedade e dignidade. Eis o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens".

Eu costumava citar este texto fora do contexto e usava-o para minar a veneração devida aos santos que está enraizada em duas coisas: pedir-lhes por intercessão e súplica, e ser inspirado a seguir o exemplo deles. Nós podemos adicionar uma terceira que é, honrá-los. Nós os glorificamos quando nós os veneramos. E por quê? Porque nós ficamos entediados após dez ou quinze horas honrando a Cristo? Não. É precisamente porque nós honramos a Cristo. É precisamente porque nós imitamos Cristo. Nós imitamos Cristo, então se O vemos honrando aqueles que morreram pela verdade, aqueles que professaram a fé com muito sofrimento, nós fazemos aquilo que Cristo faz e glorificamos aqueles que Ele glorifica. Aqueles que Ele bendiz, nós bendizemos.

É bem simples. Só quando inconscientemente reduzimos a fé cristã a um relacionamento individualista - Jesus e eu - é que começa a se tornar uma coisa tipicamente americana auto-centrada. Quero dizer, encaremos: a familia americana não é um grande exemplo de laços fortes de comunicação atualmente. E tem sido assim por séculos. Você sabia que Daniel Boone era um dos piores pais? ... Grandes heróis americanos, fortes individualistas, não eram grandes homens de família. Você devia ouvir o que a mulher de John Adams tem a dizer - uma feminista radical... Ela não estava mais preocupada com o matrimônio, com a família, o lar e a América. Ela estava preocupada com os direitos do indivíduo que ela pudesse exercer e que outros pudessem exercer e, caso contrário, que eles pudessem conseguir a força. Este é o jeito americano.

Como se costumava dizer no século 18: "Não servimos a nenhum governante"; nenhum rei, e reis eram sempre figuras paternas. Eu não estou argumentando a favor de monarquia política e política natural porque o pecado humano é o que é. Mas nós temos uma monarquia sobrenatural, um reino celeste, uma figura paterna distante do pecado que concede sua vida e graça pura aos nossos irmãos e irmãs mais velhos, seus filhos. E este reino é o Reino do Céu. E isto nos inspira de uma forma muito maior a servir a nosso Soberano e a servir ao seu gabinete de ministros e príncipes e princesas que ele nos outorga.

Você percebe como é difícil para os americanos pensar e agir deste modo?2 Quando tudo em nossa cultura segue na direção contrária? A quem nos curvamos em nossa sociedade? Ninguém. E mesmo quando dizemos: "Your Honor" (=Vossa Excelência) para um juiz ou "Your Excellency" (=Vossa Eminência) para um arcebispo, parece uma coisa não natural, nos arrepiamos, não arrepiamos? Não é americano. "Quem você pensa que é?"

Mas o fato é que numa família, não é a pessoa tanto quanto o ofício que nós veneramos e honramos. E é isto que fazemos quando nós veneramos os santos. Nós estamos imitando Cristo que os honra. Por nossa vez, nós queremos imitar os santos no serviço à Cristo.

"We Are Family" (=Somos uma família) - constumava cantar o grupo Sister Sledge muitos anos atrás (final dos anos 70). Nós somos a família de Deus. Nenhum pai vai se sentir traído ou ignorado ou rejeitado quando os irmãos e irmãs se amam e inspiram uns aos outros no sacrifício e serviço corajoso pelo nome da família. É até mesmo bobo quando se coloca desta forma, mas que outros termos bastariam para o que a Santíssima Trintada, a Família Divina, têem feito por toda a história? É a única forma que faz sentido. É a única forma que engloba toda a Biblia. É a única razão pela qual Paulo em 1Tim 2, 5 considera um mediador e ainda diz o que diz em 1Tim 2, 1-4: "Pois, porque há um só mediador, nós podemos fazer orações, súplicas e pedidos com uma confiança maior, por todos os homens", até mesmo para os reis, para os ricos e prósperos, e para os corruptos. Por quê? Porque só há um mediador, o Homem-Deus, Jesus Cristo.

Poderíamos enlouquecer fazendo orações como jamais tínhamos feito antes. Por quê? Porque só há um mediador. Será que isto significa que não haja outros intercessores, outros a quem fazer súplicas? Não! Claro que não. Só há um mediador e porque nosso mediador é o mais fabuloso que nós podemos imaginar, nós temos agora a capacidade de interceder como sacerdotes no Sacerdote, como filhos no Filho, como pastores no único Pastor. Nós obtemos vida Dele. "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Longe de Cristo nada posso fazer". Mas comigo, diz Jesus, você pode tudo. "Para Deus tudo é possivel".



Apoio bíblico para o fato de que Deus ouve os clamores dos santos

Precisamos ajustar nosso pensamento. Isto não é novo. Desde o Genesis, existe um tipo de alusão misteriosa ao fato de que Deus está em contato com as necessidades dos mártires. Em Gen 4, 10, Deus diz a Caim: "Ouço o sangue de seu irmão, do solo, clamar para mim!" Agora, você acha que se você saisse no campo e encontrasse o lugar onde todo aquele sangue foi derramado, colocasse seus ouvidos no chão, você ouviria uma voz? Não, eu acho que não. Não, isso é um dispositivo literário. O sangue de Abel é a alma de Abel que tinha acabado de morrer. Ela não estaria clamando por coisa alguma a não ser que Abel tenha sido justificado por Deus de alguma maneira. De alguma maneira que nós desconhemos, pode ser o seio de Abraão, como nós vemos em Lucas 16, 23.

Deus ouve, a qualquer preço, o clamor daqueles santos martirizados desde o princípio. O sangue é a vida, a vida é a alma e a alma clama por vingança e Deus responde. É por isso que Hebreus 12, 24 refere-se a isto comparando o sangue de Abel clamando por vingança ao sangue jorrado de Jesus que fala mais eloquentemente do que o de Abel. Agora, falaria o sangue de Jesus conosco? Bem, de certa forma, não. Não é o sangue, mas a vida da alma representada pelo sangue que está falando "misericordia, misericordia, misericordia" em nosso favor. Não vingança, mas perdão, porque Cristo não foi morto por um irmão no meio do campo contra a sua vontade. Cristo entregou Sua própria vida como resgate de todos. Assim, o Seu sangue fala da mesma forma que o sangue de Abel, mas ele fala de uma maneira maior e mais eloqüente.

