segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A serpente e a Ave Maria; a salvação por meio do Santo Rosário, da confissão e da comunhão



Em sua crônica particular escreve Dom Provera em dia correspondente à última semana de agosto:

"(São) João Dom Bosco teve uma nova prova dos contínuos assaltos promovidos pelo demônio contra as almas, dos prejuízos que ocasiona, da necessidade de empregar-se em contínuas batalhas para rechaçá-lo e arrancar-lhe suas vítimas. Militia est vita hominum super terram. (Nesta Terra, a vida do homem é uma batalha contínua.)

Um centenar de alunos tinham retornado de casa para preparar-se, depois dos exames de reparação, ao novo curso escolar.

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, o bom pai disse:

Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites.

Talvez trata-se da noite precedente à festividade da Asunção — observa Dom Lemoyne —.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, vem para mim um desconhecido e convida-me a acompanhar-lhe. Segui-lhe e conduziu-me a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me entre a erva uma enorme serpente de sete ou oito metros de longitude e de uma grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.


— Não, não, — disse-me meu acompanhante —; não fujas; vem comigo.


— Ah!, — exclamei —, não sou tão néscio para me expor a um tal perigo.


— Então — continuou meu acompanhante —, aguarda aqui.


E seguidamente foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:


— Tome esta corda por uma ponta e sujeite-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e assim a manteremos suspensa sobre a serpente.


— E depois?


— Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal.


— Ah! Não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará.


— Não, não; deixe-me a mim — acrescentou o desconhecido —, eu sei o que faço.


— De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida.


E já dispunha-me a fugir, quando o tal insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava disposto a fazer o que me dizia.


Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:


— Sujeite bem a corda, sujeite-a bem, que não se lhe escape.


E correu a um peral que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela.


Enquanto isso a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez que morreu, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne.


Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:


— Presta atenção!


Colocou a corda em uma caixinha, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham ido a meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!


— Mas como é possível?, — disse —. Você colocou a corda na caixinha à boa de Deus e agora aparece dessa maneira.


— Olhe — disse ele —: a serpente representa ao demônio e a corda a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Avemarias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer, destruir a todos os demônios do inferno.


Até aqui — concluiu (São) João Dom Bosco — chega a primeira parte do sonho. Há outra segunda parte mais interessante para todos. Mas já é tarde e por isso a contaremos amanhã de noite. Enquanto isso tenhamos presente o que disse àquele desconhecido respeito à Ave Maria e o Santo Rosário. Rezemos devotamente ante qualquer assalto da tentação, seguros de que sairemos sempre vitoriosos. Boa noite!


O rezo da Ave Maria e do Santo Rosário, devoções características da espiritualidade salesiana

"Seja-nos permitido — diz Dom Lemoyne — fazer algum comentário, já que (São) João Dom Bosco não deu nenhuma interpretação a esta cena.

O Peral que aparece no sonho é o mesmo ao que o (Santo) amarra uma corda assegurando o outro lance da mesma a outra árvore pouco distante, para entreter com jogos de destreza a seus conterrâneos, obrigando-lhes desta maneira a escutar suas lições de catecismo. Parece-nos poder comparar esta pereira com aquela planta da qual se lê no " Cântico dos Cânticos ", capítulo II, versículo 3: Sicut malus ínter ligna silvarum, sic dilectus meus ínter filios.(Como a macieira entre as árvores da floresta, gosto de sentar-me à sua sombra, e seu fruto é doce à minha boca.)

O comentarista Tirino e outros renomados intérpretes da Sagrada Escritura, fazem notar que a pereira representa aqui a qualquer árvore frutífera. Dita planta, produtora de uma sombra agradável e salutar, é símbolo de Jesuscristo, de sua cruz, da virtude da qual emana a eficácia da oração e a segurança da vitória. Será este o motivo pelo que em um extremo da corda, fatal para a serpente, foi atada à pereira? E a outra ponta amarrada à grade da janela poderia simbolizar que ao morador daquela casa e a seus filhos tinha sido confiada a missão de propagar o Rosário por toda parte.

A si parece que o compreendeu (São) João Dom Bosco.

Em Becchi instituiu a festa anual do Santo Rosário; quis que os alunos de suas casas rezassem todos os dias a terceira parte do mesmo (o terço); em suas conversas e mediante a publicação de numerosos folhetos procurou ressuscitar esta devoção no seio da família. Defendia sempre que o Rosário era uma arma capaz de proporcionar a vitória, não só aos indivíduos, mas também a toda a Igreja. Por isso seus discípulos publicaram todas ás Encíclicas de Leão XIII sobre esta oração tão do agrado da Maria.

Amanhã seguiremos com o relato da segunda parte deste sonho cheio de ensinamentos e conselhos.
(M. B. Volume VII, págs. 238-239)
Anteriormente tínhamos iniciado a narração deste sonho de São João Bosco relativo ao papel da oração na nossa salvação eterna e especificamente através do rezo do Rosário. Na parte de hoje São João Bosco acrescenta o papel da confissão e comunhões freqüentes como meios poderosos para nos afastar do mal, mas retomemos o relato das Memórias Biográficas de São João Bosco.


