terça-feira, 14 de setembro de 2010

A cruz é o símbolo perfeito do problema da dor, o Crucifixo então é a sua solução.



A primeira questão a ser introduzida na história do mundo e a qual nos trouxe tanta dor e inimizade foi: "POR QUE?".

Satanás foi o primeiro a levantar essa questão... "Mas por que Deus proibiu-lhes de comer do fruto de todas as árvores do Jardim?" (cf. Gn 3,1). Desde aquele dia até hoje nossas pobres mentes já formularam muitos "por quês", mas nenhum tanto quanto esse: "Por que existe a dor no mundo? Por que as pessoas tem que sofrer tanto? Por que a alegria é tão pouca e o sofrimento tanto?"

Esse problema da dor tem um símbolo e o símbolo é a cruz. Mas por que seria a cruz o símbolo perfeito do sofrimento? Porque ela é feita de duas barras: uma horizontal e outra vertical. A barra horizontal é a barra da morte... é como a linha da morte nos eletro-encefalogramas: reta, prostrada. A barra vertical é a barra da vida: erecta, de pé, inclinada para o alto. O cruzamento de uma barra sobre a outra significa a contradição entre a vida e a morte, entre a alegria e o sofrimento, sorriso e lágrimas, prazer e dor, nossa vontade e a vontade de Deus.

O único modo de se fazer uma cruz é sobrepor a barra da alegria sobre a barra do sofrimento. Em outras palavras: nossa vontade é a barra horizontal, enquanto a vontade de Deus é a barra vertical, na medida em que nós sobrepomos nossos desejos e nossas vontades contra a vontade de Deus, formamos assim uma cruz. Desse modo, a cruz se torna o símbolo da dor e do sofrimento.

Todavia, se a cruz é o símbolo perfeito do problema da dor, o Crucifixo então é a sua solução. A diferença entre a cruz e o Crucifixo é Cristo. Uma vez que Nosso Senhor, que é por si só o Amor, sobe na cruz, Ele nos revela como o amor pode ser transformado pelo amor num alegre sacrifício, como aqueles que semeiam em lágrimas podem colher com alegria, como aqueles que choram podem ser confortados, como aqueles que sofrem com Ele podem também reinar com Ele e como aqueles que carregam suas cruzes por uma breve Sexta Feira da Paixão possuirão a felicidade por um eterno Domingo de Ressurreição. O Amor é o ponto de intersecção onde a barra horizontal da morte e a barra vertical da vida reconciliam-se na doutrina de que toda a vida vem através da morte.

É aqui que a solução de Nosso Senhor se diferencia de todas as outras soluções para o problema da dor... até mesmo daquelas pseudo-soluções que se mascaram sob o nome de "cristãs". O mundo tenta resolver o problema da dor de duas maneiras: ou negando-o ou tentanto torná-lo insolúvel. O problema da dor é negado por um peculiar processo de auto-hipnotismo que costuma inculcar nas pessoas a idéia de que a dor é imaginária. Tenta-se torná-lo insolúvel através de uma tentativa de fuga e por essa razão o homem moderno sente que é melhor pecar do que sofrer. Nosso Senhor, ao contrário, não nega a dor e nem tenta escapar dela. Ele a encara e ao agir assim Ele nos prova que o sofrimento não é alheio nem mesmo ao Deus que se fez homem.

Vemos assim que a dor desempenha um papel definitivo na vida. É sem dúvida um fato marcante que nossas sensibilidades são mais desenvolvidas para a dor do que para o prazer e nossa capacidade de sofrer excede nossa capacidade de alegrarmo-nos. O prazer cresce até chegar a um ponto de saciedade e nós sentimos que se passasse daquele ponto se tornaria uma verdadeira tortura. A dor, ao contrário, continua crescendo e crescendo mesmo quando já choramos "o bastante". Ela atinge um ponto em que nós sentimos que não poderíamos mais suportar e ela vai se descarregando até matar.

Eu penso que o motivo pelo qual nós possuímos mais capacidade para a dor do que para o prazer é porque talvez Deus pretendia que aqueles que levam uma vida moral correta deveriam beber até a última gota do cálice da amargura aqui nesse mundo porque no Céu não existe mais amargor. Por outro lado aqueles que são moralmente bons nunca gozam o máximo do prazer aqui embaixo porque sabem que uma felicidade muito maior os aguarda no Céu. Mas deixando de lado as conjecturas, seja lá qual for a razão, a verdade que permanece é que na cruz Nosso Senhor demonstra um tipo de Amor que não pode tomar outra forma quando é contraposto ao mal, senão a forma de dor.

Para vencer o mal com o bem, uma pessoa deve sofrer injustamente. A lição do Crucifixo então é que a dor nunca pode ser separada ou isolada do amor. O Crucifixo não significa dor; significa sacrifício. Em outras palavras, ele nos diz em primeiro lugar que dor é sacrifício sem amor e em segundo, que sacrifício é dor com amor.

Primeiro, dor é sacrifício sem amor. A Crucifixão não é a glorificação da dor pela dor. A atitude cristã da mortificação algumas vezes é mal interpretada como sendo uma idealização da dor... como se nos tornássemos mais agradáveis a Deus quando sofremos do que quando nos alegramos.

Não! A dor em si mesma não possui nenhuma influência santificante! O efeito natural da dor é nos individualizar, centralizar nossos pensamentos em nós mesmos e fazer de nossa enfermidade o pretexto pra tudo quanto é conforto e atenção. Todas as aflições do corpo, tais como penitências e mortificações em si mesmo não tendem tornar o homem melhor. Aliás, frequentemente tornam o homem pior. Quando a dor é divorciada do amor ela leva o homem a desejar que os outros estejam como ele está, ela o torna cruel, cheio de ódio, amargura. Quando a dor não é santificada, ela deixa cicatrizes, queima todas as mais finas sensibilidades da alma deixando-a brutalmente desfigurada. Dor como simples dor então não é um ideal: torna-se uma maldição quando é separada do amor, pois ao invés de tornar uma alma melhor a torna pior.

Agora contemplemos o outro lado da figura. A dor não é pra ser negada e nem pra fugirmos dela. É pra ser encarada com amor e vivida como sacrifício. Analise sua própria experiência e verá que muitas vezes seu coração e mente lhe dizem que o amor é capaz de superar de algum modo seus sentimentos naturais acerca da dor, que algumas coisas que poderiam parecer dolorosas tornam-se alegria quando você percebe que podem beneficiar o próximo.

Em outras palavras, o amor pode transformar a dor em sacrifício agradável, o que é sempre uma alegria. Se você perde por exemplo, uma certa quantidade de dinheiro, tal perda não poderia ser aliviada pela compreensão de que talvez aquele dinheiro foi encontrado por uma pobre alma que tinha mais necessidade do que você? Se sua cabeça está latejando de dor e seu corpo extenuado por uma noite de vigília ao lado da cama de seu filho doente, não seria essa dor aliviada pelo pensamento de que foi através desse amor e devoção que aquela criança conseguiu superar a enfermidade? Você jamais poderia ter sentido aquela alegria e nem ter tido a mínima idéia do tamanho do seu amor se você tivesse se negado a fazer aquele sacrifício. E se o seu amor não estivesse presente, então aquele sacrifício teria sido apenas dor, incômodo e aborrecimento.

A verdade gradualmente emerge quando percebemos que a nossa profunda felicidade consiste no sentimento de que o bem ou benefício do próximo foi conquistado através do nosso sacrifício. O motivo por que a dor é amarga é porque não temos ninguém para amar e por quem nós deveríamos sofrer. O amor é a única força do mundo que pode tornar a dor suportável e a faz mais do que suportável ao transformá-la na alegria do sacrifício.

Agora, se a escória da dor pode ser transformada no ouro do sacrifício pela alquimia do amor, então daí se segue que nosso amor se torna mais profundo, a sensação de dor diminui e cresce nossa alegria no sacrifício. Mas não podemos esquecer que não existe amor maior do que o amor Daquele que entregou Sua própria vida por Seus amigos. Portanto, quanto mais intensamente nós amarmos os Seus santos propósitos, quanto mais zelosos formos por Seu Reino, quanto mais devotados formos pela maior Glória de Nosso Senhor e Salvador, mais nos alegraremos em qualquer sacrifício que possa trazer uma só alma para seu Sacratíssimo Coração. Tal é o motivo pelo qual São Paulo se gloriava em suas enfermidades e alegrias e que os Apóstolos se alegravam quando podiam sofrer por Jesus por quem eles tanto amavam.

Não é de se admirar que os maiores santos sempre disseram que a melhor e maior das graças que Deus havia concedido-lhes era o mesmo privilégio concedido ao seu Divino Filho: ser usado e sacrifícado por uma causa mais elevada. Nada poderia dar-lhes maior satisfação do que renovar a vida de Cristo em suas próprias vidas, cobrir seus corpos com os mesmos sofrimentos sofridos por Cristo em Sua dolorosa Paixão. O mundo tenta eliminar a dor. O Crucifixo a transforma através do amor recordando-nos que a dor vem do pecado enquanto o sacrifício vem do amor e que não há nada mais nobre do que o sacrifício.

O Mundo não pode dispensar o Cristo em Sua Cruz. Eis o motivo porque o mundo é triste: por que se esqueceram de Cristo e da Sua Paixão. E quanto desperdício de dor há neste mundo! Quantas cabeças que padecem dos mais diversos tipos de dor sem jamais terem se unido à Cabeça coroada de espinhos pela Redenção do mundo; quantos pés latejam de dor sem jamais terem se aliviado pelo amor Daquele cujos pés subiram descalços a colina do Calvário; quantos corpos feridos existem que não conhecem o amor de Cristo por eles. Esses não conhecem o amor que pode aliviar suas dores. Quantos corações que sofrem e padecem porque não possuem aquele amor do Sacratíssimo Coração; quantas almas que só conseguem enxergar a cruz ao invés do Crucifixo! Almas que possuem dor sem sacrifício, almas que nunca aprendem que é pela falta de amor que a dor cresce, almas que perdem a alegria do sacrifício porque não sabem o que é amar. Oh! Quão doce é o sacrifício daqueles que sofrem porque amam o Amor que sacrificou-se por eles numa cruz. Apenas para essas almas é possível compreender os santos propósitos de Deus, apenas aqueles que caminham pela noite escura são capazes de contemplar as estrelas.

Publicado originalmente no site AgnusDei depois incorporado ao Veritatis Splendor. Tradução de Gercione Lima.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Rosário em família, é um caminho de preservação dos valores cristãos


Por que João Paulo II nos pediu que rezássemos o terço em família? Que meditássemos nos mistérios da vida de Cristo por meio de Maria? Porque é dentro de nossas casas que estão eclodindo as grandes guerras mundiais. É do seio da nossa família que estão sendo gerados os piores traficantes, terroristas e assassinos da nossa sociedade. É na sala de nossa casa que as novas mentalidades estão sendo formadas para promover o favorecimento do aborto, do homossexualismo, da liberdade sexual e da desmoralização dos valores éticos e morais da família. É na mesa da cozinha com diálogos paganizados, que nossos princípios vitais estão sendo roubados, cuja origem, nunca deixou de ser Deus na sua plenitude e no seu amor. “O relançamento do Rosário nas famílias cristãs, no âmbito de uma pastoral mais ampla da família, propõe-se como ajuda eficaz para conter os efeitos devastantes desta crise de nossa época”. (Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, João Paulo II)

Nossa fé tende estar em crise diante desta nova mentalidade que o mundo vive. Somos todos os dias tentados a criticar o nosso modo de viver nossa espiritualidade católica. O mundo já se declarou contra nossos valores, sinais, símbolos e práticas religiosas já estão sendo colocadas as margens da sociedade. Mas ainda temos nosso território familiar que ainda é privado e esta sob o nosso poder de decidir o que fazemos dentro de nossa casa, que tipo de fé quero sustentar minha família, quais são os valores que quero imprimir na formação dos meus.