Agora eu gostaria de sugerir que o tipo de pregação que encontramos em Lucas 16 não teria vindo dos lábios de Jesus se este ponto de vista não fosse comum. Vejamos Lucas 16, 19-31. Ali, é claro, nós encontramos a famosa estória de Lázaro e o homem rico. Ela nos diz que Lázaro era bastante pobre, e que os cães lambiam suas feridas quando ele se sentava na porta do rico; ao morrer foi carregado ao seio de Abraão. O outro homem, o rico, foi carregado em meio a tormentos, à mansão dos mortos. Ele exclamou: "Pai Abraão, tem piedade de mim". Isto não é exatamente o clamor da alma desprezível, condenável, endemoniada cuja maldade e pecado são só aperfeiçoados. "Tem piedade de mim, Pai": ele sabe que pertence àquele lugar, mas agora ele não pede por justiça, mas por misericórdia. Ele não está dizendo: "Me tira daqui, este não é o meu lugar. Me tira daqui. Eu tenho que voltar. Eu mereço uma segunda chance".

Ele diz: "Manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois sou torturado nesta chama". É por isso que eu sugiro que isto pode muito bem se referir, não ao fogo do inferno e ao tormento eterno, mas ao fogo do purgatório da alma que por negligência das obras corporais de misericórdia termina no curso de verão por um longo tempo3. Ele exclama: "Pai Abraão, tem piedade de mim". E Abraão responde: "Filho"; ele não diz: "seu condenado maldito", "filho de Satanás", "verme desprezível", "sua víbora". Não, "Filho", é o que Abraão responde. "Lembra-te de que recebestes teus bens durante tua vida". E o homem não diz: "O que você quer dizer com, 'lembra-te'?". Quando a alma morre, ela não se lembra de nada. Ela não se lembra de ninguém. Mas ele se lembra do que Abraão estava falando; ele se lembra.

E continuando no versículo 27: "Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai". Ele se lembra da casa de seu pai! "... pois tenho cinco irmãos". Ele não somente se lembra que tem cinco irmãos; ele está bastante preocupado com eles. Ele está intercedendo em favor dos cinco irmãos, "para que (Lázaro) leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento". Ele não diz: "Abraão, você pode dar uma amostra aos meus irmãos do meu destino torturante aqui nas chamas?" Ele diz: "Você ressuscitará Lázaro. Você o mandará de volta dos mortos?" Que pequeno favor a se pedir da parte de Lázaro! Certamente seria uma justificação para o pobre homem, não seria?

Mas Abraão diz: "Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam". E ele responde: "Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão". E Abraão responde: "Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão". Fim da estória. Agora, você pode dizer: "Então, eles podem fazer orações no purgatório, mas elas não são atendidas". Mas observe uma coisa. Jesus ressuscitou um homem chamado Lázaro depois de quatro dias. Esta pode ser uma parábola, mas Jesus não disse "Deixe-me contar-lhes uma parábola". Não existe nenhuma evidência de que seja uma parábola. Você pode não querer acreditar, mas em nenhum lugar, em nenhuma parábola de Jesus ele dá nome aos personagens.

Aqui Ele dá nome ao homem e Ele dá a ele o nome de um de Seus melhores amigos, Seu único amigo que ele ressuscitou dos mortos. Um homem que estava doente - que coincidência! Talvez sim, talvez não. Mas eu gostaria de sugerir que, se um homem em tormento pode se comunicar de acordo com suas próprias necessidades, quanto pode Lázaro ajudar? Em outras palavras, aqui nós temos uma situação onde o homem pode comunicar-se e interceder por aqueles que ele quer ajudar.

Agora, se um homem nas chamas pode fazer isso, o quanto podemos presumir que Lázaro tem uma lembrança clara de sua amada família na terra e que ele provavelmente tem uma percepção clara das suas necessidades? E com um amor perfeito, ele teria uma capacidade maior de interceder por estas necessidades. Talvez você negue isto, mas que passagem da Escritura você mostra para negar isto? Eu não consegui encontrar nenhuma quando eu pensava assim também.



Os católicos precisam ter uma percepção balanceada sobre o que significa a veneração dos santos

Continuando... Antes de olhar em algumas passagens, deixe-me perguntar, e pense a respeito disto quando você estiver conversando com não-católicos: porque eu devo confessar e me desculpar por todas as vezes que meus irmãos e irmãs não-católicos, apesar de separados, mas irmãos e irmãs pelo batismo, eu tenho que me desculpar porque eles ficam sabendo de muitos católicos que fazem coisas estranhas, como um ex-católico cuja mãe tem uma imagem de Maria em tamanho natural que ela veste e desveste todo dia. Ela não tem nenhuma vida de oração. Ela nunca lê a Bíblia, mas ela constantemente veste e desveste sua imagem.

Agora, eu não vou fazer nenhum julgamento final sobre este comportamento, mas vou dizer que se isto é tudo o que você tem, está desforme. E com frequência católicos não só não tem uma percepção equilibrada do que é a veneração dos santos com relação a Cristo como eles têem pouca capacidade de articular o que eles realmente estão fazendo caso tenham um percepção equilibrada. Por que eles de fato fazem isto?