Exposta a nossos leitores — continua Dom Lemoyne — nossas pobres idéias sobre o significado da casinha de Murialdo e da árvore vista por (São) João Dom Bosco no sonho, façamos uso da Crônica de Dom Provera, que oferece-nos outras diversas circunstâncias do sonho, citando algumas palavras de (São) João Dom Bosco.


Diz assim: "Em 21 de agosto de noite estávamos todos impacientes por ouvir a segunda parte do sonho que (São) João Dom Bosco tinha anunciado proclamando de grande interesse e proveito para todos, mas nossos desejos não ficaram satisfeitos. (São) João Dom Bosco subiu, como de costume, a sua tribuna e disse:


—Ontem noite anunciei-lhes que hoje ia contar-lhes a segunda parte do sonho, mas muito a meu pesar acredito que não devo manter minha palavra.


Seguidamente, de todas partes se elevou um murmurinho que indicava a contrariedade e o desgosto geral. O (Santo), depois de deixar que se serenassem os ânimos, prosseguiu:


— O que querem? Pensei-o ontem de noite, pensei-o hoje e convenci-me que não é conveniente contar a segunda parte de sonho, pois contém coisas que não quereria se soubessem fora de casa. Contentem-se, pois, tirando algum proveito do que lhes disse ao narrar-lhes a primeira parte.


Ao dia seguinte, que era 22 de agosto, rogamos-lhe insistentemente que se não queria fazê-lo em público, ao menos nos contasse em privado a segunda Parte do sonho. Resistia a condescender com nossos desejos, mas depois de reiteradas súplicas acedeu e assegurou-nos que de noite continuaria o relato. Assim o fez. Rezadas as orações, continuou:


"Dadas suas contínuas petições, contarei a segunda parte do sonho. Se não tudo, ao menos dir-lhes-ei aquilo que posso referir-lhes. Mas antes é necessário que assinale uma condição, ou seja, que ninguém escriba nem diga fora de casa o que vou contar. Comentem entre vocês, tomem a risada se quiserem, façam o que lhes agrade, mas só entre Vós".


Enquanto falávamos aquele personagem e eu sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:


— Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?


Não, não — me respondiam os jovens —, está muito boa.


Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra.


Eu não sabia quedar em paz, porque apesar daquele espetáculo, cada vez era major o número de quantos jovens comiam daquelas carnes. Eu gritava ao um e ao outro; dava bofetadas a este, um murro a aquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que nenhum comesse aquela carne. Minha ordem não obteve o efeito desejado, mas sim que alguns dos mesmos clérigos ficaram também a comer as carnes da serpente caindo ao chão ao igual dos outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor a um tão grande número de moços tendidos pelo chão no mais miserável dos estados.


Voltei-me então para desconhecido e disse-lhe:


— Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte, e com todo a comem.


— Qual é a causa?


Ele respondeu-me:


—Já sabes que animalis homo non pércipit ea quae Dei sunt. (Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus)


— Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?


— Sim que o há.


— E qual seria?


— Não há outro mais que a bigorna e o martelo.


— A bigorna? O martelo? E como terá que empregá-los?


— Terá que submeter aos jovens à ação de ambos os instrumentos.


— Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e logo golpeá-los com o martelo?


Então meu companheiro, explicando seu pensamento, disse:


— Olhe: o martelo significa a Confissão; a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois médios.


Pus mãos à obra e comprovei que eram os indicados, remédios eficacíssimos, embora para alguns resultassem inúteis; tais eram os que não faziam boas confissões.


A confissão e a comunhão como meios para nossa perseverança e salvação eterna


"Quando os jovens retiraram-se aos dormitórios — continua Dom Provera— perguntei a (São) João Dom Bosco por que suas ordens aos clérigos de que impedissem aos jovens comer as carnes da serpente não tinham conseguido o efeito desejado.


O servo de Deus respondeu-me:


— Não todos obedeceram; pelo contrário, vi alguns dos clérigos, como já disse, comer também daquelas carnes".


Estes sonhos — continua Dom Lemoyne — representam em resumidas contas a realidade da vida. Com as palavras e com os fatos (São) Dom Bosco reflete a realidade da vida, o estado de uma comunidade em que em meio de grandes virtudes, também existem misérias humanas. E não terá que maravilhar-se disso, quanto mais que o vício por sua própria natureza tende a expandir-se mais que a virtude, daqui a necessidade de uma vigilância contínua.


Alguém poderá objetar que teria sido mais conveniente atenuar ou omitir algumas descrições um tanto irritantes; mas nosso parecer não é o mesmo.


Se a história tiver que cumprir seu nobre ofício de mestra da vida, deve descrever o passado tal e como foi em realidade, para que as gerações futuras possam animar-se ante o exemplo do ardor e da virtude dos que lhes precederam e, ao mesmo tempo, conhecer suas faltas e enganos deduzindo deles a prudência com que devem regular os próprios atos.