João Paulo II indica um caminho sábio para isso. Não é uma totalidade, nem um único caminho, mas um deles. O Rosário em família, é um caminho de preservação dos valores cristãos. É preciso reaprendermos a rezar o terço em casa, sozinho, mas sobre tudo, com a família.

Eis o convite da Igreja hoje para nós, eis o eco da voz da Mãe que pede que rezemos o terço todos os dias para a conversão das almas, eis a nossa missão quanto Católico.

“Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.”

Memórias da Ir. Lúcia

Marcelo Pereira

Porque rezamos pouco !!


O curso da história da Terra está também nas mãos de Deus

É de fé a razão principal pela qual os cristãos não rezam ou rezam pouco, afirma o Reitor do Santuário de Fátima.

“Quando se não tem fé ou se tem uma fé muito fraca pode-se, de vez em quando, pedir a Deus para ter sorte, ou para não ter azar, pode-se pedir, porventura, por medo, mas, seguramente, por motivos que não são centrais dentro daquilo que é a compreensão da relação entre Deus e o seu povo”, afirmou o Padre Virgílio Antunes, durante a homilia da missa dominical de 25 de Julho, no Santuário de Fátima.

O Reitor considera que “de facto, é difícil entender que rezamos para pedir ou para agradecer se, não temos fé, ou se não temos uma fé forte na presença de Deus na nossa vida. Não se entende porquê e para quê rezar se não acreditamos que estamos na presença de Deus, se não acreditamos que ele é o criador e senhor de tudo o que existe”.

O sacerdote reconhece que “muita gente deixou de rezar”. “De tal modo, que a oração é hoje um privilégio, ou uma prerrogativa, de pequenos grupos humanos, o caso dos sacerdotes, dos religiosos, ou de alguns leigos que têm uma formação e uma consciência mais viva da sua fé”, considera.

“Grande parte dos cristãos de hoje reduz a sua oração a uma acção de graças ocasional, alguns muito raramente, outros reduzem a sua oração à recitação de uma ou outra fórmula breve que apreenderam na catequese, outros, porventura, à participação numa missa festiva num ou noutro momento especial da sua vida pessoal ou da sua vida familiar”.

A falta de tempo, a falta de ambiente familiar e mesmo o cansaço são alguns motivos apresentados pelos cristãos como causas para a redução da oração.

Em todo o caso, para o Padre Virgílio Antunes outro motivo existe: “A razão mais profunda pela qual os cristãos de hoje rezam pouco parece ter a ver com a falta de uma segurança e de uma certeza acerca do lugar de Deus na sua vida, falta de certeza acerca da relação que existe entre Deus e nós, entre Deus e o mundo. É que nós tendemos hoje a desligar Deus do mundo e o mundo de Deus, tendemos a desligar Deus da própria criação, da própria humanidade. Alguns continuam a acreditar que ele existe, mas não sentem que a sua vida esteja nas Suas mãos, acreditam porventura que ele é todo-poderoso mas não acreditam que o curso dos acontecimentos e da história cá na Terra está também nas mãos de Deus. Acreditamos porventura que ele é a salvação, mas os nossos horizontes de salvação, reduzem-se à vida que aqui vivemos, sobre esta Terra”.

O Reitor conclui que a oração faz falta às famílias e à sociedade de hoje, “como pão para a boca”. “Quem reza ao Deus Vivo insere-se sempre num dinamismo de conversão que o coloca numa tensão para o bem, para o amor e para a verdade, que vêm somente de Deus. Porque quem reza examina sempre a sua consciência à luz da sua fé e da Palavra de Deus, porque quem reza tem noção do bem e do mal, da justiça e da injustiça, sente os apelos de paz familiar e de paz social. De facto, não é possível conviver diariamente com Deus sem sentir os seus apelos de amor, que são a &uacut e;nica realidade que pode mudar a vida de qualquer pessoa”.
Santuário de Fátima

Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor.



Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24, 42 - 44).
Ontem celebrávamos a festa do Martírio de São João, que veio para preparar a primeira vinda do Senhor. Nós fomos agraciados com o derramamento do Espírito Santo para prepararmos e apressarmos a segunda vinda do Senhor.
O Senhor não está nos dizendo isso para ficarmos assustados, mas simplesmente para que nós fiquemos sempre preparados, para que estejamos prontos quando Ele chegar. O que o Senhor vem trazer não é mau. Pelo contrário, a vinda d’Ele será a glória d’Ele e de todos aqueles que pertencem a Ele, que lutarem com Ele. Será a vitória! Será sua vitória! Depois de tantos sofrimentos e de tantas dores, virá a vitória. A vitória já é certa para Jesus e para todos aqueles que permanecerem com Ele até o fim.
A Palavra diz que o Senhor virá para instaurar céus novos, e uma terra nova. Nós não sabemos como isso se fará porque não temos como imaginar. É como uma criança em gestação que não sabe o que está do outro lado. Mesmo com dor e com aperto, quando ela nasce vê que é muito bom aqui. Assim será conosco, o nosso “parto” será para um mundo novo. Estamos “em gestação”.
Não é para ficarmos assustados, mas sim para nos alegrarmos e exultarmos porque a nossa libertação está próxima. É como uma mulher grávida, que está ansiosa e preocupada com o parto, mas quando a criança nasce, ela exulta de alegria. Agora nós estamos em um “vale de lágrimas”, mas virá o mundo novo. A única condição é que precisamos “morrer” no Senhor. Quando Ele estiver vindo, se estivermos “mortos” [ao pecado e às coisas do mundo], nós ressuscitaremos. Com corpos gloriosos, seguiremos o Senhor também em seu Corpo glorioso. Por isso, o Senhor nos alerta para sua segunda vinda.
O nosso corpo é templo do Espírito Santo, e com ele [nosso corpo] vamos ressuscitar um dia. Por isso, devemos guardar nossos corpos de todo o mal, preservando-o para a glória. O nosso corpo será glorioso.
Por isso é preciso voltar ao Senhor enquanto há tempo. É preciso que busquemos a conversão enquanto podemos! Não quero assustar ninguém, mas é preciso que nos convertamos. Se há alguma coisa de errado na sua vida, mude logo, pois o Senhor está ao seu lado, não para julgá-lo, mas para acolhê-lo. Assim como o pai do filho pródigo, Ele o espera. Volte agora! Não deixe para amanhã! Deus não vai ficar julgando você, pelo contrário, Ele vai o acolher e o amar! E se você precisa mudar em grandes coisas, mude. E se forem pequenas, vá mudando cada uma delas.
A certeza que nós temos é que ressuscitaremos quando o Senhor voltar. Se você estiver pronto quando Ele voltar a missão d’Ele será realizada, pois Ele não quer perder nenhum de seus filhos.
E nós que estivermos vivos e vivendo no Senhor seremos arrebatados até o Senhor dos ares. Já pensou se os mortos ressuscitarem e os vivos forem arrebatados e você for deixado para trás? Imagine a tristeza no seu coração quando você perceber que não soube aproveitar as chances que o Senhor lhe deu? Não perca tempo!
São Paulo diz que quem estiver vivo não precisará nem mesmo morrer, pois com um abrir e fechar de olhos, estarão com seus corpos gloriosos. Essa é uma graça que eu sei que você não quer somente para você, mas para todos os seus. Existe um lugar no céu para você e para cada um dos seus. É como um canteiro, que não é feito de uma só flor, ele precisa de todas as flores para ficar belo. Não podemos deixar ninguém! Eu quero estar pronto! Eu ressuscitarei no dia final!

A tua Igreja vai passar pela tua paixão,



Ontem fui ver a palavra de Deus, do Evangelho de hoje, para que o senhor trabalhasse no meu interior durante toda a noite, logo depois que Pedro respondeu que Jesus era o filho de Deus vivo, Jesus anúncia a eles a sua morte, e Pedro retruca, pois era impossivel a eles pensar que Jesus fosse levado a cruz e que morresse assim, mas Jesus se enche de irritação, por que os apóstolos não entenderam.
Em Lucas 9, 43-45, lá está o segundo anúncio da paixão, logo após, Jesus liberta um menino e e diz, o filho do Homem será entregue, Jesus pela terceira vez fala sobre a sua morte! A Liturgia ontem e hoje, traz os dois anúncios da paixão, Jesus está querendo dizer alguma coisa a mais para nós, isso é ontem e hoje.
Meus irmãos, antes da vinda do senhor, a Igreja vai passar pelos mesmo passos de Jesus, No filme a Paixão, Jesus foi preso, foi mostrado publicamente o que Jesus passou, e o que ele passou, a Igreja também vai passar, é por isso que o evangelho nos fala ontem e Hoje? Por que quando chegar a hora, para nós não nos escandalizarmos, não é para nos assustar não, pois foi o sumo sacerdote que o condenou, e não eles que o condenaram!
Meu Deus aquele povo viu Jesus anúnciar todas essas coisas, e realizar todos os milagres, mas Jesus foi tido como um mentiroso, como o Padre Elias vella disse hoje pela manhã, agora o evangelho vai dizer que a Igreja vai passar pelos mesmos passos que Jesus passou, como diziamos ontem a noite, infelismente vivemos um Cristianismo empurrado com a barriga, e não foi por acaso que começamos a missa com a música Levanta-te senhor, é que eu falei no inicio da missa sobre o combate Espiritual.
E quanto mais próximo chegarmos desse tempo, chegaremos na época do anti-cristo, e a luta será tremenda, quando Pedro respondeu, Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo, Jesus disse, Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja.
Vai ser uma luta tremenda, mas veja bem, após passar pela morte como Jesus passou, (prisão, paixão e morte), ele ressuscitará, para que você não se desespere. O senhor, tanto no anúncio da paixão, haverá a ressurreição, que beleza.
Volte ao profeta Zacarias, o último livro do antigo testamento, e antes está o profeta Zacarias que diz, que Jerusalém ficara sem muralha, eis que venho residir em ti, oraculo do senhor.
No final dos tempos, nem haverá muralhas, elas serão retiradas, salte de alegria, solte gritos de alegria, isso ainda não aconteceu, mas vai acontecer, assim diz o senhor, habitarei no meio deles.
Vai comigo para o livro do Apocalipse 21,1 onde são João fala, vi então um novo [[céu, e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram, vi surgir a nova Jerusalém, e Deus mesmo estava com eles.
A Bíblia se encerra com o Apocalipse, não sabemos o que acontecerá, após a vinda do senhor, o que sabemos é que teremos céus novos e terra nova, Já em Apocalipse 21, 4 está escrito, passou a primeira condição, não haverá mais choro, os que morreram em Cristo, ressuscitarão, os que sobreviveram, nem precisarão morrer, por que passamos pela provação e seremos arrebatados, dai o senhor transformará também a terra, com a terra nova, haverá Homens novos e mulheres novas.
O Jonas que aqui vos fala, será um Homem novo, o senhor transformara a terra, os que aguentarem firmes, terão uma terra nova, gente nós ainda não vimos essa terra nova, nós ainda não conhecemos a criatura humana renovada, a redenção de Jesus estará acontecendo.
Nós que sofremos, caimos, nos lameamos, nos levantemos e que aguentemos firmes, se assim fizermos chegaremos ao fim, dai haverá céus novos, terra nova, e também uma humanidade nova, assim está escrito em Ezequiel, vos darei um coração novo, e um Espirito novo.
Isso vai acabar, a tentação vai ser desterrada, será uma humanidade nova, não haverá nem morte, nem dor, nem choro, a Biblia fala de um tempo, onde os céus verão, e os próprios infernos verão a obra de Deus.
Hoje temos uma humanidade desfalecida pelo pecado, não vimos ainda a humanidade passar pela construção, enquanto está acontecendo a construção, não saberemos como ficará a reconstrução, você vai pertencer a está humanidade, dois mil anos para Deus não é nada.
Você é um convidado a pertencer a este novo tempo, a nossa situação do Brasil, como fomos enganados, gente, o que passamos no Brasil, nem se compara com o que o inimigo de Deus quer para nós, ele quer que nós nos esfacelemos, ele quer que quando o senhor vier em glória, no juizo final, ele quer que não estejamos em Deus, ele quer que mais gente não aguente.
A vinda do senhor está cada vez mais próxima, espere, espere, estou falando algo muito importante, o inimigo quer que tudo seja mole, mole, no pecado para você se acabar, se destruir, ele quer que você se afaste dos mandamentos de Deus, ele quer nos dar tudo o que a nossa carne pede, para que não possamos enxergar a glória de Deus, a vinda do senhor está próxima, muito mais próxima que ontem na minha pregação, e hoje na adoração muito mais perto que pela manhã, quando vai acontecer eu não sei, só sei que está cada dia mais próximo.
A tua Igreja vai passar pela tua paixão, e após seremos ressuscitados, arrebatados, dai teremos a nova humanidade e terra nova, sem nenhuma muralha, pois o senhor será Rei desse tempo novo.
Monsenhor Jonas Abib