Diga a um não-católico: "Você tem família? Você os ama? Você carrega as fotos deles na sua carteira? Estas imagens são ídolos?" - "Bem," - eles podem dizer - "eles não são estátuas. Eles não são pinturas. Eu não as beijo". Bom, mas, fotografia é uma tecnologia moderna que faz com seja mais fácil e móvel, você sabe, de tal maneira que se pode ter na carteira as imagens de uma família; mas o meu ponto é que ninguém cultua a foto. Explique desta maneira. Você não adora a foto. Você nem mesmo a glorifica. Percebe? Nós não glorificamos estátuas. Nós não veneramos pinturas ou ícones. Nós glorificamos e veneramos as pessoas reais que estão representadas pelas estátuas, pinturas e ícones.

Bem, mas eles estão mortos! Não, eles estão mortos em Cristo e portanto estão vivos e são benditos. Apocalipse 14 nos conta que eles são benditos se eles morrem em Cristo. Jesus prometeu a Pedro as chaves do Reino que tem poder sobre os portões do Inferno. Assim, a Igreja pode exercer esta jurisdição não somente em liberando as almas pelos méritos que Cristo derrama em seu Corpo Místico mas também reconhecendo e pronunciando oficialmente o fato de que estas almas morreram em Cristo e que podem ser veneradas, e que elas são beatificadas porque são abençoadas por Cristo.

Católicos não adoram estátuas e pinturas e ícones. A estátua é somente um pedaço de gesso ou mármore, se for realmente boa. Elas são apenas dispositivos artísticos, úteis para nos relembrar da pessoa, o acontecimento, a ocasião representada; para nos conectar em comunhão, para nos inspirar pelo seus exemplos. Assim sendo, a Escritura ensina que não há comunhão entre os santos que estão em Cristo no céu e os santos que estão em Cristo aqui na terra? Ou melhor, a doce comunhão mística que nós temos com aqueles que descansam é uma comunhão real? Claro que é. A Escritura ensina que depois da morte os santos perdem toda a memória da vida terrena, das relações e necessidades terrenas, ensina que eles perdem o interesse e a preocupação? Que eles estão tão em êxtase e focalizados em Cristo que eles nem mesmo se enxergam? A Escritura não ensina isso. A Escritura não ensina que eles perdem toda a capacidade de fazer orações, de interceder e de suplicar por nós.



Arqueólogos têm evidências sobre a Veneração dos Santos no Primeiro Século

A Escritura nos mostra que os santos se recordam de suas vidas aqui na terra e fazem orações por aqueles com os quais eles viveram? Os santos nos cercam como membros de uma família numa multidão como vimos em Hebreus 12. Eu vou apenas mencionar o fato de que inscrições nas catacumbas do primeiro século encontradas por arqueólogos neste século, que datam desde o tempo da segunda e terceira geração depois de Cristo e dos apóstolos, dão um testemunho claro deste costume antigo de venerar e pedir a intercessão dos santos. Uma inscrição diz "Pedro e Paulo, rogai por Victor". Uma outra: "Pedro e Paulo, lembrai-vos de Zozamon". Existem várias outras iguais a estas. Elas não são estranhas. Elas não são esquisitas. Elas são típicas.



A Escritura mostra que os Santos se lembram de suas vidas na terra e fazem orações por aqueles com os quais eles viveram

Observe no livro do Apocalipse que existem três classes de santos que são destacados como tendo um papel especial no rito celestial. Primeiro de todos, os mártires com vestes brancas. Segundo, as virgens e terceiro, os confessores. Por exemplo, em Apocalipse 6, 11, começando no versículo 9: "Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as vidas dos que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado. E eles clamaram em alta voz: 'Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?'". Eles estão pedindo por justiça. Eles têm comunhão com Deus. Eles estão defendendo a causa do Corpo Místico de Cristo.

"A cada um deles foi dada, então, uma veste branca e foi-lhes dito, também, que repousassem por mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles". Em outras palavras, foi lhes dito sobre o que estava acontecendo, na terra. Não só sobre o que estava acontecendo naquele momento, mas o que iria acontecer no futuro. Isto é, vocês serão justificados em pouco tempo mas mais martírios precisam primeiro acontecer. Pelo menos eles tem algum tipo de consciência geral de que existe um pequeno período de tempo no qual mais mártires serão reunidos e então no fim desde pequeno período de tempo, a justificação virá. Eles têm conhecimento. Eles têm preocupação. Eles têm a capacidade de interceder e eles também têm um conhecimento maior do que o povo na terra e este conhecimento vem de Deus. Por quê? Porque eles são benditos. Apocalipse 22, 14 nos conta isso.

No final do Apocalipse esta beatitude é pronunciado sobre eles: "Felizes os que lavam suas vestes". O que quer dizer "lavam suas vestes"? Em outras palavras, eles tiveram tempo para ir até a lavanderia antes que Deus os chamasse? Claro que não. "Felizes os que lavam suas vestes", se refere a Apocalipse 7, 13. Eu sei que eu estou fazendo vocês folhearem a Bíblia pra frente e pra trás. Mas os cristãos não-católicos realmente conhecem a Bíblia deles. Nós temos que aprender a nossa.

Apocalipse 7, 13: "Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: 'Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e de onde vieram?' Eu lhe respondi: 'Meu Senhor, és tu quem o sabe!' Ele, então, me explicou: 'Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite em seu templo". Por isso, nós sabemos que existe um serviço litúrgico no templo celestial. O nosso é apenas uma reflexão pálida que mal se compara com o serviço litúrgico que acontece lá e este pessoal todo serve dia e noite no templo celestial.

Mas eles não têm permissão para fazer orações por nós, certo? Dá um tempo! Deus vai ficar zangado? Vai ficar ofendido? Claro que eles fazem orações por nós! Como é que eles servem? Veja no capítulo 8, 3: "Outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos, sobre o altar de outro que está diante do trono".

Os santos de quem se fala aqui devem ser interpretados contextualmente como sendo os santos que foram martirizados e que agora servem no céu. Agora, nós podemos ter uma aplicação secundária que incluiria, é claro, também os santos terrestres; mas contextualmente aqui se fala dos anjos celestes. E o que eles estão fazendo? Rezando. E estas orações são oferecidas com incenso pelo anjo no altar de Deus, no altar de ouro que está diante do trono, que estava bem em frente ao Santo dos Santos no templo terrestre como no templo celeste. "E da mão do Anjo, a fumaça do incenso com as orações dos santos subiu diante de Deus".