Uma narração que só apresentasse um lado da realidade histórica conduziria irremediavelmente a um falso conceito da mesma. Enganos e defeitos cometidos repetidas vezes, ao não ser reconhecidos como tais, voltarão a ser causa de novas transgressões sem grande esperança de emenda. Uma mal entendida apologia, de nada serve aos benévolos, nem converte aos mal dispostos; em troca, uma franqueza ilimitada engendra crédito e confiança.


Portanto, nós, ao expor nossa maneira de pensar, diremos, além disso, que (São) João Dom Bosco deu do sonho as explicações mais adequadas às inteligências dos jovens, deixando entrever outras de não menor importância, não as apresentando com toda claridade, porque não acreditou que era chegado o momento oportuno para fazê-lo. Em efeito: nos sonhos vêem que o (Santo) fala não somente do presente, mas também do futuro longínquo, como acontece no (sonho) da roda e em outros que iremos expondo.


As carnes podres do monstro não poderiam significar o escândalo que faz perder a fé; a leitura dos livros imorais, irreligiosos? O que indicam a queda ao chão, o inchaço, a dureza dos membros, a não ser a desobediência ao superior, a soberba, a obstinação no mal, a malícia?


O veneno é o mesmo com que poluiu aquela comida maldita o dragão descrito por Jó no capítulo XLI, que asseguram os Santos Pais ser figura de Lúcifer. O versículo 15 de dito capítulo, diz assim:"Seu coração é duro como a pedra, sólido como a mó fixa de um moinho". E nisso transformasse o coração dos miseráveis envenenados, dos rebeldes obstinados no mal.


E qual será o remédio contra tal dureza? (São) João Dom Bosco emprega um símbolo um tanto escuro, mas que em substância assinala um remédio sobrenatural. Ocorre-nos esta explicação: É necessário que a graça santificante, obtida mediante a oração e com os sacrifícios dos bons, acenda os corações endurecidos e os faça maleáveis; que os dois Sacramentos, isto é, o martelo da humildade (confissão) e a bigorna da Eucaristia sobre o qual o ferro recebe uma forma decisiva, artística, para que depois de ser temperada, possa exercer sua eficácia divina. Que o martelo que golpeia e a bigorna que sustenta concorram a realizar a obra que em nosso caso não é outra que a reforma do coração enfermo, mas dócil ao mesmo tempo. Será então quando este, rodeado de um nimbo de esplêndidos raios de luz, volte a ser o que fora em outro tempo.
(M. B. Volume VII, págs. 238-239)

Mamma Margarida; a virtuosa mãe de São João Bosco — 1860

Era 25 de novembro de 1856.

Aquela manhã os jovens do Oratório, após o despertar, inteiraram-se da terrível noticia: Mamãe Margarida tinha morrido! Alguns não o queriam acreditar. Era uma desgraça que lhes tocava tão de cheio! O que poderiam fazer sem ela?

São João Bosco tinha os olhos avermelhados. Não parecia o mesmo... Quanto devia ter chorado!

Um grupo de jovenzinhos se aproximou do bom Pai. Necessitava que o animassem e tentava animar a outros. Muitos daqueles moços choravam. São João Bosco disse algumas palavras de consolo aos que lhe rodeavam:

—perdemos a nossa Mãe! Mas estou seguro de que agora nos ajudará do Paraíso. Era uma Santa! Minha mãe era uma Santa!

"São João Bosco —afligido pela dor— depois dos funerais de sua mãe, dirigiu-se a sua casa, sendo hospedado por seu amigo o cônego Rosaz, que lhe tinha brindado, em tão doloroso transe, o alívio de sua companhia. Mas não se deteve com ele mais que um dia, e ao retornar ao Turim, continuou rezando fervorosamente e fazendo rezar muito pela alma de sua mãe. Dela falava sempre com afeto filial, fazendo ressaltar, tanto em público como em privado, suas grandes virtudes. Dispôs que um de seus sacerdotes anotasse os fatos edificantes de sua vida e os publicasse em sua lembrança, para edificação de todos.

Nos últimos anos de sua vida, São João Bosco dava amostras do vivo que se conservava em seu coração o amor para sua mãe, pois ao evocá-la chorava de emoção e os que lhe assistiam de noite recordavam que em seus sonhos, com freqüência lhe ouvia chamar à mãe.

Várias vezes a viu em sonhos; sonhos que ficaram profundamente gravados em sua mente e que às vezes nos narrava".

No mês de agosto de 1860, pareceu-lhe encontrá-la perto do Santuário da Consolata, perto do Convento da Santa Ana, na mesma esquina da rua, enquanto ele retornava ao Oratório. Seu aspecto era muito belo.

— Como? Você aqui?, — disse-lhe São João Bosco —. Mas não morrestes?
— morri, mas vivo — replicou Margarida—.
— E é feliz?
— Felicíssima.

São João Bosco, depois de algumas outras coisas, perguntou-lhe se tinha ido ao Paraíso imediatamente depois de sua morte. Margarida respondeu que não. Depois quis que lhe dissesse se no Paraíso estavam alguns jovens cujos nomes indicou-lhe, respondendo Margarida afirmativamente.