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A presença de Jesus fazia maravilhas


DOM DA EUCARISTIA
O encontro do sacerdote com Jesus na Eucaristia, fonte da Nova Evangelização
Por Cardeal Van Thuan


fonte: Revista Sacerdos
Edição Maio-Junho 2003

Muitas vezes pensamos que temos de ser santos para poder celebrar dignamente os santos mistérios: não ter pecado, santificar-se. Todas as manhãs reconhecemos que somos pecadores para celebrar dignamente. Contudo, poucas vezes pensamos, ou nunca, que a celebração da Eucaristia contribui para fazer do sacerdote um homem de Deus, um santo.

I. A minha experiência pessoal

A celebração faz do sacerdote um santo. É por causa disto que eu quero compartilhar com vocês a minha experiência eucarística, assim como a experiência de outras pessoas íntimas que me marcaram com a sua fé, com a sua devoção à Eucaristia.

No seminário, minha formação se inspirou na vida do Cura D´Ars, são João Maria Vianney, e do Padre Pio. Eles me acompanharam durante toda a vida sacerdotal. Quando eu celebrava sozinho na prisão, João e Pio estavam sempre diante de mim e celebravam comigo. Foi graças ao seu sacrifício e ao seu amor pela Eucaristia que eu pude sobreviver na prisão. Lembro-me de que o Padre Pio celebrava a missa não em vinte ou trinta minutos, mas em uma hora, uma hora e meia. Ninguém reclamava da duração da missa, porque todos estavam fascinados pela sua maneira de celebrar, inclusive os bispos que assistiam. Entretanto, algumas pessoas mal-intencionadas pediram ao Santo Ofício que o proibisse de celebrar a Eucaristia desta forma, e então o Padre Pio foi obrigado a celebrar a missa em no máximo 45 minutos. O Padre Pio obedeceu à ordem, mas os fiéis pediram à Santa Sé a permissão para o frade celebrar a missa como antes, e Pio XII deu a autorização.

Alguém perguntou a São João Maria Vianney porque às vezes ele chorava e outras vezes sorria quando celebrava a missa. Ele respondeu que sorria quando pensava no dom da presença de Jesus na Eucaristia e chorava quando pensava nos pecadores que não podem receber tal dom. Quando fui preso, retiraram todos os meus pertences, mas me permitiram escrever para casa e pedir roupa e remédios. Eu pedi que me enviassem vinho em frascos de remédio para o estômago. No dia seguinte, o diretor da prisão me chamou para perguntar se eu estava mal do estômago, e se tinha algum remédio. Depois de escutar as minhas respos-tas afirmativas, me entregou um pequeno frasco de vinho com uma etiqueta que dizia “remédio para a dor de estômago”. Este foi um dos dias mais felizes da minha vida! Desta forma eu pude celebrar a missa dia após dia, com três gotas de vinho e uma gota d´água na palma da mão e com um pouco de hóstia que me davam para a celebração, e que eu guardava com muito cuidado contra a umidade.

Depois, quando estava com outras pessoas de fé católica, era abastecido de vinho e de hóstias, que os seus familiares levavam quando iam visitá-los. De um modo ou de outro, eu quase sempre pude celebrar a missa, sozinho ou acompanhado. Celebrava depois das nove e meia da noite, porque a essa hora não havia luz e conseguíamos juntar umas seis pessoas. Todos dormiam numa cama comum, 25 em cada parte. Cada um dispunha de 50 centímetros: estávamos como sardinhas

Quando celebrava e dava a comunhão, secávamos o papel dos maços de cigarro dos prisioneiros e, com arroz, os pregávamos para fazer uma pequena bolsa na qual colocávamos o Santíssimo. Todas as sextas-feiras tínhamos uma aula de marxismo, e todos eram obrigados a participar. Depois havia um pequeno intervalo, e era quando os cinco católicos levavam o Santíssimo a outros grupos. Eu também o levava num pequeno pacote que colocava na minha bolsa, e assim a presença de Jesus me ajudava a ser corajoso, generoso, amável, e a dar testemunho de fé e de amor aos outros.

A presença de Jesus fazia maravilhas, porque entre os católicos também havia alguns que eram pouco fervorosos, menos praticantes... Havia ministros, coronéis, generais e, na prisão, cada um em particular fazia uma Hora Santa todas as tardes, uma hora de adoração e de oração diante de Jesus eucarístico. Assim, na solidão, na fome... uma fome terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão.

A semente tinha sido semeada. Ainda não sabíamos como ia germinar, mas pouco a pouco, um a um, budistas, membros de diversas religiões, inclusive fundamentalistas hostis ao catolicismo manifestavam o desejo de ser católicos. Nos tempos livres eu ensinava catecismo a todos juntos. Batizava às escondidas e... era até padrinho. A presença da Eucaristia mudou a prisão, que era lugar de vergonha, de tristeza, de ódio e que tinha se transformado em lugar de amizade, de reconciliação e em escola de catecismo. Sem saber, o governo tinha feito uma escola de catecismo!

A presença da Eucaristia é muito forte, a presença de Jesus é irresistível. Eu e todos os meus companheiros de prisão somos testemunhas disto.

II. A Celebração Eucarística nos santifica

Não devemos ser santos para celebrar a Missa, mas celebrar a Missa para sermos santos.

1. In persona Christi

Quando celebramos a Santa Missa nos santificamos, porque o fazemos in persona Christi. Da mesma forma, as meditações, oração, a ação de graças, o louvor, a oblação e a intercessão.

Somos intercessores e estas funções, in persona Christi, nos ajudam a ser santos. Estas funções renovam a lembrança da nossa ordenação. São Paulo pede que nós pensemos na nossa ordenação, no momento em que nos impuseram as mãos. In persona Christi não está somente a lembrança da nossa ordenação, mas a identificação com Cristo. E quando pronunciamos as palavras da consagração, nos sentimos mais do que nunca filhos de Maria. Todas as manhãs somos renovados porque começamos uma aliança nova, sempre mais nova e eterna, que não termina. Esta identificação nos ajuda a ser santos. Também nos santificamos porque a Eucaristia é fonte da nova evangelização.

2. Fonte da nova evangelização

A Eucaristia nos ajuda a realizar a nova evangelização por todo o mundo. No Vietnã, na fronteira entre Laos e China, há uma aldeia cujos habitantes falam pouco o vietnamita, mas o entendem. Um dia, um sacerdote que vivia muito longe de lá viu um grupo daquelas pessoas caminhando e lhes perguntou para onde iam. Responderam que iam se batizar.

O sacerdote perguntou como tinham aprendido o catecismo, pois não existia um catecismo na sua língua. Responderam que tinham escutado uma estação de rádio de Manila: “Fonte da vida”. O sacerdote sabia que era uma rádio protestante, mas a rádio protestante também faz católicos! O pároco lhes convidou a ficar alguns dias com ele, para rezar e se preparar para o batismo. Eles responderam que só podiam ficar dois dias porque já tinham empregado seis pelo caminho, a pé nos montes, e devendo gastar outros tantos para voltar só tinham arroz suficiente para ficar aquele período de tempo. Nesses dois dias, o pequeno grupo de pessoas se preparou para receber o batismo e a comunhão, e assistiram à Missa pela primeira vez. Depois voltaram felizes para a aldeia de onde tinham vindo. Os comunistas os perseguiam e não davam autorização para construírem uma igreja. Então eles se organizaram, em segredo, com outros habitantes da aldeia, para dividir o trabalho da construção. Alguns se encarregariam da porta, outros das janelas, outros do piso, outros do teto. E numa noite de lua, levantaram uma pequena igreja de madeira. No dia seguinte a polícia foi atrás dos construtores e ordenou que igreja fosse destruída. Porém, toda a aldeia de 400 pessoas foi solidária e assumiu a responsabilidade da construção da igreja, que não foi derrubada.

Os recém-convertidos ao catolicismo sempre têm um vivo desejo de também levar a Palavra de Deus aos outros e, para fazer isto, às vezes têm que lançar mão de planos muito engenhosos. De fato, no regime comunista há um grande controle sobre as pessoas, que devem denunciar se alguém sai da aldeia ou entra, mesmo que seja só durante um dia. Para solucionar essas proibições são organizadas falsas brigas, e culpam como responsáveis da desordem algumas famílias que são convidadas a sair da aldeia. Essas famílias são as que depois levarão o Evangelho a outras aldeias e se transformarão em catequistas. É como no tempo dos apóstolos. Quando eu saí da prisão muitos vieram me visitar. Eu tinha conseguido para eles um rádio, para eles poderem acompanhar a Missa na estação Véritas, enquanto trabalhavam nos campos ou com os búfalos. Às nove e meia paravam o trabalho e se reuniam para assistir à Missa, escutar a pregação e recobrar forças para a nova evangelização. Estas pessoas sofrem muito, mas a presença de Jesus as ajuda.

III. A Eucaristia é força que transforma

Durante a celebração é preciso concentrar-se plenamente nos textos que são lidos, nos gestos que se realizam. Todos vocês têm a oportunidade de ver como o Papa celebra a Missa. Está tão absorvido na oração que se esquece de tudo o que está ao seu redor. Com freqüência fazem um gesto depois da comunhão para avisá-lo de que deve concluir a Missa, porque ele está transformado pela presença de Jesus.

Um dia fui convidado pelo Cardeal polonês André Deskur, amigo pessoal do Papa. Quando estávamos comendo, ele me convidou para ir ver a sua pequena capela. Fui, mas não notei nada em particular. Então o cardeal me disse que enquanto todo o prédio tem o piso de mármore, o da capela é de madeira, porque ele mandou trocar com medo de o Papa pegar uma pneumonia. De fato, desde que era sacerdote, bispo, cardeal, o Santo Padre freqüentemente rezava durante longo tempo prostrado por terra com os braços em cruz. Seu secretário me disse que ele ia sete vezes à capela para adorar o Santíssimo. É como se o Papa visse Jesus. As pessoas podem encontrar Jesus em homens como João Paulo.
Quando eu era diácono, servi a um cardeal da Armênia. Durante a bênção com o Santíssimo eu ficava impressionado com os seus gestos. Profundamente impressionado, porque quando colocava o incenso ele não estava em silêncio como todos nós, mas cantava o Tantum Ergo com tamanha devoção que transformava aquele momento em algo inesquecível. Este é o tipo de pessoas de que precisamos, porque elas encontraram Jesus e ajudam os outros a encontrá-lo.