E o que acontece? Deus em resposta às orações dos santos age. Ele chama os sacerdotes celestes para que peguem suas trombetas e se preparem para tocar. Isto desencadeia as sete trombetas que por sua vez desencadeiam todo tipo de ativitidade terrestre que justifica os santos e vinga seu sangue e derruba os orgulhos e presunçosos diante de Deus. Você percebe o poder do serviço litúrgico? As pessoas dizem: "Bem, é preciso se envolver". Eu digo: "Exatamente, precisamos nos envolver. Precisamos fazer realmente as coisas que mudariam as injustiças da terra a começar com um bom serviço litúrgico". Porque se você ler o Apocalipse e entender a mensagem, você vai ver que existe uma coisa acima de todas as outras que muda as más coisas. E é adorando a Deus com todo o seu coração, mente, alma e força.

Isto libera todas as coisas que o povo na terra necessita de Deus em resposta às orações dos santos. Não se discute. Não se debate. Não é demonstrado logicamente. É assumido e descrito graficamente. E o que nós rezamos? "Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu". Nosso serviço litúrgico é uma imitação do serviço celete. Nossa intercessão é uma imitação da intercessão deles. Mas como podemos fazer isso se não temos nenhuma idéia do que eles estão fazendo e eles não têm nenhuma idéia do que nós estamos fazendo? Isto não é comunhão e isto também não é o que o Apocalipse descreve.

Volte um pouquinho na Bíblia. Você pode ver isso no Apocalipse 5, 8: "...os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, cada um com uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, cantando um cântico novo". Eles não só tocam instrumentos, mas eles cantam cânticos e eles dão louvores ao Cordeiro. Depois eles fazem orações para as pessoas que estão em necessidade. E o que faz Cristo depois de suas orações? Ele por acaso diz: "Hei pessoal, as minhas orações não são o suficiente? O fato de eu ser o Sumo Sacerdote não é o suficiente para todas as necessidades do meu povo na terra como no céu? Acabem logo com isso e relaxem"?

Não, ele não disse isso. O que ele faz? Versículo 10: "Deles fizeste, para nosso Deus, uma Realeza e Sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra". O reinado deles se estende do céu para a terra. Cristo fez deles um reino de sacerdotes. Em outras palavras, o que Deus ofereceu no Monte Sinai, Exodo 19, 6 e que eles se recusaram e que depois Deus continuamente oferece através de Davi e Salomão, e eles recusam; Deus oferece através de Jesus e dos Apóstolos e Jesus aceita e estabelece, portanto, uma nova aliança baseada nesta aceitação. E através de seu poder, ele faz o que Adão, Noé, Abraão, Moisés e Davi juntos multiplicado por 100, jamais puderam fazer - um reino de sacerdotes, se recebermos na fé e cooperarmos com esta graça.

Nós somos um reino de sacerdotes. Isto enfraquece nosso Rei? Isto tira a autoridade sacerdotal de Jesus? Não. Isto manifesta-a. Como luz pura batendo num prisma mostra a beleza intrínsica oculta desta luz conforme os raios são refratados, você vê o que existe o tempo todo na luz mas não podia ver antes que fosse refratada no prisma. Esta é a beleza de Cristo, refratado pelos seus santos e suas orações de intercessão. E eles cantam a canção sobre o Cordeiro e ele falam sobre como ele recebeu o poder e a riqueza e a sabedoria e a força e a honra e a glória e o louvor. Mas o que faz Cristo com tudo isso? Ele se volta e dá isto à nós.

Eles têm tronos e coroas e o que eles fazem? Eles prostam suas coroas. Cristo as pega e as devolve a eles e diz: "Sentem-se nos tronos. Vocês são meus sacerdotes. Vocês são meus reis..." Pode-se ver isto no capítulo 4, 4: "vinte e quatro tonos, e neles assentavam-se vinte e quatro Anciãos, vestidos de branco e com coroas de ouro sobre a cabeça". Por que isso? Por que Cristo não é o suficiente? Não. Por que Cristo está longe? Claro que não. Pelo contrário, é porque estes santos confiam que a graça de Cristo é suficiente, a mesma graça que eles agora possuem como santos martirizados glorificados no céu.

Apocalipse 14, 13 diz tudo: "Ouvi então uma voz do céu, dizendo: 'Escreve: felizes os mortos, os que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham.'". Agora, nós não adoramos os santos benditos que foram martirizados e elevados e glorificados no céu. Nós não os adoramos. Na verdade, Apocalipse 19, 10 nos diz para não os adorarmos - onde o anjo aparece para João e João se prostra e o que ele diz? "Caí então a seus pés para adorá-lo, mas ele me disse: 'Não! Não o faças! Sou servo como tu e como teus irmãos que têm o testemunho de Jesus.'" Preste atenção, ouça: "É a Deus que deves adorar!" Este é o único que adoramos. E então o que fazemos? Porque nós adoramos a Deus e porque nós tentamos imitá-Lo, nós louvamos aqueles que Ele louvou. Nós honramos aqueles que Ele honra. É assim que funciona a aliança. Esta foi sempre a forma da aliança, como veremos.



Três Classes de Santos

Por todo o Apocalipse existem três classes de santos: os mártires, as virgens e os confessores, que são consistentemente mostrados como exemplo para nós. Por exemplo, Apocalipse 14, 4. No versículo 1 deste capítulo nos é dito sobre o número 144.000. As doze tribos de Israel todas doam 12.000 santos. Que tipo de santos? Nos é dito que eles cantam um cântico novo diante do trono do Cordeiro. É um cântico que ninguém podia aprender a não ser os 144.000 que foram resgatados da terra. Eu acho que deve ter sido um cântico judaico. Só os Judeus das 12 tribos de Israel é que podem cantar.