— E agora me diga — continuou São João Bosco —, como é a felicidade no Paraíso?
— Embora te dissesse não o compreenderias.
—me dê ao menos uma prova de sua felicidade. Faça-me sequer saborear uma gota dela.

Então viu sua mãe toda resplandecente, adornada com uma preciosa vestimenta, com um aspecto de maravilhosa majestade e seguida de um coro numeroso. Margarida começou a cantar. Seu canto de amor de Deus, de uma inefável doçura, inundava o coração de encanto elevando-o brandamente às alturas. Era uma harmonia expressa como que por milhares e milhares de vozes que faziam incontáveis modulações, das mais graves e profundas, até as mais altas e agudas, com uma variedade de tonalidades e vibrações, das mais fortes até as quase imperceptíveis, combinadas com uma arte e delicadeza tal que conseguiam formar um conjunto maravilhoso.

São João Bosco, ao perceber aquelas finíssimas melodias, ficou tão encantado que lhe pareceu estar como fora de si, e já não soube o que dizer nem o que perguntar a sua mãe.

Quando teve terminado o canto, Margarida se voltou para seu filho dizendo-lhe:

— Espero-te no Paraíso, porque nós dois temos que estar sempre juntos.

Proferidas estas palavras, desapareceu.
(M. B. Tomo V, págs. 567-568)

Os Sonhos de São João Bosco


Lê-se no Livro do Profeta Daniel — escreve Dom Lemoyne — no Capítulo I, versículo 17, que quatro jovens de famílias nobres que tinham sido levados escravos de Jerusalém à Babilônia pelo Rei Nabucodonosor, como permanecessem fiéis às leis do Senhor, pueris his dedit Deus scientiam et disciplinam in omni libero et sapientia; Danieli autem intelligentiam omnium visionum et somniorum. (A esses quatro jovens, Deus concedeu talento e saber no domínio das letras e das ciências. Daniel era particularmente entendido na interpretação de visões e sonhos).

Daniel recebeu de Deus a graça de saber distinguir os sonhos inspirados pelo Senhor dos que eram acidentais e fortuitos e de conhecer o que Deus queria lhe dizer neles.

Tal, e pelo mesmo motivo, foi a graça que o céu concedeu a (São) João Dom Bosco, com os sonhos que até aqui narramos; como também evidentemente, segundo nosso parecer, com o que seguidamente vamos expor e que foi narrado pelo (Santo) na noite de 22 de outubro de 1864.

(São) João Dom Bosco tinha sonhado a noite precedente. Ao mesmo tempo, um jovem chamado C... E..., de Casa de campo Monferrato, teve também o mesmo sonho, parecendo-lhe que se encontrava com (São) João Dom Bosco e que falava com ele. Ao levantar-se estava tão impressionado que foi contar quanto tinha sonhado a seu professor, o qual aconselhou-lhe que se entrevistasse com o (Santo). O jovem obedeceu imediatamente e se encontrou com (São) João Dom Bosco que baixava as escadas em sua busca para fazer o mesmo.


Pareceu-lhe encontrar-se em um muito extenso vale ocupado por milhares e milhares de jovenzinhos; tantos eram, que o (Santo) não acreditou que houvesse tantos moços no mundo. Entre aqueles jovens viu os que estiveram e aos que estão na casa e aos que um dia estariam nela. Mesclados com eles estavam os sacerdotes e os clérigos da mesma.

Uma montanha muito alta fechava aquele vale por um lado. Enquanto (São) João Dom Bosco pensava no que faria com aqueles moços, uma voz disse-lhe:

— Vês aquela montanha? Pois bem, é necessário que você e os teus ganhem sua cima.

Então, ele deu ordem a todas aquelas turbas de encaminhar-se ao lugar indicado. Os jovens ficaram em marcha e começaram a escalar a montanha a toda pressa. Os sacerdotes da casa corriam diante animando aos moços à ascensão, levantavam os cansados e carregavam sobre suas costas aos que não podiam prosseguir a causa do cansaço. (São) João Dom Bosco, com as mangas da batina arregaçados, trabalhava mais que nenhum e tomando aos moços de dois em dois os lançava pelo ar em direção à montanha, sobre a qual caíam de pé, brincando de correr depois alegremente por uma e outra parte.

Dom Cagliero e Dom Francesia percorriam as filas gritando:

— Animo, adiante! Adiante; ânimo!

Em pouco mais de uma hora aqueles numerosos grupos de jovens tinham alcançado a cúpula: (São) João Dom Bosco também tinha ganho a meta.

— E agora o que faremos? — disse.

E a voz acrescentou:

— Deves percorrer com teus jovens essas dez colinas que contemplas diante de ti, dispostas uma após a outra.

— Mas como poderemos suportar uma viagem tão longa, com tantos jovens tão pequenos e tão delicados?

— Quem não possa servir-se de seus pés, será transportado — lhe respondeu —.