Tive a oportunidade de constatar como a Madre Teresa rezava na igreja diante do Santíssimo. É inesquecível. Nas sacristias das casas da Madre Teresa está escrito, para ajudar os sacerdotes: “Celebra cada Missa como se fosse a tua primeira, a tua única, a tua última Missa”. A Madre Teresa pediu que escrevessem isto para lembrar a todos os sacerdotes que celebram nas suas casas. É uma graça muito grande ver como a Madre Teresa rezava diante do Santíssimo!

A formação que recebemos no seminário ajuda muito. Me comovem profundamente, até o âmago, hinos como o Sacris Solemnis, o Pange Língua, o Lauda Sion. Vemos toda a teologia nestas palavras: a fé no Santíssimo, na Eucaristia... Quando eu canto o Pange Língua – “in supreme nocte Coene, recumbens cum fratribus, observata lege plene, cibis in legalibus, cibum turbae duodenae se dat suis manibus” -, eu sinto que Jesus está presente. “Suis manibus”, que nos dá o Santíssimo! Quando eu canto o Lauda Sion não posso conter as lágrimas, porque eu vejo a graça do Senhor: “Sumunt boni, sumunt mali, sorte tamen inaequali, vitae vel interitus. Mors est malis, vita bonis; vide paris sumptionis quam sit dispar exitus”. Trata-se de um tratado de teologia viva, narrativa.

Então, o que devemos fazer com a nossa vida?

“Eucaristizar”. Transformar tudo em Eucaristia, para podermos ter o homem eucarístico, a Igreja eucarística, a terra eucarística, e assim toda a vida será Eucaristia. O mundo eucarístico da Igreja que crê, que espera, que guia, que está destinada à Restauração, que proclama a Trindade, que sempre renova o mundo, a sociedade. E estes são os meus bons desejos e a minha oração por todos vocês. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Nota:

O Cardeal Van Thuan foi presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Faleceu em Roma no dia 16 de setembro de 2002, depois de uma dolorosa doença. Estas meditações foram pregadas nos exercícios espirituais dirigidos aos membros do Centro Pastoral Logos, em fevereiro de 2002.

Cardeal Van Thuan, testemunha da esperança


ardeal Van Thuan, testemunha da esperança


Maria Auristela B. Alves

O Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan teve como lema de vida a esperança que enche de amor o momento presente. Mantido prisioneiro pelo regime comunista durante 13 anos, 9 dos quais em total isolamento, não ficou de “braços cruzados” esperando a libertação; ao contrário, com a criatividade própria do amor, fez-se amigo dos carcereiros, construiu para si um crucifixo, celebrou a eucaristia clandestinamente e escreveu três livros. Depois de uma vida luminosa, morreu vitimado pelo câncer em setembro de 2002.

Francisco Nguyen Van Thuan nasceu no dia 17 de abril de 1928, numa família que conta numerosos mártires da fé. Sua mãe, todas as noites, contava-lhe histórias bíblicas e narrava-lhe testemunhos de mártires, especialmente de seus antepassados.

Van Thuan foi ordenado sacerdote em 11 de junho de 1953. Formado em Direito Canônico, em Roma, retorna ao Vietnã e é nomeado professor e reitor do seminário.

Em 1967, é ordenado Bispo de Nhatrang, no centro do Vietnã, diocese pela qual sempre confessou predileção. Oito anos depois, Paulo VI o nomeou Arcebispo coadjutor de Saigon. Ardoroso animador dos leigos e jovens, prepara-os para participarem dos conselhos pastorais.

Poucos meses depois, porém, foi preso pelo regime comunista: “Disseram-me que minha nomeação era fruto de um complô entre o Vaticano e os imperialistas para organizar a luta contra o regime comunista”, conta Van Thuan. Era o dia de Nossa Senhora da Assunção, 15 de agosto de 1975.

Rumo à prisão, tomou uma decisão importantíssima: “Vinham-me à mente muitos pensamentos confusos: tristeza, abandono, cansaço depois de três meses de tensões... Porém, em minha mente surgiu claramente uma palavra que dispersou toda a escuridão, a palavra que Monsenhor John Walsh, Bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de doze anos de cativeiro: ‘Passei a metade da minha vida esperando’. É verdadeiríssimo: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada minuto sua libertação. Porém, depois decidi: ‘Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor’.”

De fato, foi o que fez: amou, amou, amou. As condições não eram favoráveis. Durante alguns meses esteve confinado numa cela minúscula, sem janela, úmida, que para respirar passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. A cama era coberta de fungos.

Os nove primeiros anos foram terríveis: “uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela desde a manhã às nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura”.

Buscava conversar com os carcereiros, que resistiam, mas logo eram seduzidos por sua gentileza e inteligência. Contava-lhes sobre países e culturas diferentes. Isso chamava sua atenção e instigava a curiosidade. Logo começavam a fazer perguntas, o diálogo se estabelecia, a amizade se enraizava. Chegou a dar aulas de inglês e francês.

No começo, a cada semana os guardas eram substituídos, mas logo as autoridades, para evitar que o exército todo fosse “contaminado”, deixou uma dupla de carcereiros fixa. Estes espantavam-se de como o prisioneiro pudesse chamar de amigos os seus carcereiros, mas ele afirmava que os amava porque esse era o ensinamento de Jesus.

Como o amor é criativo, Van Thuan encontrou também um jeito de se comunicar com seu rebanho: “Em outubro de 1975, fiz um sinal a um menino de sete anos, Quang, que regressava da missa às 5 horas, ainda escuro: ‘Diz à tua mãe que me compre blocos velhos de calendários’. Mais tarde, também na escuridão, Quang me traz os calendários, e em todas as noites de outubro e novembro de 1975 escrevi da prisão minha mensagem ao meu povo. Cada manhã o menino vinha recolher as folhas para levá-las à sua casa e fazer que seus irmãos e irmãs copiassem-na”. Assim foi escrito o livro “O Caminho da Esperança”, posteriormente publicado em oito idiomas: vietnamita, inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, coreano e chinês.

Em 1980, na residência obrigatória de Giang-xá, no Norte do Vietnã, sempre de noite e em segredo, escreveu seu segundo livro: “O caminho da esperança à luz da Palavra de Deus e do Concílio Vaticano II”; depois o terceiro livro: “Os peregrinos do caminho da esperança”.

Sempre inspirado pela criatividade amorosa, Van Thuan escreveu uma carta aos amigos pedindo que enviassem um pouco de vinho, como remédio para doenças estomacais. Assim, a cada dia, três gotas de vinho e uma de água eram suficientes para trazer Jesus eucarístico à prisão. Os pedacinhos de pão consagrado eram conservados em papel de cigarro, guardado no bolso com reverência. De madrugada, ele e os poucos católicos detidos ali davam um jeito de adorar o Senhor escondido com eles.

Um dia, enquanto trabalhava de lenhador, Van Thuan pediu ao amigo carcereiro: “Queria cortar um pedaço de madeira em forma de cruz... Feche os olhos, farei agora e serei muito cauteloso. Você vai andando e me deixa só”. Assim, conseguiu como companheira aquela rústica cruz feita por ele mesmo.

Para completar sua obra, pediu: “Amigo, você me consegue um pedaço de fio elétrico?” Este ficou espantado, sabia que quando prisioneiros conseguem fios, suicidam-se. Mas Van Thuan explicou: “Queria fazer uma correntinha para levar minha cruz”. Saindo da prisão, com uma moldura de metal, aquele pedaço de madeira tornou-se sua cruz peitoral.

O Cardeal Van Thuan foi libertado no dia 21 de novembro de 1988. Em 1994 deixou o Vietnã e foi para Roma, onde presidiu o Pontifício Conselho Justiça e Paz.

Foi criado Cardeal em 21 de fevereiro de 2001. Escreveu mais um livro: “Testemunhas da esperança”, no qual relata sua experiência de prisioneiro. Fazia questão de dizer que não se trata de um livro para fazer denúncias, mas testemunhar o dom da esperança. Vitimado pelo câncer, faleceu no dia 17 de setembro de 2002.

Os cinco defeitos de Jesus
Van Thuan declara-se apaixonado pelos defeitos de Jesus e os descreve no livro “Testemunhas da esperança”:

PRIMEIRO DEFEITO: JESUS NÃO TEM MEMÓRIA
No calvário, no auge da indescritível agonia, Jesus ouve a voz do ladrão à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino” (Lc 23,43). Se fosse eu, teria respondido: “Não vou esquecê-lo, mas seus crimes devem ser pagos por longos anos no purgatório”. No entanto, Jesus respondeu-lhe: “...hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus esqueceu todos os crimes desse homem.

Semelhante atitude Jesus teve com a pecadora que banhou os seus pés com perfume... Não faz nenhuma pergunta sobre seu escandaloso passado. Simplesmente diz: “Seus inúmeros pecados estão perdoados, porque muito amor demonstrou” (Lc 7,47)...
A memória de Jesus não é igual à minha...

SEGUNDO DEFEITO: JESUS NÃO “SABE” MATEMÁTICA
Se Jesus tivesse se submetido a um exame de matemática, por certo teria sido reprovado... “Um pastor tinha 100 ovelhas. Uma se extravia. Ele, imediatamente, deixa as 99 no redil e vai em busca da desgarrada. Reencontra-a, coloca-a no ombro e volta feliz” (cf. Lc 15,4-7).

Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove e, talvez, até mais. Quem aceita tal procedimento? Sua misericórdia se estende de geração em geração...

TERCEIRO DEFEITO: JESUS DESCONHECE A LÓGICA
Uma mulher possuía 10 dracmas. Perdeu uma. Acende a lâmpada; varre a casa... procura até encontrá-la. Quando a encontra convida suas amigas para partilhar sua alegria pelo reencontro da dracma... (Lc 15,8-10)... de fato, não tem lógica fazer festa por uma dracma... O coração tem motivações que a razão desconhece... Jesus deu uma pista: “Eu vos digo que haverá mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte...” (Lc 15,10).

QUARTO DEFEITO: JESUS É AVENTUREIRO
Executivos, pessoas encarregadas do “marketing das empresas”, levam em suas pastas projetos, planos cuidadosamente elaborados... Em todas as instituições, organizações civis ou religiosas não faltam programas prioritários; objetivos, estratégias...

Nada semelhante acontece com Jesus. Humanamente analisando, seu projeto está destinado ao fracasso.

Aos apóstolos, que deixaram tudo para segui-lo, não garante sustento material, casa para morar, somente partilhar do seu estilo de vida. A um desejoso de unir-se aos seus, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20)...

Os doze confiaram neste aventureiro. Milhões e milhões de outros igualmente. Já vão lá mais de dois mil anos e a incalculável multidão de seguidores continua a peregrinar. Galerias enormes de santos e santas, bem-aventurados, heróis e heroínas da aventura. No Universo inteiro esta abençoada romaria continua... Vai que este aventureiro tem razão...? Neste caso, a mais fantástica viagem na “contramão” da história será a verdadeira...! “A quem iremos?”...

QUINTO DEFEITO: JESUS NÃO ENTENDE DE FINANÇAS NEM ECONOMIA
Se Jesus fosse o administrador da empresa, da comunidade, a falência seria uma questão de dias. Como entender um administrador que paga o mesmo salário a quem inicia o trabalho cedo e a outro que só trabalha uma hora? Um descuido? Jesus errou a conta? ...

Por que Jesus tem esses defeitos? Porque é o Deus da Misericórdia e Amor Encarnado. Deus Amor (cf. 1Jo 4,16). Portanto, não um amor racional, calculista, que condiciona, recorda ofensas recebidas. Mas um amor doação, serviço, misericórdia, perdão, compreensão, acolhida... Em que medida? Infinita.