"Estes são os que não se contaminaram com mulheres pois são castos", diz a minha bíblia não-católica e nas notas de rodapé diz, "Grego: virgens". Então por que não traduzir usando "virgens"? O que são eles? Nós ousamos não dizer esta palavra muito alto, com muita frequência em nossa sociedade. Por quê? O intercurso sexual é errado? De forma alguma. É o que consuma a aliança matrimonial. É o que faz o sacramento legalmente indissolúvel. É o que traz uma nova vida, e nos tornamos co-criadores com Deus pela graça de Cristo. O intercurso é mal? Não, é bom. O casamento é mal? Não, é sagrado. É um sacramento na Igreja Católica. Ele confere a graça de Cristo ex opere operato.

Mas Deus reserva bençãos especiais para aqueles que renunciam bens terrenos que são muito bons por bens celestiais ainda melhores. 1 Corintios 7, 32: São Paulo diz, "Eu quisera que estivésseis isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma, a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido". Todas as pessoas casadas digam: "Amém".

Isto significa que não podemos servir o Senhor? Claro que não. Nós podemos servir o Senhor mas nós também temos que cuidar das coisas do mundo, temporárias e passageiras. Tudo bem. Deus usará estas coisas como meios de graça. Mas elas não são permanentes e nossas famílias aqui não são permanentes porque elas estão ligadas pelos laços da carne e sangue de Adão que terão que morrer e ressuscitar em Cristo e serem membros da família da Nova Aliança.

Isto significa que a familia é algo ruim? Não, é sagrada. Nós devemos ser sacerdotes em nossa igreja doméstica. Pais, abençoem seus filhos à noite antes deles dormirem. Cantem canções na mesa de jantar. Façam orações, eu desafio vocês a fazerem orações espontâneas de vez em quando. Isto não é um monopolio protestante. Nós podemos fazer orações tiradas de nosso coração de filhos de Deus e devemos fazê-las.

Mas São Paulo, o inspirado apostolo sem erros, está comunicando aqui o que Deus quer comunicar porque o Espírito Santo é o autor principal até mesmo destas palavras. "Digo-vos isto em vosso próprio interesse, não para vos armar cilada". Nos é permitido o casamento e ele é glorioso. "Mas para que façais o que é mais nobre e possais permanecer junto ao Senhor sem distração". E depois no versículo 38: "Portanto, procede bem aquele que casa a sua virgem; e aquele que não a casa, procede melhor ainda".

Um bom amigo meu, ex-católico e agora anti-católico me disse: "Bem, Paulo não quer dizer para a vida toda". Eu disse: "Ok, me mostra onde é que este caso se aplica". Nós olhamos e procuramos e olhamos de novo em vão. Então eu disse: "Sabe, quando se olha novamente em Apocalipse 14, 4, aqueles 144.000 virgens não eram virgens temporários. Deus faz de nós todos virgens temporários e faz de alguns virgens permanentes, mas no casamento todos nós devemos ser virgens, certo?" Não, isto não é o que a Biblia está dizendo. Nós colocamos palavras na boca de Cristo e na boca de São Paulo? Estas pessoas morreram virgens. Agora se alguém dissesse. "Bem, na Israel antiga não havia nenhuma tradição costumeira que exaltasse a virgindade". É muito triste dizer que entre os Fariseus isto é verdadeiro. Não havia tal costume. Mas você teria que pelo menos negar o que é obvio e evidente nos Manuscritos do Mar Morto e na comunidade dos Essênios de Qumram, porque eles louvavam a virgindade. Agora, se você for casado, você também pode ser um membro santo da comunidade. Flavius Josephus e Philo e outros Judeus, apesar de não serem Essênios; eles podem ter sido Fariseus, Saduceus, Zelotas; ainda assim, todos os outros grupos de Judeus sabiam que os Essênios eram os mais justos e santos.

Eram eles que louvavam a virgindade. Isto não é novidade. Maria se refere implicitamente a esta promessa de virgindade, quando ela diz: "Como é que vai ser isso, se eu eu não conheço homem algum?" O anjo poderia ter dito simplesmente: "Em alguns meses quando você se casar, vocês farão amor e vocês terão um filho". Quero dizer, ela não conhecia fatos básicos de anatomia e biologia? Como sempre disseram os primeiros Pais da Igreja, implícito naquele texto, o único sentido para ela não estar dizendo algo insensato, é ela, como os Essênios, estar entrando no casamento com um reconhecimento total da glória e santidade do matrimônio e do amor matrimonial, amor físico e sexual, mas com uma benção superior ainda maior se Deus conferisse a graça de viver virginalmente no casamento.

E é sobre isto que São Paulo fala em Corintios 7 quando ele diz: "Se seu ardor por sua noiva é muito grande" - literalmente a tradução seria "se seu ardor pela sua virgem". Algumas traduções dizem que é filha, outras que é noiva, será que é a irmã ou o quê, afinal? Bem, São Paulo estava dizendo algo que ele supõe que os cristãos de Corinto entendem claramente. E desde o começo as pessoas imitavam Maria e José, e até antes de Maria e José este costume era encontrado no judaismo entre os mais santos. Deve ser uma pílula dura de engolir para os americanos porque nós gostamos de fazer sexo de todas as maneiras diferentes possíveis. Esta é a melhor maneira de vender livros e filmes e o que quer que seja. Além do que sexo não é ruim mas é bom.

Sexo no matrimônio é sagrado. É o meio pelo qual a vida natural é co-criada com Deus. Mas existe algo ainda maior. Nós temos que fazer orações por nossos padres e religiosos, irmãos e irmãs. Eu não estou certo de que tenha existido uma cultura que tenha tão seriamente colocado-os à prova e em tentação. Nós temos que fazer orações para que eles, também, possam de alguma forma se unir aos 144.000 e nós também nos juntaremos a eles, porque junto com os 144.000, existem aqueles que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, uma grande multidão que nenhum homem pode contar. E eles cantam e adoram o Cordeiro. Eles são sacerdotes e reis. Deus não mostra parcialidade. São Paulo diz a Timoteo: "Se com Cristo sofres, com Ele reinarás". Se sofreres. E são estes que vemos reinando com Cristo no Livro no Apocalipse.