E eis aqui que, em efeito, aparece por um extremo da colina uma magnífica carruagem. Tão formosa era que resultaria impossível descrevê-la, mas algo se pode dizer. Tinha forma triangular e estava dotada de três rodas que se moviam em todas direções. Dos três ângulos partiam três hastes que se uniam em um ponto sobre a mesma carruagem formando como o teto de uma parreira. Sobre o ponto de união levantava-se um magnífico estandarte no qual estava escrito com caracteres cubitais, esta palavra: INOCÊNCIA. Uma franja corria ao redor de toda a carruagem formando uma orla e na qual aparecia a seguinte inscrição: Adjutorio Dei Altissimi Patris et Filii et Spiritus Sancti.

O veículo, que resplandecia como o ouro e que estava guarnecido de pedras preciosas, avançou chegando a colocar-se em meio dos jovens. Depois de recebida uma ordem, muitos meninos subiram a ele. Seu número era de uns quinhentos. Apenas quinhentos entre tantos milhares e milhares de jovens, eram inocentes!

Um vez ocupado o carro, (São) João Dom Bosco pensava por que caminho teria que dirigir-se, quando viu ante sua vista uma larga e cômoda caminho, semeada ao mesmo tempo de espinhos. Em instantes apareceram seis jovens que tinham morrido no Oratório, vestidos de branco e hasteando uma muito formoso bandeira em que se lia: POENUENTIA (?). Estes foram colocar se à cabeça de todas aquelas falanges de moços que tinham que continuar a viagem a pé.

Seguidamente se deu o sinal de partida. Muitos sacerdotes se lançaram ao varal da carruagem, que começou a mover-se atirado por eles. Os seis jovens vestidos de branco seguiram-lhes. Detrás ia toda a multidão dos moços. Acompanhados de uma música muito formosa e indescritível; os que foram na carruagem entoaram o te Sentencie, pueri, Dominum.

(São) João Dom Bosco prosseguia seu caminho como embriagado por aquela melodia do céu, quando lhe ocorreu olhar para trás para comprovar se todos os jovens lhe seguiam. Mas oh doloroso espetáculo! Muitos tinham ficado no vale e outros muitos tornaram para atrás. Presa de inexprimível dor decidiu refazer o caminho já feito para persuadir a aqueles insensatos de que continuassem na empresa e para ajudá-los a segui-lo. Mas lhe foi negado categoricamente.

— Se não os ajudar, estes pobrezinhos perder-se-ão — exclamou cheio de dor.

— Pior para eles, — foi respondido —. Foram chamados como outros e não quiseram te seguir. Conhecem o caminho que terás que percorrer e isso basta.

(São) João Dom Bosco quis replicar; rogou, insistiu, mas tudo foi inútil.

— Também você tem que praticar a obediência — lhe disse.

E sem dizer mais, prosseguiu seu caminho.

Incluso no se tinha refeito desta dor, quando aconteceu outro lamentável incidente.

Muitos dos jovens que se encontravam na carruagem, pouco a pouco, tinham caído da carruagem. Dos quinhentos apenas se ficavam cento e cinqüenta sob o estandarte da inocência.

A (São) João Dom Bosco parecia-lhe que o coração lhe ia estalar no peito por aquela insuportável angustia. Abrigava, contudo, a esperança de que aquilo fosse somente um sonho; fazia toda classe de esforços para despertar, mas cada vez se convencia mais de que sei tratava de uma terrível realidade. Batia palmas e ouvia o ruído produzido por suas mãos: gemia e percebia seus gemidos ressonando na habitação; queria dissipar aquele terrível pesadelo e não podia.

— Ah, meus queridos jovens! — exclamou ao chegar a este ponto da narração do sonho. Eu vi e reconheci aos que ficaram no vale; aos que voltaram atrás e aos que caíram da carruagem. Reconheci-os a todos. Mas não duvidem que farei toda sorte de esforços a meu alcance para salvá-los. Muitos de Vós por mim convidados a que se confessassem, não responderam a minha chamada. Por caridade, salvem suas almas.

Muitos dos jovenzinhos que caíram do carro foram colocar-se pouco a pouco entre as filas dos que caminhavam detrás da segunda bandeira.

Enquanto isso, a música do carro continuava, sendo tão doce, que a dor de (São) João Dom Bosco foi desaparecendo.

Tínhamos passado já sete colinas e ao chegar à oitava, a multidão de jovens chegou a um muito belo povoado no qual descansaram. As casas eram de uma riqueza e de uma beleza indescritíveis.

Ao falar com os jovens sobre aquele lugar, exclamou:

— Dir-lhes-ei com a Santa Teresa o que ela afirmou das coisas do Paraíso: são coisas que se se falar delas perdem valor, porque são tão belas que é inútil esforçar-se em descrever. Portanto, só acrescentarei que as colunas daquelas casas pareciam de ouro, de cristal e de diamante ao mesmo tempo, de forma que produziam uma grata impressão, saciavam à vista e infundiam um gozo extraordinário. Os campos estavam repletos de árvores em cujos ramos apareciam, ao mesmo tempo, flores, gemas, frutos amadurecidos e frutos verdes. Era um espetáculo encantador.

Os jovenzinhos se esparramaram por toda parte; atraídos uns por uma coisa, outros por outra, e desejosos ao mesmo tempo de provar aquelas frutas.