Os defeitos de Jesus são o caminho da felicidade. Por isso, damos graças a Deus. Para alegria e esperança da humanidade, esses defeitos são incorrigíveis.

“Votar Bem”APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS


m nota, Regional Sul 1 pede divulgação do texto "Apelo a todos os Brasileiros e Brasileiras"

NOTA DA COMISSÃO EPISCOPAL REPRESENTATIVA DO CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL 1 – CNBB


A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua Reunião ordinária, tendo já dado orientações e critérios claros para “VOTAR BEM”, acolhem e recomendam a ampla difusão do “APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS” elaborado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 que pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico “www.cnbbsul1.org.br”.

São Paulo, 26 de Agosto de 2010.

Dom Nelson Westrupp, scj
Presidente do CONSER-SUL 1

Dom Benedito Beni dos Santos
Vice-presidente do CONSER-SUL 1

Dom Airton José dos Santos
Secretário Geral do CONSER SUL 1


APELO A TODOS OS BRASILEIROS E BRASILEIRAS


Nós, participantes do 2º Encontro das Comissões Diocesanas em Defesa da Vida (CDDVs), organizado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB e realizado em S. André no dia 03 de julho de 2010,

- considerando que, em abril de 2005, no IIº Relatório do Brasil sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, apresentado ao Comitê de Direitos Humanos da ONU (nº 45) o atual governo comprometeu-se a legalizar o aborto,

- considerando que, em agosto de 2005, o atual governo entregou ao Comitê da ONU para a Eliminação de todas as Formas de Descriminalização contra a Mulher (CEDAW) documento no qual reconhece o aborto como Direito Humano da Mulher,

- considerando que, em setembro de 2005, através da Secretaria Especial de Polítíca das Mulheres, o atual governo apresentou ao Congresso um substitutivo do PL 1135/91, como resultado do trabalho da Comissão Tripartite, no qual é proposta a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez e por qualquer motivo, pois com a eliminação de todos os artigos do Código Penal, que o criminalizam, o aborto, em todos os casos, deixaria de ser crime,

- considerando que, em setembro de 2006, no plano de governo do 2º mandato do atual Presidente, ele reafirma, embora com linguagem velada, o compromisso de legalizar o aborto,

- considerando que, em setembro de 2007, no seu IIIº Congreso, o PT assumiu a descriminalização do aborto e o atendimento de todos os casos no serviço público como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir este programa,
- considerando que, em setembro de 2009, o PT puniu os dois deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem contrários à legalização do aborto,

- considerando como, com todas estas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do Imperialismo Demográfico que está sendo imposto em nível mundial por Fundações Internacionais, as quais, sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher, e usando o falso rótulo de “aborto - problema de saúde pública”, estão implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional,

- considerando que, em fevereiro de 2010, o IVº Congresso Nacional do PT manifestou apoio incondicional ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3), decreto nª 7.037/09 de 21 de dezembro de 2009, assinado pelo atual Presidente e pela ministra da Casa Civil, no qual se reafirmou a descriminalização do aborto, dando assim continuidade e levando às últimas consequências esta política antinatalista de controle populacional, desumana, antisocial e contrária ao verdadeiro progresso do nosso País,

- considerando que este mesmo Congresso aclamou a própria ministra da Casa Civil como candidata oficial do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República,

- considerando enfim que, em junho de 2010, para impedir a investigação das origens do financiamento por parte de organizações internacionais para a legalização e a promoção do aborto no Brasil, o PT e as lideranças partidárias da base aliada boicotaram a criação da CPI do aborto que investigaria o assunto,

RECOMENDAMOS encarecidamente a todos os cidadãos e cidadãs brasileiros e brasileiras, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defende a inviolabilidade da vida humana e, conforme o Pacto de S. José da Costa Rica, desde a concepção, independentemente de sua convicções ideológicas ou religiosas, que, nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalizacão do aborto.

Convidamos, outrossim, a todos para lerem o documento “Votar Bem” aprovado pela 73ª Assembléia dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, reunidos em Aparecida no dia 29 de junho de 2010 e verificarem as provas do que acima foi exposto no texto “A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil” (http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf), elaborado pelas Comissões em Defesa da Vida das Dioceses de Guarulhos e Taubaté, ligadas à Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, ambos disponíveis no site desse mesmo Regional.

COMISSÃO EM DEFESA DA VIDA DO REGIONAL SUL 1 DA CNBB

MARTENIDADE DE MARIA





a)Enquadramento Histórico
1) Perspectivas Bíblicas
2) Desenvolvimento Patrístico
3) Maria Mãe de Deus
4) Aprofundamento Teológico

b)Apreciação Crítica
1) Ambiguidades de Linguagem
2) Predominância Devocionista
3) Maternidade de Maria e Encarnação
4) Ambiguidades do Título Mãe de Deus


a) Enquadramento Histórico

1- Perspectivas Bíblicas

O Novo Testamento refere-se várias vezes a Maria como mãe de Jesus. São Paulo, sem mencionar o seu nome, faz-lhe referência, ao dizer que Jesus nasceu de uma mãe judia (Gal 4, 4). Liga Jesus à casa de David (Rm 1, 3). No evangelho de São João, Maria aparece nas bodas de Caná ao lado do Seu filho Jesus (cf. Jo 2, 1-11). Mas São João diz que isto aconteceu três dias depois, para dizer que Maria só esteve à Mesa com os discípulos a partir da Ressurreição de Jesus (cf. Act 1, 12-14).

Maria é o grande dom maternal que o Senhor, ao ressuscitar, oferece à Igreja: “Então Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. Depois, disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E desde aquela hora, (a hora Jesus), o discípulo acolheu-a como sua mãe” (Jo 19, 26-27). Nos evangelhos, Jesus reconhece Maria como Sua mãe, mas não a chama nunca de mãe. A intenção dos discípulos é clara: afirmar que aquilo que Jesus é como Messias não é obra da carne nem do sangue, nem da vontade do homem, mas sim de Deus (cf. Jo 1, 12-14; Lc 11,27-28; Mc 3, 31-33).

Com o relato das Bodas de Caná, João sugere que Maria não é a origem da vocação messiânica de Jesus, mas como sua mãe é a grande mediação do Espírito Santo. É este o significado de Jesus, nas bodas de Caná, actuar antes da hora. A água viva e o vinho das bodas significam o dom do Espírito Santo que Jesus ia oferecer quando chegasse a sua hora (Jo 7, 37-39; cf. 1, 4).

Maria, com o seu jeito maternal de modelar a personalidade de Jesus, foi a grande mediação da acção maternal do Espírito Santo. Por outras palavras, a maternidade de Maria foi a maior mediação do Espírito Santo para o acontecimento messiânico. A missão messiânica, no entanto, não é obra de Maria mas sim do Espírito Santo. A hora de Jesus é obra do Espírito Santo, não de Maria (Jo 2, 4b). Quando chegou a sua hora, Jesus entrega Maria aos apóstolos, a fim desta ser para a Igreja nascente o que foi para Jesus: a mediação maternal do Espírito Santo (Jo 19, 26-27).

Maria, ao princípio, teve certa dificuldade em compreender e aceitar a missão messiânica de Jesus (Mc 3, 31-35). Podemos ter a certeza de que não foi Maria que influenciou Jesus no sentido de ele agir como Messias. São Paulo ao falar das diversas aparições de Cristo ressuscitado aos que lhe eram mais íntimos, menciona um aparição a Maria. Por se tratar de uma mulher, o seu nome não podia aparecer entre as testemunhas da ressurreição.

São Paulo encobre o nome de Maria com o de Tiago, o nome do mais velho dos irmãos de Jesus: “Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os apóstolos” (1 Cor 15, 7). E não pensemos que Paulo estaria a pensar noutra pessoa qualquer, pois o próprio Paulo refere o mesmo Tiago como o irmão de Jesus: “Passados três anos subi a Jerusalém, a fim de conhecer Pedro (Cefas) e fiquei com ele durante quinze dias. Mas não vi nenhum apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor” (Ga 1, 19).

Os Actos dos Apóstolos dizem que a mãe e os irmãos de Jesus, após a ressurreição do Senhor, faziam parte da Igreja nascente (Act 1, 14).O evangelho de Marcos diz que, em Nazaré, toda a gente conhecia Jesus como o filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão. Também eram conhecidas as suas irmãs (Mc 6, 3).

O evangelho de São João reconhece, tal como os sinópticos, que Maria era a mãe de Jesus e seu pai era José: “Não é ele o filho de José, de quem conhecemos o pai e a mãe?” (Jo 6, 42a) Mateus confirma estes dados quando afirma: “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Suas irmãs não estão todas entre nós?” (Mt 13, 55-56a).

O facto de os evangelhos não darem muito realce à família de Jesus, é para afirmar que a sua missão messiânica consistia em construir a família de Deus e não uma família humana. Por isso Jesus afirma que a sua mãe, seus irmãos e irmãs são os que acolhem a Palavra de Deus que ele anuncia (Lc 8, 19; Mt 12, 46; Mc 3, 31).

É este o sentido da afirmação de Jesus segundo a qual o verdadeiro Pai de todos é Deus Pai: “Na terra a ninguém chameis pai. Um só é o vosso Pai: aquele que está nos céus» (Mt 23, 9). Na Família Universal que Jesus está a iniciar Deus é o Pai de todos. Jesus reforça este ensinamento dizendo que agora, ao orarmos, devemos dirigir-nos a Deus chamando-a de Pai-Nosso (Mt 6, 9). Chamar Deus Pai de Pai-Nosso, é o mesmo que chamar a Deus Filho e aos demais seres humanos de irmãos, pois já formamos todos a Família de Deus.

O Espírito Santo, com seu jeito maternal de amar, é quem nos introduz nesta Família definitiva (Rm 8, 14-17; Ga 4,4-7). É pela mediação e pela ternura maternal que as pessoas são introduzidas no seio da sua família! É esta a razão pela qual São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus difundido nos nossos corações (Rm 5, 5). Deus Pai acolhe-nos na Família Divina na medida em que formamos uma união orgânica com o Filho (Jo 15, -8; 1 Cor 10, 17; 12, 27; 12,13). Por outro lado, o princípio vital que alimenta esta união orgânica com Cristo é o Espírito Santo (Lc 11, 13; Jo 15, 26; Rm 8, 14; Gal 4, 5-7).


2- Desenvolvimento Patrístico

O dinamismo e a linguagem bíblica desaparecem da teologia no século segundo. O judeo-cristianismo recusa-se a aceitar o mistério da Santíssima Trindade. Como sabemos, o monoteísmo judaico é unipessoal: Deus é um sujeito único cujo nome é Yahvé. O Espírito Santo, conduzindo a Igreja pela mediação do termo Filho e sua relação com o Pai, chega ao mistério da Santíssima Trindade. Por outras palavras, o monoteísmo cristão é tripessoal. O uno, em Deus, é a sua comunhão orgânica, dinâmica indissolúvel. O plural, na Divindade, é constituído por três pessoas: Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Os cristãos de origem judaica não conseguem fazer a passagem para a noção comunitária de Deus. Abandonam a Igreja formando um grupo fechado chamado os “Ebionitas”, isto é, os pobres de Deus. Eis a razão pela qual a teologia, agora, passa a desenvolver-se apenas em categorias helenistas.

Para o pagano-cristianismo, a incarnação vai ser vista em termos de biologisação do Logos. O Logos vem cá abaixo, forma o corpo de Jesus no seio de Maria e encerra-se dentro desse corpo. Como consequência, Maria transporta dentro de si e durante nove meses o Logos, isto é, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, como diz Inácio de Antioquia: “O nosso Deus, Jesus Cristo, foi levado no seio de Maria segundo a economia divina. Nasceu da semente (sémen) de David e do Espírito Santo” (Inácio de Antioquia, Ef. 7, 18). Inácio diz ainda que o facto de Jesus ter nascido da Virgem foi um mistério oculto do Demónio e foi o começo da nossa salvação (Inácio de Antioquia, Ef., 7, 19).