É por isso que na Ladainha de Loretto, por exemplo, temos Nossa Senhora com que títulos? Rainha dos mártires, Rainha das virgens e Rainha dos confessores e depois, Rainha dos santos, rogai por nós. Isto é tirado do Apocalipse. Nós também podemos ver em Apocalipse 20, 4-6, a mesma idéia. "Feliz e santo aquele que foi martirizado. Eles estão sentados nos tronos celestes". O que mais? "Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado o poder de julgar".

Jesus Cristo é o verdadeiro juiz. Ele está sentado no grande trono branco que é descrito em Apocalipse 20, 11. Mas então Ele tem tronos auxiliares. Por quê? Porque Ele dá a eles o poder de julgar. São Paulo diz aos Corintios: "Não sabeis que julgaremos os anjos?" Eles estão sentado nos tronos com o poder divino de julgar confiado a eles. Eles executam o julgamento de Cristo para Sua glória; por Cristo, em Cristo e com Cristo.

Então deixem que eles julguem. Deixem que eles passem a sentença. Deixem que eles descubram que coisas precisam de julgamento. Deixem que eles saibam. Façam orações a eles e peçam pela intercessão deles no único mediador porque eles são os sacerdotes de Deus e de Cristo que nos é dito neste texto no versículo 6: "Eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e com ele reinarão". Amém. Obrigado Jesus. Por quê? Porque o sacerdócio de Cristo não é o suficiente? Não, porque Cristo é um doador generoso e Ele dá uma participação a todos nós que cooperamos com esta graça.



Sugestões para conversas com não-católicos

Eu devo-lhes dizer que sempre que conversarem com não-católicos ou até mesmo alguns católicos confusos ou ex-católicos, vocês têm que alicerçar isto em Cristo. Vocês têm que colocar as raízes disso tudo em Cristo. É a vida Dele, é a graça Dele, é a santificacão Dele e na Sua beatitude que participamos. A razão pela qual os mortos são benditos em 14, 13, a razão pela qual os martires são benditos em 22, 14 é porque eles estão em Cristo; mas eles são benditos.

Quando Cristo vos abençoa, garantido o resto, você está abençoado! E é por isso que Nossa Senhora pode dizer em Lucas 1, 48: "Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada". Nós só estamos demonstrando que ela está certa e que tudo o que fazemos é nos juntar aos anjos porque, o que disseram os anjos? "Ave, cheia de graça, bendita és tu entre as mulheres". E quando clamamos a mãe de Deus, é praticamente o que Isabel diz: "A mãe do meu Senhor me visita".

Então por que o rosário é tão ofensivo? A primeira parte nada mais é do que a Escritura: "Ave-Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco. Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Santa Maria," (porque Cristo a fez santa) "Mãe de Deus," (Isabel declarou que ela era mãe do Senhor,) "rogai por nós, pecadores," (o que estamos confessando? Estamos confessando nossa própria corrupção; quero dizer, a doutrina do pecado) "Rogai por nós, pecadores," (agora porque somos fracos e dependentes) "e na hora de nossa morte,"
(quando formos para a presença de Deus). Veja toda a boa teologia que existe aí.

Nós temos a doutrina do pecado. Temos a doutrina da salvação. Temos a doutrina da graça. Temos até mesmo a escatologia, a "hora de nossa morte". Quero dizer, raramente se encontra um parágrafo num livro de teologia que tenha tanta doutrina e passagens corretas. E tudo o que estamos fazendo é ecoar o anjo e tudo o que ele estava fazendo era ecoar Jesus porque tudo o que ele é, é um mensageiro de Deus, com a mensagem de Deus.

Nós bendizemos Deus que é bendito acima de todos e depois bendizemos aqueles que ele bendiz porque esta é a natureza da aliança. Sempre foi. Genesis 27,29 fala sobre a benção de Israel: "Que os povos te sirvam, que nações se prostrem diante de ti! Sê um senhor para teus irmãos, que se prostrem diante de ti os filhos de tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar! Bendito seja quem te abençoar!" - esta foi a benção de Isaac sobre Israel.

É isto que fazemos ao venerar os santos. Nós bendizemos aqueles que Deus abençoou. "Bendito seja quem te abençoar". É esta a natureza da aliança nos Tempos Antigos e as bençãos não enfraquecem a Nova Aliança. Pelo contrário. Assim, se você é abençoado quando abençoa aqueles que Deus abençoou no passado, quanto mais você será quando bendizer aqueles que Deus abençoou em Cristo? É por fim a benção de Cristo.

Nós não fazemos orações para os santos ao invés de para Cristo. Nós rezamos através dos santos à Deus em Cristo. Mas você pode dizer isso de várias maneiras ou você pode ter significados secundários que podem estar corretos, mas por fim, os santos não atendem nossas orações. Eles ecoam nossas orações com profundidade, discernimento e amor maiores. "A oração fervorosa do justo tem grande poder!" Isto não é encontrado somente no Novo Testamento, mas é basicamente testemunhado por toda a Escritura. Não só os justos da terra mas os justos em geral, onde quer que estejam. Eles podem fazer orações e elas tem grande poder.

A palavra alemã para benção é "segnum". Ela é na verdade derivada do latim "signare", que quer dizer "fazer o sinal da cruz". A cruz é a fonte de todas as bençãos. Nós não tiramos o mérito da cruz quando bendizemos os santos que Cristo abençoa. Nós sustentamos a cruz. Nós exemplificamos a cruz. Exemplificamos a obra de Cristo. 2 Timoteo 2, 11-12: "Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos".