Foi neste povoado onde o jovem de que falamos, encontrou-se com (São) João Dom Bosco, tendo com ele um prolongado diálogo. Ambos recordavam depois as perguntas e respostas da conversação que tinham mantido. Singular combinação de dois sonhos!

(São) João Dom Bosco experimentou aqui outra estranha surpresa. Viu de repente a seus jovens como se tornavam velhos; sem dentes, com o rosto cheio de rugas, com os cabelos brancos; encurvados, caminhando com dificuldade, apoiados em bengalas. O servo de Deus estava maravilhado daquela metamorfose, mas a voz disse-lhe:

— Você se maravilha; mas tem que saber que não faz horas que saiu do vale, mas anos e anos. Foi a música a que tem feito que o caminho te parecesse curto. Em prova do que te digo, observa tua fisionomia e te convencerás de que te estou dizendo a verdade.

Então a (São) João Dom Bosco foi apresentado um espelho. Olhou-se nele e comprovou que seu aspecto era o de um homem ancião, de rosto coberto de rugas e de boca desdentada.

A comitiva, enquanto isso, voltou a ficar em marcha e os jovens manifestavam desejos de quando em quando de deter-se para contemplar algumas costumes que eram para eles completamente novas. Mas (São) João Dom Bosco lhes dizia:

— Adiante, adiante, não necessitamos de nada; não temos fome, não temos sede, portanto, prossigamos adiante.

Ao fundo, ao longe, sobre a décima colina despontava uma luz que ia sempre em aumento, como se saísse de uma maravilhosa porta. Voltou a ouvir-se novamente o canto, tão harmonioso, que somente no Paraíso pode-se ouvir e gostar de uma coisa igual. Não era uma música instrumental, mas sim mas bem produzida por vozes humanas. Era algo impossível de descrever, e tanto foi o júbilo que inundou a alma de (São) João Dom Bosco, que despertou encontrando-se no leito.

Eis aqui a explicação que o [Santo] fez do sonho.

— O vale é o mundo. A montanha, os obstáculos que impedem de nos separar dele. A carruagem, vocês entendem (a inocência). Os grupos de jovens a pé, são os que, perdida a inocência, arrependeram-se de seus pecados.

(São) João Dom Bosco acrescentou também que as dez colinas representavam os dez Mandamentos da Lei de Deus, cuja observância conduz à vida eterna.


Depois acrescentou que se havia necessidade disso estava disposto a dizer confidencialmente a alguns jovens o papel que desempenhavam no sonho, se ficaram no vale ou se caíram da carruagem.

Ao baixar (São) João Dom Bosco da tribuna, o aluno Antonio Ferraris se aproximou dele e lhe contou diante de nós, que ouvimos suas palavras, que na noite anterior tinha sonhado que se encontrava em companhia de sua mãe, a qual lhe tinha perguntado se para a festa de Páscoa iria casa a passar uns dias de férias, e que ele havia dito que antes de dita data teria voado ao Paraíso... Depois, confidencialmente disse algumas palavras ao ouvido de (São) João Dom Bosco. Antonio Ferraris morreu em 16 de março de 1865.

Nós — continua Dom Lemoyne — escrevemos o sonho imediatamente e a mesma noite de 22 de outubro de 1864, acrescentamos-lhe ao final a seguinte adendo: "Tenho a segurança de que (São) João Dom Bosco em suas explicações procurou velar o que o sonho tem de mais surpreendente, ao menos respeito a algumas circunstâncias. A explicação dos dez Mandamentos não me satisfaz. A oitava colina sobre a qual (São) João Dom Bosco faz uma parada e o contemplar-se no espelho tão ancião, acredito que quer indicar que o [Santo] morreria passados os setenta anos. O futuro falará".

Este tempo aconteceu e nós temos que ratificar nossa opinião. O sonho indicava a (São) João Dom Bosco a duração de sua vida. Confrontemos com este o (sonho) da Roda, que só pudemos conhecer alguns anos depois.

As voltas da roda procedem por decênios: avança-se de uma a outra colina de dez em dez anos. As colinas são dez, representando uns cem anos que é o máximo da vida do homem.

No primeiro decênio vemos (São) João Dom Bosco, ainda menino, começando sua missão entre seus companheiros do Bechi, dando assim principio a sua viagem; depois comprovamos como percorre sete colinas, isto é, sete decênios, chegando, portanto, aos setenta anos de idade; sobe à oitava colina e nela descansa: contempla casas e campos maravilhosos, ou melhor dizendo, sua Pia Sociedade, que cresceu e produziu frutos pela bondade infinita de Deus. O caminho a percorrer na oitava colina é ainda largo e o (Santo) empreende a marcha; mas não chega à novena colina porque acordada antes. E assim finalizou sua carreira no oitavo decênio, pois morreu aos setenta e dois anos e cinco meses de idade.

O que opina o leitor de tudo isto? Acrescentaremos que a noite seguinte, havendo-nos perguntado (São) João Dom Bosco a nós mesmos, qual era nosso pensamento sobre este sonho, respondemos-lhe que nos parecia que não se referia somente aos jovens, mas sim também queria significar a dilatação da Pia Sociedade (Salesiana) por todo mundo.