Santo Ireneu sublinha que o pecado de Adão se propaga pelo pai. Como Cristo não teve pai humano, não herdou o pecado de Adão (Adv. Haer. II, 21, 10). A maternidade de Maria, portanto, tinha de ser virginal, a fim de Jesus não herdar o pecado de Adão. Graças à maternidade virginal de Maria o Novo Adão não pertenceu à estirpe pecadora do velho Adão. Movido pelo Seu grande amor à humanidade, diz Santo Ireneu, o Filho de Deus, igual ao Pai, quis nascer de uma virgem, a fim de ligar a humanidade rebelde com Deus (Adv. Haer, I, 10, 1; III, 4, 1-2).

Apesar desta influência dos mitos gregos na sua linguagem da Encarnação, os Santo Padres dos séculos segundo e terceiro defendem equilibradamente a condição humano-divino de Jesus. Jesus era homem porque germinou no seio de uma terra humana. Se não tivesse grandeza humana, o Filho de Deus não podia ter ligado a humanidade à divindade. Assim como o primeiro Adão foi tirado da terra ainda virgem, isto é, o barro primordial, o segundo Adão nasceu de uma virgem [Adv. Haer, 2, 21, 10]. Apesar desta dificuldade em falar da Encarnação em termos bíblicos, os Santos padres combatem o gnosticismo que é de facto a grande distorção acerca da encarnação.

O docetismo gnóstico afirmava que Jesus tinha apenas um corpo aparente, pois era o Logos a exprimir-se para os homens. Tinha uma aparência de corpo para se fazer entender dos homens. Mas na verdade, Cristo não tinha corpo biológico, pois era o Logos, o Filho de Deus. Deus não tem sémen biológico. Portanto, só aparentemente o corpo de Jesus era de carne.

Santo Ireneu ataca este radicalismo dizendo que, sem corpo biológico, Jesus não teria salvo a humanidade. Adão, primeira cabeça da humanidade, desorientou o corpo. Cristo, ao ser constituído nova cabeça da humanidade, reconduz o corpo para o ritmo certo. Isto não podia ter acontecido se Ele não tivesse sido verdadeiro homem (Adv. Haer., 1, 10, 1).

No século terceiro, Tertuliano afirma que não há salvação para os que combatem a maternidade de Maria. O gnosticismo, ao afirmar que Jesus tinha apenas um corpo aparente, negava que Ele fosse verdadeiramente filho de Maria. Para Tertuliano o Verbo é Deus e é eterno como o Pai. Ao tomar carne humana não precisou de a tomar de nenhum homem (De Car. 18).

Por outras palavras, o Verbo tomou carne humana, embora de modo não humano: “Esta é a nova vida que faz o homem nascer de Deus. Neste homem (Jesus) Deus nasceu tomando carne de linhagem humana, embora de modo não-humano. Deste modo, renova espiritualmente a Humanidade e limpa-a da mancha hereditária. Este novo nascimento, em virtude do qual o Senhor nasceu de uma virgem, segundo uma racional economia, tem, como todas as outras coisas, uma figura antiga. A terra estava ainda virgem, isto é, ninguém a tinha ainda lavrado nem lançado nela a semente quando Deus plasmou nela o homem vivo. Por conseguinte, como se diz, o primeiro Adão foi tirado da terra. Do mesmo modo, o novo Adão, como lhe chama o Apóstolo, devia ser tirado por Deus de uma terra, isto é, de uma carne, a qual não tinha sido fecundada por nenhum homem, em ordem à geração” (De Car., 19).

No entanto, Tertuliano afirma que Maria, no momento de dar à luz, perdeu a virgindade (De Car. 23). A ideia de Maria ter perdido a virgindade com o parto ainda não era contestada por ninguém. Eis a razão pela qual ninguém contradisse Tertuliano. No século Segundo, Santo Ireneu afirmava que apenas foi salvo aquilo que foi assumido por Cristo. No século seguinte, Tertuliano deixa-se conduzir pelo rigorismo montanista. Uma vez que Cristo não é Cristo não é fruto de uma relação sexual, Cristo não assumiu a sexualidade. Devido a isto os pecados do sexo não têm perdão, pois Jesus Cristo apenas obteve o perdão e a salvação para aquilo que assumiu, como diz Santo Ireneu. Tudo isto vai contribuir enormemente para a visão negativa da Igreja a propósito da sexualidade.

No Oriente, Orígenes segue a mesma linha que Tertuliano assumiu no Ocidente. Segundo Orígenes, para salvar a humanidade, tinha de ser homem, mas tinha de ser fruto de uma maternidade virginal. Como não podia ser herdeiro do pecado de Adão, o Logos encarnou no seio de uma virgem [Hom. in Lev., 12, 4].


3- Maria, Mãe de Deus

São Gregório de Nazianzo, no século quarto, afirma que Cristo foi formado no seio de Maria de modo humano-divino. Divino porque não provém de sémen humano; humano, porque a sua gestação se processou no seio de Maria segundo os processos humanos (cf. Gregório Nazianzeno, Lit. 101). Tertuliano, no século terceiro, dizia que Deus nasceu do seio da virgem. No século quinto, São Leão Magno afirma que o salvador devia ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O único caminho para isto poder acontecer seria nascer de uma virgem, isto é, sem o concurso de um homem, a fim de estar livre do pecado de Adão (cf. S. Leão Magno, Sermones, 22, 1-4).

Esta visão das coisas vai culminar na questão da maternidade divina de Maria. Por outras palavras, Maria é Mãe de Deus (Theotocos). A questão nasce em contexto polémico, acabando num concílio polémico (Concílio de Éfeso), em que os partidários das duas opiniões opostas se excomungam mutuamente. Na origem estão duas escolas teológicas que utilizam filosofias diferentes: Alexandria e Antioquia. Alexandria participava do neoplatonismo e Antioquia pertencia à corrente aristotélica. Constantinopla pertencia ao patriarcado de Alexandria cujo patriarca era Cirilo.

Tudo começou com a nomeação de Nestório como bispo de Constantinopla. Nestório tinha uma maneira aristotélica de ver as coisas. O aristotelismo é analítico e indutivo. O platonismo é dedutivo e, portanto, muito mais especulativo. Uma vez instalado na sede episcopal de Constantinopla, o bispo Nestório, nos seus sermões, começa a pregar que é mais acertado dizer que Maria é mãe de Cristo, do que dizer que é mãe de Deus. Maria gerou apenas a natureza humana de Jesus, não a sua natureza divina. Além disso, dizer Cristo era dizer não só o homem como também o Logos, pois os dois formam um.

Os monges de Constantinopla eram de formação neoplatónica. Chocados com a linguagem do novo bispo, acusam-no ao patriarca de Alexandria, Cirilo, dizendo que têm um bispo herege. Para o neoplatonismo, o homem é um composto de corpo e alma. Estas duas realidades formam apenas uma natureza humana. Apesar de não gerar a alma, a mãe de um homem é considerada mãe do corpo e da alma. O Filho de Deus é homem e Logos. Forma uma só natureza (fysis) divina. A mãe de Cristo é, portanto, também mãe de Deus. Assim surge a questão de Maria Christotocos ou Theotocos (mãe de Cristo ou mãe de Deus).

Os antioquenos formulavam a questão melhor que os alexandrinos. No entanto, estes tinham mais influência em Roma do que aqueles. Cirilo recorre ao papa e obtém todos os poderes para solucionar a questão. Para os antioquenos a divindade do Logos não anulou a humanidade de Cristo, nem lhe tirou a autonomia. Para os alexandrinos de formação neoplatónica, a humanidade de Jesus era dirigida pela divindade como o corpo é dirigido pela alma. Daqui que falassem apenas de uma fysis ou natureza em Cristo.

Os antioquenos falavam de duas fysis ou naturezas, a saber: a humana e a divina. Por fysis os antioquenos entendiam princípio autónomo de acção. Os alexandrinos, pelo contrário, entendiam o elo de união. Em Cristo há um só elo de união. O princípio superior comandava o inferior. Cirilo escreve a Nestório no sentido de o obrigar a retratar-se. Este recorre aos antioquenos os quais tinham cultura aristotélica como Nestório. O patriarca de Antioquia toma o partido do Bispo de Constantinopla. Mas o bispo de Constantinopla dependia de Alexandria e não de Antioquia e Cirilo convoca o concílio de Éfeso. Aos alexandrinos parecia-lhes que os antioquenos, ao falarem de duas naturezas, estavam a falar de duas coisas não perfeitamente interligadas. Era um pouco como se a humanidade e a divindade de Cristo fossem duas ilhas isoladas, embora fazendo um arquipélago. A grande questão, portanto, era saber de que modo o humano e divino estão unidos em Jesus Cristo.

De modo derivado aparece, naturalmente, a questão da maternidade de Maria. Ela é mãe da humanidade de Cristo ou também da Sua divindade? Tudo depende do tipo de união que existe entre estes dois pólos da realidade de Cristo. Para nós, hoje, a questão parece simples. Para estes homens era realmente um problema difícil.

Os antioquenos tiveram problemas na viagem e chegam atrasados. Enviam um emissário, pedindo a Cirilo para atrasar o começo do Concílio por uns dias, pois estão com dificuldades na viagem. Cirilo não quis esperar e inaugurou o Concílio. Quando chegaram os antioquenos, já os alexandrinos tinham excomungado Nestório e declarado o dogma de Maria mãe de Deus. Os antioquenos ficam profundamente magoados e excomungam Cirilo e os alexandrinos. Por sua vez, estes excomungam os antioquenos. Vêm os soldados do imperador e obrigam os Padres Conciliares a regressar aos seus patriarcados. Foi assim que terminou o Concílio de Éfeso que proclamou o dogma de Maria, mãe de Deus.

Mais tarde, Cirilo compreendeu o pensamento dos antioquenos e diz que a linguagem destes é mais adequada para dizer a realidade de Cristo. Eis a razão pela qual nós, hoje, dizemos que em Cristo há duas naturezas perfeitas, isto é, a natureza humana e a divina. Cirilo compreendeu que Cristo é perfeitamente homem e que, portanto, a sua humanidade não é anulada nem substituída pela divindade do Logos. Agora, é Cirilo que vai ser acusado de traidor pelos monges e teólogos da escola alexandrina.

O Novo Testamento, ao falar de Maria como mãe de Jesus está a falar apenas da mãe de um homem. Os evangelhos insistem que a condição messiânica de Jesus não é obra da maternidade de Maria, mas sim do Espírito Santo. Mas os conceito e a linguagem bíblica há muito que tinham desaparecido da Igreja.

A cidade de Éfeso, antigo centro de culto da deusa Ártemis (Act 19, 35), delira com a proclamação de Maria mãe de Deus. As velhas raízes ligadas ao culto de uma deusa são agora canalizadas para uma virgem que é mãe de Deus. Segundo a tradição de Éfeso, a estátua de Ártemis caíra do céu (Act 19, 35b). Paulo opôs-se a este culto idolátrico, dizendo-lhes que a estátua de Ártemis não é divina, mas é obra dos homens. É um ídolo sem valor feito pelas mãos dos homens (Act 19, 36). Isto revoltou os fabricantes de estátuas que sublevaram o povo contra Paulo, procurando matá-lo (Act 19, 29).