Nós imitamos Cristo. É este o chamado do cristão. Nós honramos aqueles que Cristo honra e da mesma forma. Este é a primeira e talvez a razão mais fundamental mas em segundo lugar, nós desejamos seguir o exemplo heróico deles ao imitarem Cristo. Eu sei, pois tenho visto muitas famílias onde se o primeiro filho é bom, os outros podem seguir seu exemplo. Eu sei por experiência própria que se o primeiro filho extravia, as chances são muito maiores de que os outros se extraviem, como aconteceu comigo. Graças a Deus, ele nos alcança não importa onde estamos ou quem somos ou o que fazemos, mas o fato é que os exemplos, especialmente os exemplos heróicos ajudam bastante.

Tudo o que fazemos é celebrar a obra de Cristo, as obras-primas de Cristo, especialmente quando se trata da Santíssima Virgem Maria. Adore a Deus e somente a Deus, mas venere, honre, bendiga aqueles que ele honra e aqueles que ele bendiz. Só estamos imitando Cristo e estamos somente nos ajudando e ajudando a outros a seguirem o exemplo heróico de Sua virtude e de Seu sacrifício.



Conclusão

Antes que eu termine, eu quero tirar uma espécie de tangente final. Talvez eu devesse tê-la feito ontem, mas eu falei bastante sobre Maria tanto hoje de manhã como ontem. Eu focalizei em Nossa Senhora ontem, então você pode pensar que eu não devesse focalizar nela nesta manhã, mas eu gosto de focalizar nela todo dia. Em particular existe uma questão que já surgiu, pelo menos implicitamente. Nós falamos sobre ela e a Igreja ensina a dulia, a veneração e a honra aos santos, mas para aquela que é a Rainha de todos os santos, devemos a hiperdulia, que não é a mesma coisa que latria, que é adoração.

Eles são finitos. Eles são criaturas. Eles estariam perdidos e mortos no pecado se não fosse pela graça de Cristo. Só Deus é infinito, eterno. Só Ele possui auto-existência. Eles têm existência. Ele é a própria existência. Jamais nos esqueçamos disto. Ajudemos outros perceberem a que jamais nos esquecemos disto e que deixamos esta distinção bem clara. E façamos de nossa adoração a Deus o melhor possível para que nossa dulia seja distinta de nossa latria.

Mas e sobre a virgindade perpétua de Maria? Nós falamos sobre Maria e hiperdulia. Falamos sobre a virtude da virgindade. Por que existe a doutrina da virgindade perpétua? Por que isto é definido "de fide" (=de fé) como algo que os católicos devem crer estar de acordo com a Igreja? Bem, por uma razão porque é verdade. Segundo, porque a Igreja sempre aceitou isto e a Igreja sempre ensinou isto. O Credo de Santo Epifanio, em 374, afirma: "Maria, sempre virgem". O Segundo Concílio de Constantinopla em 553 bem como o Concílio de Latrão em 649, também afirma: "Maria, sempre virgem". Santo Agostinho sempre insistiu nisso. Junto com Santo Agostinho, S, Jerônimo escreveu um livro sobre a Virgindade Perpétua da Santissima Virgem Maria em resposta a Helvidio, que em 380 foi a primeira pessoa nos registros verdadeiramente a negar a virgindade perpétua de Maria e a sugerir que os irmãos de Jesus eram irmãos de sangue e filhos de Maria.

S. Jeronimo nem mesmo queria escrever o livro. Ele achava Helvidio bastante esquisito. Ele disse, "isto é uma novidade maldosa e uma afronta ousada para a fé de todo o mundo". Lutero acreditava nela. Calvino afirmou-a e Zwinglio, todos eles, falaram de "Maria, sempre virgem" em seus escritos. Bem, então como é que se lida com as passagens bíblicas?

Façamos isto apenas brevemente. A irmandade de Cristo é provavelmente o maior obstáculo. Mateus 1, 25: "Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho". Eu já disse que a palavra "até" pode ser conjuntiva. O que eu quero dizer é que "até" nem sempre significa algo como: "Ela era virgem até depois de dar a luz um filho e depois ela deixou de ser virgem". Nem sempre significa isso. Por exemplo, 2Samuel 6, 23: "E Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte"; obviamente não significa que ela teve gêmeos após o funeral. Deuteronomio 34, 6 fala sobre o enterro de Moisés, que aparentemente foi Deus quem fez: "e até hoje ninguém sabe onde é a sua sepultura". Isso não significa que quando o Deuteronômio foi escrito, eles a encontraram. Eles nuncam a acharam.

Assim, a tradução de Knox de Mateus 1, 25 é que ele não a conheceu em nenhum tempo antes dela dar a luz ao primogênito. Bom, e sobre a palavra "primogenito"? Isto não sugere que houve um segundo e um terceiro? Não, claro que não, e todo mundo que conhece o Antigo Testamento percebe isto porque primogenito em Exodo 13, 2 e Exodo 34 é na verdade um termo técnico para a criança que "inaugura o ventre materno". O primogenito é consagrado automaticamente ao Senhor. Mesmo se você tiver muitos outros, aquele primogênito é consagrado e é especial.

Bom, mas você pode dizer: "Não é natural ela não ter tido relações com José". Bem, não se ela fez uma promessa sagrada que aparentemente era um costume da época, até mesmo se fosse raro. Mas vamos continuar. "Muito bem, não é natural ser casada e não ter relações com seu parceiro, mas também não é natural conceber a segunda pessoa da Divindade em seu ventre e ter seu útero transformado no tabernáculo último e cósmico da salvação para todos os filhos de Deus. Para ser posto a parte para o propósito mais sagrado imaginável em toda a história da humanidade".

Quero dizer, nós não usamos a nossa melhor porcelana para fazer pic-nic no fundo do quintal, usamos? Portanto, se Deus usou este recipiente para o propósito mais sagrado imaginável ao homem, José deve ter tido um senso de decência sobre outros usos que não deixam de ser sagrados em si mesmos, da mesma forma que copos e pratos de plástico não são profanos, mas as coisas têm o seu lugar próprio. Não é natural dar a luz à Segunda Pessoa da Trindade, ensinar a andar, a falar e a rezar, o Deus que te criou. Não seria inatural, eu penso, se você se achar nesta situação, não seria improvável devotar-se tão completamente ao serviço de Deus nesta oportunidade tão absolutamente única, espetacular e estranha.