Mas como? — replicou um de nossos irmãos —; temos já Colégios no Mirabello e em Lanço e se abrirá algum outro mais no Piamonte. Que mais quer?

— São muito diferentes os destinos anunciados pelo sonho — dissemos.

E (São) João Dom Bosco aprovava sorridente nossa opinião.
(M. B. Volume VII, págs. 796-800)

Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios


Sempre trabalhei com amor

Das cartas de São João Bosco, presbítero




Antes de mais nada, se queremos ser amigos do verdadeiro bem de nossos alunos e levá-los ao cumprimento de seus deveres, é indispensável jamais vos esquecerdes de que representais os pais desta querida juventude. Ela foi sempre o terno objeto dos meus trabalhos, dos meus estudos e do meu ministério sacerdotal; não apenas meu, mas da cara da congregação salesiana.

Quantas vezes, meus filhinhos, no decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança que persuadi-la. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e suavidade.

Tomai cuidado para que ninguém vos julgue dominados por um ímpeto de violenta indignação. É muito difícil, quando se castiga, conservar aquela calma tão necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou descarregar o próprio mau humor.

Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo poder. Ponhamo-nos a seu serviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos.

Assim procedia Jesus com seus apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais que em alguns causava espanto, outros escândalo, mas em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos dele a ser mansos e humildes de coração.

Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda cólera quando devemos corrigir-lhes as faltas ou, pelo menos, a moderemos de tal modo que pareça totalmente dominada.

Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; então sereis verdadeiros pais e conseguireis uma verdadeira correção.

Em determinados momentos muito graves, vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante ele, do que uma tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não têm proveito algum para quem as merece.


Ofício das Leituras
Das cartas de São João Bosco, presbítero
(Epistolario, Torino 1959, 4, 201-203 – Sec. XIX)

Dom Bosco escreve aos Jovens


Dom Bosco escreve aos Jovens




''O demônio tem normalmente duas artimanhas principais para afastar da virtude os jovens.

A primeira consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste sem nenhum divertimento nem prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Eu vou lhes indicar um plano de vida cristã que poderá mantê-los alegres e contentes, fazendo-os conhecer ao mesmo tempo quais são os verdadeiros divertimentos e os verdadeiros prazeres, para que vocês possam exclamar com o santo profeta Davi: “Sirvamos ao Senhor na santa alegria''.

A segunda artimanha do demônio consiste em fazê-los conceber uma falsa esperança duma longa vida que permite converter-se na velhice ou na hora da morte. Prestem atenção, meus caros jovens, muitos se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante chegaremos à velhice? Se se tratasse de fazer um pacto com a morte e de esperar até então... Mas a vida e a morte estão entre as mãos de Deus que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo se Deus lhes concedesse uma longa vida, escutai, entretanto, sua advertência: “o caminho do homem começa na juventude, ele o segue na velhice até a morte”. Ou seja, se, jovens, começamos uma vida exemplar, seremos exemplares na idade adulta, nossa morte será santa e nos fará entrar na felicidade eterna.

Se, pelo contrário, os vícios começam a nos dominar desde a juventude, é muito provável que eles nos manterão em escravidão toda a nossa vida até a morte, triste prelúdio a uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não lhes aconteça, eu lhes apresente um método vida alegre e fácil, mas que lhes bastará para se tornarem a consolação de seus pais, a honra de pátria de vocês, bom cidadãos da terra, em seguida felizes habitantes do céu...

Meus caros jovens, eu os amo de todo o meu coração e basta-me que vocês sejam para que eu os ame extraordinariamente. Eu lhes garanto que vocês encontrarão livros que lhes foram dirigidos por pessoas mais virtuosas e mais sábias que em muitos pontos, mas dificilmente vocês poderão encontrar algum que o ame mais que eu em Jesus Cristo e deseja mais a felicidade de vocês.

Conservem no coração o tesouro da virtude, porque possuindo-o vocês têm tudo, mas se o perderem, vocês se tornarão os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre com vocês e que Ele lhes conceda seguir os simples conselhos presentes, para que vocês possam aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu lhes dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que os cumule de bens celestes aqui e por toda a eternidade.

Vivam contentes e que o Senhor esteja com vocês. Seu muito afeiçoado em Jesus Cristo''.


Dom Bosco, presbítero

Joãozinho Bosco, Padre dos Jovens


DOM BOSCO: Padre dos Jovens

Joãozinho Bosco nasceu em 16 de agosto de 1815 numa pequena fração de Castelnuovo D’Asti, no Piemonte (Itália), chamada popularmente de “os Becchi”.

Ainda criança, a morte do pai fez com que experimentasse a dor de tantos pobres órfãos dos quais se fará pai amoroso. Em Mamãe Margarida, porém, teve um exemplo de vida cristã que marcou profundamente o seu espírito.