4- Aprofundamento Teológico

Ao desviar-se da linguagem bíblica, a teologia pode gerar confusões e tensões muito difíceis de resolver. Foi realmente o que aconteceu por diversas ocasiões ao longo da história de Igreja e, neste caso em particular no Concílio de Éfeso. O Novo Testamento usa uma linguagem muito simples e transparente ao falar de Maria, a mãe de Jesus. Ao designar Maria como mãe de Jesus, o Novo Testamento não atribui a este título qualquer conotação especial. Ela é a mãe de um homem que Deus ungiu e consagrou com o Espírito como Messias (Rm 1, 3-5; 9, 5; Act 2, 22; Act 2, 32-33; Act 10, 38).

Como sabemos, a Cristologia do evangelho de São João tem como pano de fundo a ideia do Logos preexistente encarnado (Jo 1, 1ss). Mesmo neste evangelho Maria é designada simplesmente como mãe de Jesus, sem que isso signifique qualquer associação com o Logos (Jo 2, 1; 2, 12). Ao chegar o momento da Sua glorificação, Jesus insere-a no número dos discípulos (Jo 19, 26-27). É aí que, segundo os Actos dos Apóstolos, ela aparece a viver as alegrias da experiência pascal com os discípulos e os irmãos de Jesus (Act 1, 14).

Para os evangelhos, a condição messiânica de Jesus é obra do Espírito Santo e não é fruto da carne ou sangue (cf. Lc 4, 18-21). É igualmente pelo Espírito Santo que os crentes são gerados como membros da Família de Deus (Jo 1, 12-14). Por isso é preciso nascer de novo (Jo 3, 6; 1, 12-13; Rm 8, 14-17; Gal 4, 4-7).

Hoje não é difícil verificar que a linguagem de Nestório era mais adequada para o alcance da maternidade de Maria. A realidade humana de Jesus não se confunde nem é anulada pela Sua realidade divina. Maria, para o Novo Testamento, é mãe de Cristo, o homem que Deus ungiu com o Espírito para realizar a sua missão messiânica (Lc 4, 18-21).

Em termos preexistentes, Maria não é a mãe do Logos eterno, pois o Logos não se biologisou. Se assim fosse, Maria era, não a mãe de Deus, mas a mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Seria assim porque teria alimentado a biologia do Logos com o Seu próprio sangue. O mistério da Encarnação processa-se a um nível suprabiológico. Supõe a interacção directa e imediata entre a interioridade espiritual de Jesus de Nazaré e a interioridade espiritual divina do Logos. Estes dois pólos estão em perfeita reciprocidade relacional, graças à acção do Espírito Santo.

É isto que queremos dizer quando afirmamos que O Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo. No mistério da Santíssima Trindade, o Pai e o Filho estão em total reciprocidade amorosa de tipo paternal-filial, alimentada pela ternura maternal dói Espírito Santo. Do mesmo modo, a interioridade humana de Jesus está em perfeita reciprocidade relacional com a interioridade divina do Logos. Nesta união interactiva nem o divino anula o humano, nem este limita ou mutila o divino.

O mistério da Encarnação passa-se ao nível da interioridade espiritual humana de Jesus com a interioridade espiritual da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Isto significa que o coração de Jesus, isto é, o seu núcleo espiritual mais íntimo, estava permanentemente em interacção com a interioridade do Logos pelo Espírito Santo. Quando o Novo o evangelho de João chama a Jesus Cristo filho de Deus, inclui o homem pleno e também o Logos.

Se O Novo Testamento utiliza como confissão central da Fé a expressão “Deus é o Pai de Cristo”, porque razão havia de ser problema dizer que Maria é a “Mãe de Cristo”? Como sabemos, Deus é uma comunidade de três pessoas. Para indicar a unidade humano-divina de Cristo poderíamos aceitar a expressão “Maria mãe de Cristo que é o homem Jesus de Nazaré e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Mas se quiséssemos falar com rigor, o termo mãe de Deus sugere que é mãe do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Deus é a comunidade trinitária. Por isso não falamos de três deuses. O Uno em Deus é a comunhão trinitária. O plural são as pessoas e cada uma delas é única, original, irrepetível e com missões distintas.

Maria é a mãe de Cristo. Isto implica dizer o homem Jesus de Nazaré e a Segunda pessoa da Santíssima Trindade. Pela Encarnação, o Filho Eterno de Deus fez-se nosso irmão. Por isso não é problema dizer que ele é filho de Maria. Por outras palavras, o termo mãe de Deus é teologicamente menos adequado que o termo mãe de Cristo para significar o papel de Maria na história da Salvação.

Este aspecto não é indiferente, pois é uma mediação para dizer adequadamente a realidade de Deus. O monoteísmo cristão não é igual ao das demais religiões monoteístas. Deus, para as religiões monoteístas, é um «Eu». Para o cristianismo, Deus é um «Nós», isto é, uma comunidade familiar de três pessoas.

Dar o nome de mãe de Deus a Maria, obscurece o facto de Deus ser uma comunidade de pessoas e não aclara o mistério da Encarnação. Sem o pretender, o Concílio de Calcedónia acaba por dar razão a Nestório, dizendo que Maria é mãe de Deus segundo a humanidade. Sem a restrição de Calcedónia, Maria ficava quase uma deusa virgem e mãe.

Nos três evangelhos sinópticos, Jesus declara que veio para construir a família de Deus, a qual assenta nos laços o Espírito Santo e não nos laços da carne. É este o sentido da afirmação de Jesus segundo a qual, os que acolhem a Palavra de Deus são a família de Jesus (Mc 3, 35). É evidente que isto não quer dizer que os familiares de Jesus não façam parte desta família criada no Espírito.

A prova de que Maria e os irmãos de Jesus fazem parte desta família espiritual é que, após a Páscoa, eles são membros activos na comunidade de Jerusalém (Act 1, 14). O mais velho dos irmãos do Senhor, Tiago, aparece mesmo como o chefe da comunidade de Jerusalém (Act 15, 13-21;Ga 1, 19). Vimos também como Maria e os irmãos do Senhor tiveram uma experiência pascal semelhante ao grupo dos apóstolos, a qual aparece designada como experiência de Tiago, o primeiro dos irmãos de Jesus (1 Cor 15, 7). Até ao século quarto, Maria era designada como mãe de Jesus ou mãe de Cristo, sem que cause qualquer problema. A linguagem mudou, como vimos, com a polémica entre os monges de Constantinopla e o bispo Nestório, a qual deu origem ao concílio de Éfeso.


b) Apreciação Crítica

1- Ambiguidades de Linguagem

Muitas das afirmações mariológicas acerca da maternidade divina de Maria careciam, em geral, de rigor teológico e tinham pelo meio muitas ambiguidades de linguagem. Esta situação, no entanto, agrava-se com o suceder dos séculos. Assim, por exemplo, em meados do século vinte, diz-se que Maria alimentou o próprio Deus com o Seu leite: “O seu corpo foi o trono da virtude. O verdadeiro santuário de Deus. Maria estreitou Deus contra o Seu próprio peito. Alimentou-o com o Seu leite. Defendeu-o com terna fidelidade” (Giovani Barra, Nuestra Señora y las conversiones, in Theotocos, op. cit. p. 231).

É evidente que afirmações deste tipo não são mediação para a transmissão da verdade de Deus e do homem. É verdade que não foi fácil à teologia equacionar a unidade humano-divina, sobretudo, afirmar os dois pólos da realidade de Cristo (o humano e o divino) sem os anular nem os confundir. Em 380, o Concílio Romano afirmava que em Cristo não existem dois filhos de Deus: o anterior a todos os séculos e o que nasceu no tempo (cf. Denz. 64). Esta dificuldade deve-se ao facto de se ter perdido a noção bíblica de filho de Deus e de incarnação.

É importante termos presente que a humanidade de Jesus não foi anulada pela divindade do Logos. Pela incarnação, a humanidade de Jesus ficou orgânica e dinamicamente ligada ao Logos. Para acontecer o mistério da Encarnação não foi preciso romper-se a comunhão trinitária. Por outras palavras, a união orgânica de Jesus de Nazaré com a Segunda pessoa da Santíssima Trindade acontece pelo Espírito Santo no sentido da interioridade de Jesus.

Não esqueçamos que Deus é a interioridade máxima do Universo. É interior a tudo e a todos. Por outras palavras, para acontecer a Encarnação o Filho Eterno de Deus não teve que se deslocar. Bastou fazer uma interacção directa, animada pelo Espírito Santo, a partir da interioridade transcendente da Santíssima Trindade para a interioridade espiritual de Jesus de Nazaré.

O helenismo dificultou aos Santos Padres uma formulação adequada desta verdade. É importante salvaguardar a autonomia da humanidade e da divindade em Jesus Cristo. Estas duas dimensões não se misturam nem confundem. Esta autonomia foi defendida pelos concílios cristológicos posteriores a Niceia. Quando Jesus comia, não estava a alimentar o Logos. O alimento ou dinamismo vital deste é a reciprocidade amorosa com o Pai no Espírito Santo: “Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 57).

No mistério da encarnação, portanto, o pólo divino não se anula nem se confunde com o humano ou vice-versa. Cada um continua a existir na sua grandeza própria. Entre os dois pólos há proporcionalidade e unidade perfeita, pois a missão messiânica compete tanto ao Filho Eterno de Deus como a Jesus de Nazaré, o filho de Maria. São na realidade duas interioridades pessoais: uma humana, outra divina. Eis a razão pela qualquer havia condições para acontecer a encarnação: a Divindade é pessoas e a Humanidade também.

As pessoas humanas não são iguais às divinas, mas são proporcionais. Se assim não fosse, a encarnação também podia acontecer num animal. Mas isto não seria encarnação mas possessão. O mesmo podemos dizer se Jesus fosse, como tantas vezes parecer fazer-se crer, uma casca de homem dentro da qualquer estava o Logos a substituir a interioridade pessoal-espiritual de Jesus.

Estas duas interioridades espirituais estão em permanente interacção no Espírito Santo, tal como acontece a interacção entre a interioridade do pai e do Filho no Espírito Santo, fazendo apenas um: “ Eu e o Pai somo Um” (Jo 10, 30). Esta interacção supõe dois movimentos complementares: incarnação ou adequação do divino ao humano e ascensão ou plenificação do humano no divino.

É evidente que não é Maria, mas sim o Espírito Santo que alimenta e fortalece esta interacção humano-divina. Com efeito, a realidade de Cristo é humano-divina. Ele é o fruto mais amadurecido da humanidade. Maria gerou, naturalmente a humanidade de Jesus e é a Mãe de Cristo no seu todo, pois a missão do Logos e a de Jesus é uma e a mesma.

A questão da mãe de Deus foi solucionada de modo conflituoso e ambíguo na sua linguagem. Por isso não ficou satisfatoriamente resolvido. Eis a razão pela qual o Concílio de Constantinopla diz que, se alguém afirma que Maria é christotocos (mãe de Cristo) e não theotocos (mãe de Deus), seja excomungado (Denz. 218, 214).

Mas o Concilio corrige os exageros do concílio de Éfeso dizendo que Maria é mãe de Deus segundo a humanidade, não segundo a divindade. Fica assim suavizada a afirmação de Éfeso, embora usando uma linguagem pouco clara. Ainda em 1931, Pio XI afirmava: “Se a pessoa de Cristo é única e esta é divina, sem dúvida que Maria deve ser chamada por todos não só mãe de Cristo homem, mas também mãe de Deus ou theotocos” (cf. Pio XI, Lux Veritatis, 1931).

Entre os autores medievais, Santo Tomás foi o que melhor formulou a questão da maternidade de Maria. Eis como ele formula a questão: “Ela é a mãe do Verbo de Deus, não enquanto Ele é o Filho do Pai, mas enquanto subsiste na natureza humana” (S. Th. 3, q. 3, a. 8). Podemos dizer que Santo Tomás formula a questão de maneira equilibrada. Maria não é a mãe do Verbo. Este precede-a. Diz que Maria não é mãe de Deus no sentido de que Deus tenha resultado de uma geração humana (S. Th. 3, q. 4, a. 3).