Não se trata somente de uma família normal. A Sagrada Família é um exemplo, mas não é uma família típica porque nem todas as pessoas têm por um filho ou um irmão o Logos eterno. Isto é único. Assim, o casamento deles também era único.

E sobre aqueles que eram chamados especificamente de irmãos de Jesus? Pegue por exemplo, Tiago. Tiago, nos é dito ser o irmão de Jesus. Mas espere um pouco, se você estudar a cena da cruz, você pode entender o que isto significa. Mateus 27, 56 fala de Maria ao pé da cruz que é a mãe de Tiago e de José. Marcos 15, 40, descreve Maria como a mãe de Tiago o Menor. E depois em João 19, 25 lemos sobre Maria, mãe de Jesus e no próximo parágrafo, "Maria mulher de Cleofas".

Fica óbvio quando se correlaciona estes três textos, Mateus 27, 56; Marcos 15, 40 e João 19, 25, que Maria, a mulher de Cleofas, diferente de Maria, a mãe de Jesus, é a mãe de Tiago. Mas só depois de ter correlacionado estes três textos. Alguém pode dizer: "Mas espere aí. Mateus 10, 3 descreve Tiago como filho de Alfeu", mas a grande maioria dos estudiosos diz que provavelmente Cleofas é o nome grego para o mesmo homem que é chamado de Alfeu, porque era bem típico ter um nome aramaico, como Alfeu, e ao mesmo tempo tomar um nome grego para as pessoas de origem grega em sua comunidade, como por exemplo Cleofas. Como Saulo, o fariseu; Saulo é o seu nome judeu. Deus não disse, "Eu vou mudar seu nome para Paulo"; este já era seu nome romano legal. Isto era comum naquela época.

Eu gostaria de sugerir que considerássemos João 19 no pé da cruz. Se Jesus tivesse outros irmãos, irmãos mais velhos, como em João 7 - um monte de pessoas sustenta o fato de que ele parece ter irmãos mais velhos - então a quem você acha que ele confiaria sua mãe? A João, o discipulo amado? E se você fizer um estudo mais aprofundado a este respeito, você irá descobrir que Tiago e João eram primos de Jesus, então o que Jesus estava fazendo era confiar sua mãe a um de seus primos, o discípulo amado. Pelo menos é isto o que incontáveis estudiosos têm sustentado. O que seria bastante natural se você não tivesse nenhum irmão de sangue mas tivesse primos. E na língua hebraica não existe palavra para primo. A palavra que é usada é irmão, não só para primos mas para sobrinhos também.

Temos exemplos em abundância. Genesis 14, 14: Lot é chamado de irmão de Abraão. Tecnicamente Abraão era tio de Lot. Genesis 29, 15 fala sobre Tio Labão como sendo irmão de Jacó. Na verdade, eu acho que o oposto, Jacó é irmão de Labão. É um relacionamento de sobrinho mas em hebraico não existe palavra que represente primo. Assim, o Antigo Testamento Grego não está traduzindo o "primo" de Genesis 14, 14, mas está transliterando-o para "adelphos" ou irmão, mesmo o tradutor sabendo que se está falando sobre um primo ou um sobrinho. E o que parece acontecer no Novo Testamento é algo semelhante. Ou seja, este costume foi transferido para os livros do Novo Testamento.

"Adelphos" é usado com frequencia para denotar aqueles que podemos provar serem primos, e não "anepsios" que não é usado com frequencia porque não estava de acordo com o costume hebraico. Nós podemos continuar olhando para outros exemplos e outras provas. Mas deixe-me dizer novamente que quando esta nova descoberta, quando esta doutrina novinha de que Jesus tinha irmãos e irmãs foi introduzida por Helvidio em 380, quase quatro séculos depois de Cristo, tudo o que S. Jerônimo podia dizer é que isto é uma novidade maldosa e uma afronta ousada para a fé de todo o mundo.

Nós, irmãos e irmãs, temos um péssimo caso de amnésia. Nós esquecemos aquilo que precisamos lembrar. E não só precisamos lembrar disto, precisamos viver e amar, partilhar e aumentar o nosso conhecimento a este respeito. Afinal, você pode dizer: "Eu não tenho tempo. Não tenho energia", mas veja bem, nós temos 60, 70, 80 anos, alguns 30, 40, 50. Que melhor maneira de usar nosso tempo do que usá-lo para conhecer a Santíssima Trindade e tudo o que Cristo tem feito para nos salvar e para fazer de nós sua família? Você consegue pensar em coisas melhores para fazer com o seu tempo? Eu não.

Temos que nos preparar para uma eternidade junto de Deus. Temos que aprender a amar a adoração. Temos que aprender a amar os santos. Temos que praticá-la para que quando cheguemos lá, isto não seja tão novo e estranho. O que será estranho e novo é contemplar a glória de Cristo em suas faces, mas os laços fraternais serão fortalecidos por esta vida nos preparando para aquela reunião grandiosa, para aquele grande retorno. Porque o céu é o nosso lar. A Santíssima Trindade é a primeira família e todos os santos são nossos irmãos e irmãs.

Assim, nós imitamos Cristo. Nos mantemos firmes na antiga fé da Igreja ao venerarmos os santos, especialmente a Santissima Virgem Maria.



1Aqui Scott Hahn faz uma comparação com o baseball que eu vou tentar simplicar para o futebol...
2Aqui o autor descreve uma situação relativa ao povo americano.
3Aqui ele faz uma alegoria ao exame de época, quando não se passa no exame final.

Artigo publicado originalmente no site AgnusDei depois incorporado ao Veritatis Splendor. Tradução de Sandra Katzman.

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