Aos nove anos teve um sonho profético: pareceu-lhe estar no meio de uma multidão de crianças ocupadas em brincar; algumas delas, porém, proferiam blasfêmias. Joãozinho lançou-se, então, sobre os blasfemadores com socos e ponta-pés para fazê-los calar; eis, contudo, que se apresenta um Personagem dizendo-lhe: “Deverás ganhar estes teus amigos não com bastonadas, mas com a bondade e o amor... Eu te darei a Mestra sob cuja orientação podes ser sábio, e sem a qual, qualquer sabedoria torna-se estultícia”. O Personagem era Jesus e a Mestra Maria Santíssima, sob cuja orientação se abandonou por toda a vida e a quem honrou com o título de “Auxiliadora dos Cristãos”.

Foi assim que João quis aprender a ser saltimbanco, prestidigitador, cantor, malabarista, para poder atrair a si os companheiros e mantê-los longe do pecado. “Se estão comigo, dizia à mãe, não falam mal”. Desejando fazer-se padre para dedicar-se totalmente à salvação das crianças, enquanto trabalhava de dia, passava as noites sobre os livros, até que, aos vinte anos, pode entrar no Seminário de Chieri e, em 1841, ser ordenado Sacerdote em Turim, aos vinte e seis anos. Turim, naqueles tempos, estava cheia de jovens pobres em busca de trabalho, órfãos ou abandonados, expostos a muitos perigos para alma e para o corpo. Dom Bosco começou a reuni-los aos domingos, às vezes numa igreja, outras num prado, ou ainda numa praça para fazê-los brincar e instruí-los no Catecismo até que, após cinco anos de grandes dificuldades, conseguiu estabelecer-se no bairro periférico de Valdocco e abrir o seu primeiro Oratório.

Os garotos encontravam aí alimento e moradia, estudavam ou aprendiam uma profissão, mas sobretudo aprendiam a amar o Senhor: São Domingos Sávio era um deles. Dom Bosco era amado incrivelmente pelos seus “molequinhos” (como os chamava). A quem lhe perguntava o segredo de tanta ascendência, respondia: “Com a bondade e o amor, eu procuro ganhar estes meus amigos para o Senhor”. Sacrificou por eles seu pouco dinheiro, seu tempo, seu engenho, que era agudíssimo, sua própria saúde. Com eles se fez santo. Para eles fundou a Congregação Salesiana, formada por sacerdotes e leigos que querem continuar a sua obra e à qual deu como “finalidade principal apoiar e defender a autoridade do Papa”.

Querendo estender o seu apostolado também às meninas, fundou, com Santa Maria Domingas Mazzarello, a Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora. Os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora espalharam-se pelo mundo todo a serviço dos jovens, dos pobres e dos que sofrem, com escolas de todos os tipos e graus, institutos técnicos e profissionais, hospitais, dispensários, oratórios e paróquias. Dedicou todo o seu tempo livre subtraído, muitas vezes, ao sono, para escrever e divulgar opúsculos fáceis para a instrução cristã do povo.

Foi, além de um homem de caridade operosa, um místico entre os maiores. Toda a sua obra foi haurida na união íntima com Deus que, desde jovem, cultivou zelosamente e desenvolveu no abandono filial e fiel ao plano que Deus tinha predisposto para ele, guiado passo a passo por Maria Santíssima, que foi a Inspiradora e a Guia de toda a sua ação.

Sua perfeita união com Deus foi, talvez como em poucos Santos, unida a uma humanidade entre as mais ricas pela bondade, inteligência e equilíbrio, à qual se acrescenta o valor de um conhecimento excepcional do espírito, amadurecido nas longas horas passadas todos os dias no ministério das confissões, na adoração ao Santíssimo Sacramento e no contato contínuo com os jovens e com pessoas de todas as idades e condições.

Dom Bosco formou gerações de santos porque levou os seus jovens ao amor de Deus, à realidade da morte, do julgamento de Deus, do Inferno eterno, da necessidade de rezar, de fugir do pecado e das ocasiões que levam a pecar, e de aproximar-se freqüentemente dos Sacramentos.

“Meus caros, eu vos amo de todo o coração, e basta que sejais jovens para que vos ame muitíssimo”. Amava de tal forma que cada um pensava ser o predileto.

“Encontrareis escritores muito mais virtuosos e doutos do que eu, mas dificilmente podereis encontrar alguém que vos ame mais em Jesus Cristo, e mais do que eu deseje a vossa verdadeira felicidade”.

Extenuado em suas forças pelo incessante trabalho, adoentou-se gravemente. Particular comovente: muitos jovens ofereceram ao Senhor a própria vida por ele. “... Aquilo que fiz, eu o fiz para o Senhor... Poder-se-ia ter feito mais... Mas os meus filhos o farão... A nossa Congregação é conduzida por Deus e protegida por Maria Auxiliadora”.

Uma de suas recomendações foi esta: “Dizei aos jovens que os espero no Paraíso...”. Expirava em 31 de janeiro de 1888, em seu pobre quartinho de Valdocco, aos 72 anos de idade. Em 1º de Abril de 1934, foi proclamado santo pelo papa Pio XI, que teve a felicidade de conhecê-lo.

Seguidores