Mas também Santo Tomás não consegue ultrapassar as ambiguidades. Por exemplo afirma que foi o Verbo que preparou a Sua própria humanidade no seio de Maria (S. Th. 3, q. 6, a. 5). Não se vê bem o papel de Maria ou o do Espírito Santo. Esta expressão de Santo Tomás quase dá a impressão que o Logos veio ao seio de Maria preparar o recipiente no qual havia de se meter. S. Agostinho foi mais feliz ao dizer que Maria foi bem-aventurada na medida em que concebeu Cristo no Seu coração pela fé (De Virginit., 3).


2- Predominância Devocionista

A partir da Idade Média, o critério subjacente aos mariólogos parecia ser este: é melhor mariólogo o que consegue dizer coisas mais fantásticas de Maria. Com este tipo de procedimento pretendia-se aumentar a devoção mariana. O critério era a devoção, não o aprofundamento da verdade bíblico-teológica. A devoção a Maria valia mais que o rigor da verdade. Quando o critério é a devoção pouco importa a exactidão da fé. Faz-se de Maria a medianeira de todas as graças. Quanto mais devoção, mais graças.

Este género de procedimento levou a afirmações desligadas do fundamento bíblico da fé. Se Maria é a medianeira de todas as graças, dizia Pio IX, ela possui mais graça sozinha que todos os santos e eleitos juntos (Pio IX, Inneffabilis Deus). Com a entrega simbólica de Maria ao discípulo amado, o Quarto Evangelho quer exprimir que, chegada a Sua hora, Jesus passa a ser o Filho de Deus na plenitude da Sua missão, que não é obra da carne nem da vontade humana, mas exclusivamente de Deus (Jo 1, 12-13).

Santo Agostinho dizia que Maria, sendo mãe de Cristo, é nossa mãe, poiso Cristo e os cristãos formam uma só pessoa mística. Maria, sendo a mãe da cabeça, torna-se igualmente mãe do corpo. O princípio vital que alimenta a nossa união a Cristo é o Espírito Santo (Santo Agostinho, In Ps. 26, II, 2). A vida do Espírito vem da cabeça para os membros (In Ep. I Joah., 3, 5).

A noção de Maria mãe de todas as graças não deriva do património bíblico-patristico da fé. É fruto do devocionismo. No século Doze, Hermano de Tournai dizia de maneira bastante equilibrada e aceitável: “O filho de Maria é nosso irmão. Por conseguinte, Maria é nossa mãe” (cf. Melchor de Santa Maria, Maria en los escritos de los doce primeiros siglos, in Theotocos, op. cit. p. 83).

Devido aos exageros do devocionismo, Maria quase ocupava o lugar do Espírito Santo que é amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). Há um grande exagero nesta afirmação de Melchor de Santa Maria: “Deus criou todas as coisas sozinho. Por isso deve ser chamado nosso Pai e nosso Senhor. No entanto, não quis voltar a criar-nos, isto é, restaurar as coisas perdidas sem o concurso de Maria” (Melchor de Santa Maria, Maria en los escritos de los doce primeiros siglos, in Theotocos, op. cit. 84). Afirmações como esta carecem de rigor teológico. Cristo foi ungido pelo Espírito Santo para restaurar a Humanidade decaída (Lc 4, 18-21). Afirmações como esta fazem de Maria um ser tão imprescindível como Deus.

3- Maternidade de Maria e Encarnação

É importante afirmar que a devoção mariana não é matéria suficiente para fazer Mariologia. Separada da fé esclarecida, a devoção não passa de adesão cega. Pelo contrário, iluminada pela fé, a devoção é compreensão, reconhecimento e adesão ou imitação. Através de Jesus, o Logos exprimiu-se em grandeza humana pelo Espírito Santo. O Espírito é o princípio relacional e comunicativo de Deus. Pela mediação da humanidade de Jesus, os homens são incorporados na família de Deus. São Paulo diz na primeira Carta a Timóteo que Jesus é o único medianeiro entre Deus e os homens (1Tm 2, 5).

A Mariologia tradicional fazia, por vezes, afirmações totalmente descabidas de sentido como, por exemplo esta afirmação de Judica Cordiglia: “No momento do ‘fiat’, o Verbo iniciou, nas entranhas de Maria, a sua vida humana” (Judica Cordiglia, Semblanza físico-somática de Maria, in Theotocos, op. cit., p. 171). Por outro lado, este mesmo autor faz do Logos um gémeo de Maria: “Aconteceu que esta célula germinativa (óvulo de Maria), no seu estádio antecedente à maturação, possuía no seu núcleo a totalidade dos elementos essenciais (cromossomas), juntamente com os vectores dos caracteres dos gerador, os genes. Não se desenvolveu segundo o processo natural de redução (meiose), mas desenvolveu-se sem se modificar, de tal modo que o novo ser humano veio assumir as características somáticas só da mãe. Foi uma cópia idêntica dela. Por outras palavras, seu gémeo. Contudo, este gémeo é masculino devido ao influxo que pode exercer determinados genes no desenvolvimento do embrião para a masculinidade” (Judica Cordiglia, Semblanza físico-somática de Maria, in Theotocos, op. cit., p. 170).

Estamos perante uma falta total de rigor de linguagem. Cordiglia não se apercebeu de que o cromossoma sexual chamado «Y», determinante da masculinidade, não existe na mulher normal. Depois continua a fazer afirmações sem qualquer sentido. Uma vez presente no seio de Maria, o Logos começa a exercer sobre Maria, sua mãe, efeitos miraculosos: “Jesus, portanto, influenciará o corpo de Maria durante a fase de embrião, como acontece com todos os embriões. Não apenas de um modo contingente, mas eterno, como é próprio dele” (Judica Cordiglia, Semblanza físico-somática de Maria, in Theotocos, op. cit., p. 171).

A biologisação da encarnação levou a afirmar uma mudança na própria vida do Verbo. Em pleno século vinte, alguns autores pensavam que, pelo facto de Maria ser geneticamente gémea de Jesus, o seu corpo biológico não sofreu a corrupção. Daqui que se afirmasse a assunção de Maria como um acontecimento biológico: “Quando dois gémeos derivam do mesmo óvulo, isto é, têm o mesmo património hereditário, assemelham-se tanto no corpo como no carácter. Têm a mesma vida e destino. Do mesmo modo, e com maior razão, podemos admitir que o corpo de Maria, tal como o corpo de Jesus, fosse liberto por Deus da corrupção da morte e predestinado para ressuscitar e subir aos céus, tal como aconteceu com o corpo de Jesus” (Nicola Pende, Maria a la luz de la ciência biológica, in Theotocos, op. cit., p. 176).

Eis outra afirmação que vale apenas para confirmar como a devoção não é fundamento sério para fazer teologia: “A eternidade entra no tempo por meio do seio de Maria. Ai está a energia divina que, como um fermento, leveda toda a massa humana. O germe que se desenvolve e cresce. O Reino de Deus que começa na terra” (Raimondo Spiazzi, Maria en la realización histórica del plano de salvación, in Theotocos, op. cit., p. 194).

Paulo vê as coisas de modo diferente. Fala do homem originado no céu pelo Espírito Santo. Os homens novos, a nova criação é obra de Deus (cf. 1Cor 15, 46; 2Cor 5, 17). Os Padres dos séculos segundo e terceiro, mantêm uma postura bastante mais equilibrada do que os mariólogos de meados do século vinte. São Justino fala de Maria como a Nova Eva, a terra virginal que gerou o Novo Adão (Dial. Tryph., 100). Santo Ireneu diz que Maria é a mediação para o acontecimento de Cristo (Adv. Haer., V, 19, 1). Lucas, ao compor o cântico do Magnificat, situa Maria no conjunto dos grandes personagens bíblicos. Ela é a síntese da caminhada do povo bíblico para o acontecimento messiânico.


4- Ambiguidade do Título de Mãe de Deus

4.1- Insuficiente rigor teológico

O problema do devocionismo, na Mariologia, começou no século quinto. Quando Nestório disse que Maria gerou apenas a natureza humana de Cristo estava a dizer uma coisa correcta. Muitos destes problemas eram apenas uma questão de linguagens diferentes. Não deixa de ser curioso que a história dos dogmas conheça duas condenações heréticas que, em si mesmas, são contraditórias: o monofisismo e o duofisismo. Condena-se que Cristo tenha uma só natureza e condena-se que Cristo tenha duas naturezas. No fundo, as pessoas estavam a afirmar a mesma coisa com linguagens diferentes.

Cirilo, atacando Nestório, parecia mais inexacto que Nestório: “A virgem é mãe de Deus (theotocos), pois deu à luz, carnalmente, o Deus-Verbo feito carne” (Conciliorum Oecumenicorum Decreta, nº 59, Bolonha, 1972). Foi esta tese de Cirilo que venceu no concílio de Éfeso. No entanto, a que veio a vingar na história da Igreja foi a de Antioquia: Em Cristo há duas naturezas numa só «hypóstasis», isto é, numa única unidade subsistente. Com tudo isto pretendia-se afirmar um aspecto fundamental da fé: Jesus é tão plenamente humano como divino. No entanto, o termo theotocos continuou a ser o único a ser considerado correcto.

No Concílio de Calcedónia já domina o pensamento aristotélico, que era afinal o dos antioquenos que foram condenados no concílio de Éfeso. Calcedónia, como vimos, diz que Maria é mãe de Deus segundo a Sua humanidade. Referindo-se a Cristo, o Concílio de Calcedónia diz que a natureza humana e a divina, em Cristo, não se fundem nem confundem. Permanecem numa substância harmónica (prosopon-hypóstasis). As duas naturezas subsistem numa só pessoa subsistente, segundo a linguagem da época (Conciliorum Oecumenicorum Decreta, Bolonha, 1972, nº 86). Hoje podemos dizer que Jesus Cristo, enquanto gerado por Maria, é um homem em tudo igual a nós, excepto no pecado. Enquanto interligado com o Logos, no Espírito Santo, é a expressão do próprio Filho de Deus a comunicar-se em grandeza relacional humana.

4.2- Uma exegese Inadequada

Não é difícil encontrarmos contradições enormes entre os autores. Isto deve-se ao facto de seres inspirados pela devoção e não pelo rigor da investigação. Vejamos uma afirmação absolutamente vazia de sentis e que mutila a verdade de Deus e do Homem: “O nascimento temporal (de Cristo) comporta maternidade real de Maria, mas não reciprocamente filiação real da parte de Cristo. Embora consubstanciada a Maria por sua humanidade, a ausência de pessoa humana no Filho de Deus incarnado implica ausência de nova filiação em face dela” (K. Elisabeth Borresen, Maria na Teologia católica, in Conc. Nº188, 1983, p. 79).

Que maneira de magoar Jesus de Nazaré e a sua mãe! A tradução de theotocos (mãe de Deus) para o latim exprimiu-se por «Dei genitrix» (aquela que gerou Deus). Esta tradução contradiz o concílio de Calcedónia. O termo «Dei genitrix» fazia de Maria uma grandeza divina preexistente. É certo que não se entendia isso, mas a expressão obnubilava a realidade de Deus. O Concílio Vaticano II foi muito mais equilibrado nas suas afirmações sobre Maria do que a Mariologia tradicional. É certo que chama Maria de “Mater Dei” (Lumen Gentium, nº 53; cf. nº 66 e nº 69]. Mas o termo já não tem o alcance da “Dei genitrix”. Maria, como mãe de Jesus, tem um papel ímpar na história da salvação.

A Sua maternidade, no entanto, situa-se na linha das mediações humanas. A recuperação do sentido bíblico de Cristo, Filho de Deus e da dinâmica da Encarnação é fundamental para os homens poderem perceber o alcance maravilhoso do projecto de Deus para todos nós

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